Lula exagerou na mão ao criticar Ibama, diz ex-ministro do Meio Ambiente
O presidente Lula (PT) passou do ponto nas críticas ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) ao abordar a questão da exploração do petróleo na costa do Amapá, disse Carlos Minc, deputado estadual (PSB-RJ) e ex-ministro do Meio Ambiente, em entrevista ao UOL News nesta quarta (12).
Em entrevista à rádio Diário do Amapá, Lula afirmou que é necessário liberar a Petrobras para pesquisar a exploração de petróleo na costa do estado. O presidente ainda criticou o Ibama ao dizer que o "órgão parece ser contra o governo" por "ficar nesse lenga-lenga". A postura de Lula bate de frente com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva.
Seguramente o Sidônio [Palmeira, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social] não soube disso com antecedência. A Marina é internacionalmente reconhecida. Essa marca do 'Brasil protetor do meio ambiente' não é só uma coisa simbólica.
Hoje, a possibilidade de trazermos recursos para o Fundo Amazônia são muito grandes. Mas como vamos convencer o mundo todo que estamos trabalhando para diminuir a febre planetária comprando uma briga contra uma ministra reconhecida para termos mais petróleo em uma área sensível?
Lula exagerou a mão. Estou acostumado com isso. O presidente Lula sempre fica muito aflito e quer desenvolver. Ele tem a pressão dos governadores do Norte, que têm essa bandeira. Lula não deve entrar em conflito com a Marina, que foi muito correta com ele no segundo turno [das eleições presidenciais de 2022]. Carlos Minc, deputado estadual (PSB-RJ) e ex-ministro do Meio Ambiente
Ministro entre 2008 e 2010, durante o segundo mandato de Lula, Minc discordou das críticas do presidente ao Ibama e afirmou que não se pode "estigmatizar um órgão sério".
Sou amigo do presidente Lula e fiel, mas discordo completa e democraticamente do que ele disse. O Ibama é seríssimo. Conheço muito o escritório de petróleo e gás do Ibama que fica aqui no Rio de Janeiro, embora seja nacional. Todos são doutores da maior competência. Se o Ibama fosse xiita, não haveria o pré-sal.
São duas questões diferentes. Uma é técnica: o Ibama diz que as questões de segurança ambiental não estão resolvidas. A outra é mais estratégica. O Brasil quer ser o grande protagonista ambiental e climático. Será que mais petróleo é realmente o caminho? Falamos de floresta e apostamos no combustível fóssil? Temos que enfrentar democraticamente essa situação sem estigmatizar um órgão sério. Carlos Minc, deputado estadual (PSB-RJ) e ex-ministro do Meio Ambiente
Josias: Lula ecoa discurso de Trump e acotovela Marina sobre petróleo
O presidente Lula (PT) adota um discurso semelhante ao de Donald Trump ao defender a exploração de petróleo no Amapá e bate de frente com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, afirmou o colunista Josias de Souza.
Lula não precisava acotovelar a Marina Silva como fez. Até a primeira-dama Janja já havia visado que seu marido não abriria mão de explorar o petróleo na foz do Amazonas, na costa do Amapá. Em novembro do ano passado, Janja tinha dito algo muito parecido com o que Lula está dizendo agora. Naquela ocasião, parecia que Janja estava se metendo em uma saia-justa com a Marina.
A julgar pelas palavras do Lula, que ecoa a Janja e a presidente da Petrobras [Magda Chambriard], ele não cogita renunciar a esse doce apelo econômico da exploração petrolífera, mesmo que sua ministra considere essa missão incompatível com a retórica climática do Brasil.
Essas declarações do Lula não ornam com o desejo do Brasil de liderar a transição climática. Ao contrário; de certo modo, fica parecendo que Lula está ecoando Donald Trump, que no seu discurso de posse fez aquela célebre declaração 'Drill, baby, drill' ['Perfure, baby, perfure'], dizendo que vai buscar todo o petróleo disponível no subsolo dos EUA.
Trump não quer nem saber desse negócio de transição energética. Mal comparando, Lula está dizendo a mesma coisa. É um discurso que não orna nem com o que Lula disse no ano passado no G20. Josias de Souza, colunista do UOL
Assista ao comentário na íntegra:
O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em duas edições: às 10h, com apresentação de Fabíola Cidral, e às 17h, com Diego Sarza. Aos sábados, o programa é exibido às 11h e 17h, e aos domingos, às 17h.
Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL. O Canal UOL também está disponível na Claro (canal nº 549), Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64), Samsung TV Plus (canal nº 2074) e no UOL Play.
Veja a íntegra do programa: