Neta Aya terá vida difícil contra BYD Dolphin e cia; veja impressões

A missão do Neta Aya é árdua. O carrinho elétrico da novata marca chinesa vai participar de uma verdadeira corrida com obstáculos no Brasil. A primeira, claro, é a origem. Apesar de a cada dia as barreiras contra os veículos chineses serem derrubadas, ainda há aqueles que insistem em as levantar. O segundo é se provar como produto, custo-benefício e pós-vendas a fim de se tornar uma opção para o público.
Por fim, o obstáculo mais alto: a concorrência. O Aya, hoje, rivaliza com nada menos que o 'Usain Bolt' dos carros elétricos, o BYD Dolphin Mini, campeão do segmento. E outros atletas estão aquecendo, como o recém-mostrado jipinho da Chevrolet. Será que o Aya tem fôlego?
A largada começa bem. O modelo parte de R$ 124.900 na versão de entrada Confort e vai até os R$ 134.900 da Luxury. Fica ali no meio de Dolphin Mini e Dolphin. A diferença entre as opções é que a mais cara traz o pacote de seguranças semiautônomas, o famoso ADAS - tecnologia que o BYD ainda não tem.
Vamos falar do design. Aqui é subjetivo, mas acredito que não é o ponto forte do modelo. O Aya não tem corpo de atleta e parece ter saído de uma prancheta dos anos 2000. O visual é genérico, principalmente a dianteira e os faróis. Atrás, há até uma tentativa de modernidade, com as lanternas integradas por um feixe iluminado.
O formato do carro em geral, no entanto, parece desproporcional. O traço mais antiquado, talvez, seja a luz de seta embutida nos plásticos dos arcos de rodas. O Aya tenta misturar conceitos de hatch e crossover, mas tropeça em ambos.
A estatura, por sua vez, é diminuta. O comprimento de 4,07 metros é bem mais que os 3,78 m do Dolphin Mini e o mesmo de um Dolphin, mas o entre-eixos é de Renault Kwid: 2,42 m — 8 cm a menos que o pequeno golfinho.
O espaço traseiro, no entanto, não parece tão parco. Dependendo do ajuste do banco dos passageiros dianteiros, duas pessoas conseguem se acomodar (sem muito conforto) ali atrás. Chama atenção também a largura de apenas 1,69 m. O Aya não chega a ser um Kwid, mas é bem estreito. Já o porta-malas não é um obstáculo, pois carrega bons 335 litros.
O Neta tem aquele aspecto minimalista dos carros atuais: tela grande e pouquíssimos botões. O volante tem um formato bem legal com o topo e base retos, e até marcação central 12h em outra cor. Já o acabamento passa raspando. Há plásticos por toda parte: console, painel e portas, porém um material diferente aqui e ali, e finalização em dois tons dão um toque mais requintado para a cabine.
A central multimídia, claro, é o destaque. São 14,6" com todas as funções do carro, desde ar-condicionado, até modos de regeneração e condução. A interface é amigável e com poucos minutos dá para entender onde mexer.
Andando as percepções iniciais melhoram um pouco. Isso porque o test-drive em um trajeto de 2 km não dá para tirar muitas conclusões. Mas a primeira é de que a posição de comando é bem alta. Mesmo com o banco na posição mais baixa, o Aya sai da corrida com barreira e me faz parecer ser juiz de tênis.
Já os 95 cv do motor elétrico — 20 cv a mais — que o Dolphin Mini são suficientes para mover o Aya com alguma agilidade na cidade. trocar do modo Eco, onde privilegia a autonomia, para o Esporte, que libera toda potência e torque, dá uma boa diferença. Mas não pense que afundar o pé no acelerador fará você virar um velocista, até porque são apenas 15,3 kgfm de torque.
O trecho do teste, com 90% de retas, não deu para perceber o comportamento dinâmico do Aya, porém a direção não é muito precisa. Já o painel de instrumentos digital é uma barra fina e horizontal acima do volante. É simples, monocromática e traz uma razoável quantidade de informações do carro. Em dias ensolarados, no entanto, pode ser difícil enxergar?
Em termos bateria, a do Aya tem capacidade de 40,7 kWh e gera 263 km, de acordo com o Inmetro. O BYD vai um pouco mais longe: 280 km. Como é uma solução de mobilidade, especialmente para as cidades, a autonomia é condizente para trajetos diários ou até mesmo viagens curtas.
A Neta acaba de abrir sua primeira concessionária no Brasil, que fica no Rio de Janeiro. Uma vendedora me confidenciou que já havia algumas unidades vendidas. Todas do Neta X, SUV elétrico que a fabricante também comercializa por aqui.
O que podemos esperar é que o Aya seja um atleta capaz e profissional. Mas as chances de tropeçar em todas as barreiras e cair no chão, como seu compatriota Seres, é grande.