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Projeto de tarifa recíproca de Trump pode levar a retrocesso histórico nas relações comerciais

12/02/2025 12h48

O projeto de Donald Trump de criar tarifas alfandegárias recíprocas, aparentemente o próximo passo do republicano depois de impor sobretaxas às importações de aço e alumínio, vai na contramão dos resultados obtidos em todas as negociações internacionais que ocorreram após a Segunda Guerra Mundial no âmbito do GATT e da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo especialistas, Trump irá desconstruir medidas que permitiram tornar a economia mundial mais forte e resiliente. 

Os ministros do Comércio da União Europeia se reúnem nesta quarta-feira (12) para discutir uma resposta "firme" que o bloco pretende adotar, assim que as chamadas "barreiras recíprocas" forem anunciadas por Trump. De acordo com o diário econômico francês Les Echos, o presidente americano deve focar nos próximos dias em produtos como veículos, remédios e semicondutores. 

Trump alega que seu objetivo é tornar o comércio internacional "mais justo". Para isso, ele quer aplicar o mesmo nível de taxas alfandegárias que os parceiros comerciais dos Estados Unidos adotam quando importam produtos americanos para seu território. O sistema é simples: se a União Europeia tributa as importações de automóveis americanos em uma média de 5%, enquanto os Estados Unidos tributam os veículos europeus em uma média de apenas 3,4%, o jogo é injusto aos olhos do presidente americano.

Em Davos, em janeiro, a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo Iweala, alertou: "Se houver uma retaliação produto por produto, voltaremos para onde estávamos na década de 1930, e veremos perdas de dois dígitos no PIB global". "Será uma catástrofe", acrescentou.

Coreia do Sul e Reino Unido preferiram esperar, como o Brasil

Diferentemente do Brasil, que acredita que os Estados Unidos vão acabar flexibilizando a decisão de adotar sobretaxas de 25% ao aço e ao alumínio a partir de 12 de março, a imprensa francesa considera que a guerra comercial iniciada por Trump será mundial e afetará o comércio com a maioria dos países, à exceção de uma ou outra nação.

Entre os países que podem escapar do apetite do republicano, Les Echos cita a Austrália e o Japão. Os australianos poderiam ser poupados temporariamente porque Washington já registra um importante excedente comercial com Camberra, enquanto o Japão marcou um ponto com Trump no fim de semana, depois que o grupo siderúrgico Nippon Steel anunciou um investimento significativo em território americano. 

O Les Echos nota que a Coreia do Sul e o Reino Unido evitaram condenar as tarifas unilaterais de Washington, preferindo apostar na mesma estratégia brasileira de deixar a poeira baixar e tentar restabelecer, por meio de contatos diplomáticos, acordos de cotas, como aconteceu no primeiro mandato de Trump.

A reportagem observa, no entanto, que as sobretaxas adotadas em 2018 empobreceram os Estados Unidos, o que não está impedindo que Trump volte a bater na mesma tecla e ainda com mais força.

Segundo avaliação da agência de classificação de risco Fitch, as barreiras comerciais de Trump irão provocar uma desaceleração do crescimento nos Estados Unidos. As tarifas recíprocas que ele promete anunciar têm potencial para causar grandes danos à economia mundial, de acordo com vários economistas ouvidos pela imprensa francesa. 

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