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"Geração ameaçada", denuncia Anistia Internacional sobre ofensiva contra crianças por gangues armadas no Haiti

12/02/2025 12h37

No Haiti, crianças são vítimas de "recrutamento, ataques e violência sexual" em um contexto de intensificação da violência cometida por gangues neste pequeno país caribenho, denunciou a Anistia Internacional em um relatório publicado nesta quarta-feira (12).

Três formas de violência contra crianças, principalmente por membros de gangues, e classificadas como "violações de direitos humanos" foram identificadas pela ONG: recrutamento e uso de crianças, violência sexual e homicídios e ferimentos.

Segundo estimativas da Anistia Internacional, mais de um milhão de crianças vivem em áreas controladas ou influenciadas por gangues armadas no Haiti, um país assolado por uma grave crise política, humanitária e de segurança.

"Podemos afirmar que há uma verdadeira ofensiva contra a infância no Haiti, atualmente", revela Anne Savinel Barras, presidente da Anistia Internacional França, em entrevista à RFI. "As crianças estão em uma situação de sofrimento generalizado, muitas vidas são destruídas e menores estuprados", continua. "Entrevistamos crianças de 12 a 17 anos, assim como seus parentes e trabalhadores humanitários e evidenciamos a falta de compromisso com direitos elementares", observa Barras. 

"A guerra entre gangues de diferentes bairros leva a ataques deliberados e balas perdidas no meio das casas e dos moradores. As crianças são as primeiras vítimas desses tiros, como podemos constatar entre muitos feridos, seja no corpo, no rosto, sem falar das crianças que foram mortas", acrescenta ela. 

Atraídas por dinheiro, motivadas pela fome

A organização coletou informações sobre 14 crianças haitianas recrutadas por gangues para espionar grupos rivais e a polícia, fazer entregas, realizar tarefas domésticas ou trabalhar: um envolvimento forçado motivado por "fome ou medo".

"Elas são atraídas na rua, enquanto estão brincando, por membros das gangues que oferecem dinheiro", diz a presidente da Anistia Internacional, "seja para fazer pequenos serviços ou ser espiões, correndo risco de vida", denuncia. "Essas crianças temem as milícias dos moradores e também a polícia, uma vez que podem ser consideradas como membros de grupos criminosos. Ou seja, elas têm medo de todos os lados", reporta. 

Sequestros, estupros e agressões sexuais também foram infligidos a meninas, durante ataques a bairros ou após assumir o controle de certas áreas. Das 18 meninas entrevistadas pela Anistia, que foram vítimas de violência sexual, dez foram estupradas em grupo e nove foram sequestradas. Muitas delas engravidaram e recorreram a métodos inseguros para interromper a gravidez, já que o aborto é ilegal no Haiti.

"As meninas podem ser sequestradas na rua, quando vão para a escola ou fazer compras. O ônibus que as leva para a aula pode ser atacado e todas elas serem levadas pelas gangues para prostituição forçadas", conta Barras. "Muitas acabam engravidando e são obrigadas a recorrer a abortos clandestinos", diz a presidente da Anistia Internacional. "É um método sistemático de exploração de meninas a serviço das gangues", completa. "Mas os meninos também são vítimas de recrutamento das gangues para trabalhar no crime", conclui Anne Savinel Barras. 

A violência sexual contra crianças no Haiti já havia sido denunciada pelo Unicef (Fundo da ONU para a infância) em fevereiro. Os dados mostram um aumento de cerca de 1.000% de casos no ano passado, de acordo com o último relatório publicado pelo órgão. O documento também alertava sobre o recrutamento de menores por gangues.

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