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Bolsonarista que matou petista nega motivação política: 'Namorei filiada'

O guarda municipal Marcelo Arruda (esq) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) - Arte/UOL
O guarda municipal Marcelo Arruda (esq) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Arte/UOL
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Do UOL, em São Paulo

11/02/2025 11h51Atualizada em 12/02/2025 22h19

O ex-policial penal Jorge Guaranho, réu por homicídio duplamente qualificado pelo assassinato de Marcelo Arruda, falou nesta quarta-feira (12), no segundo dia do julgamento do crime. Em 9 de julho de 2022, Arruda foi morto por Guaranho enquanto celebrava o aniversário de 50 anos com amigos em Foz do Iguaçu (PR) em uma festa temática do PT.

O que aconteceu

Jorge Guaranho chegou ao local de muletas para segundo dia de julgamento. O réu estava acompanhado dos advogados e não deu declarações à imprensa. Na noite desta quarta, Guaranho respondeu somente perguntas da defesa dele e falou por cerca de duas horas. O segundo dia de júri terminou por volta das 21h20.

Guaranho disse que se arrependeu de cometer o crime e pediu perdão. Ele relatou que foi até o local da festa para brigar com a vítima, mesmo sem saber quem era, e tirar satisfação porque, na primeira ida ao local, Marcelo tinha acertado o olho do filho dele após jogar terra no veículo do acusado. O homem ainda reforçou não se lembrar de detalhes da própria ação.

Réu afirmou que o partido não importaria se Marcelo não tivesse partido para cima dele com a arma de fogo em punho, fazendo com que ele precisasse atirar. "Eu mesmo namorei uma menina que era do Partido dos Trabalhadores", acrescentou, reforçando que o crime foi uma fatalidade e não houve motivação política.

Acusado falou que pensa o tempo todo que os filhos de Marcelo não têm mais pai, mas também declarou que a família dele sofreu com a situação. "Arrependimento vai ser para sempre. Marcelo morreu, eu quase morri."

Além do réu, cinco testemunhas foram ouvidas hoje. A primeira foi Edemir Alexandre Riquelme Gonsalves, tio de Pâmela Silva. Ele comprou a decoração da festa. "Eu não conseguia entender como uma festa de aniversário se tornou um filme de horror, na pior cena que já vi na minha vida", recordou durante o júri.

Júri popular teve início por volta das 11h de ontem. A primeira testemunha ouvida foi Pamela Silva, viúva do tesoureiro do PT Marcelo Arruda. O júri é realizado na Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro Central de Curitiba.

Pamela Silva declarou que ela e o marido não conheciam Guaranho. Segundo a mulher, assim que o ex-policial penal chegou ao local da festa, ela achou que fosse algum convidado. "Quando eu vi a arma eu imediatamente me aproximei, pensei 'meu Deus, o que tá acontecendo aqui?'", afirmou durante o julgamento.

A viúva também detalhou que Marcelo tinha boa relação com pessoas que não gostavam do PT. "Ele tinha 28 anos como guarda municipal e, dentro da corporação, era minoria. As pessoas até se referiam a ele como o PT, o petista, de brincadeira", disse em respostas à promotora de Justiça Ticiane Louise Santana Pereira.

Primeiro dia de júri encerrou por volta das 21h30. Além de Pamela, foram ouvidas outras duas testemunhas e a perita Denise de Oliveira Carneiro Berejuk, responsável por laudos de imagem.

Previsão é de que o júri de Jorge Guaranho dure até quinta-feira (13). A Justiça do Paraná informou que nove testemunhas irão prestar depoimento de forma presencial e online. Foram escolhidos, por sorteio eletrônico, sete jurados, sendo quatro mulheres e três homens.

O julgamento teve início após três adiamentos. Inicialmente, o júri havia sido designado para 7 de dezembro de 2023. Após pedidos da defesa, no entanto, foi adiado para o dia 4 de abril de 2024. Na ocasião, a bancada da defesa abandonou o plenário, impossibilitando a realização do julgamento. Foi designada uma nova data para o júri, agendada para maio de 2024. Mas a defesa ingressou com um pedido de desaforamento em 7 de abril e pediu a mudança de onde seria realizado o julgamento.

Justiça aceitou mudança de endereço do júri. A Justiça do Paraná atendeu ao pedido da defesa do Guaranho para realizar o júri em Curitiba, já que, segundo os advogados, caso fosse sediado em Foz do Iguaçu, onde ocorreu o crime, possibilitaria o risco de parcialidade dos jurados. A juíza que preside o júri popular de Jorge Guaranho é Mychelle Pacheco Cintra Stadler.

Ministério Público do Paraná vai pedir condenação por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e perigo comum. Ao denunciar o ex-policial penal Jorge Guaranho, a Promotoria viu como motivação fútil a "preferência político-partidárias antagônicas dos envolvidos" e disse que o réu colocou a vida de outras pessoas em risco ao atirar.

Segundo a denúncia do MP, Guaranho disse que "petista vai morrer tudo" antes de atirar. A assistência da acusação informou que continua com a plena convicção de que o réu Jorge Guaranho será condenado. "Assim como acreditávamos na absoluta imparcialidade dos jurados de Foz do Iguaçu, também confiamos na imparcialidade, na integridade e no senso de justiça dos jurados de Curitiba", diz nota enviada pelo escritório Botelho e Raffaelli Boito Advocacia, representado pelos advogados Rogério Oscar Botelho e Alessandra Raffaelli Boito.

A defesa de Jorge Guaranho informou que ele foi "injustamente acusado" de assassinato político. "Desde o início, buscamos garantir um julgamento justo, conforme a lei. Estamos preparados para apresentar os fatos de maneira clara e objetiva, longe de narrativas políticas", diz nota enviada pelo advogado Samir Mattar Assad.

Réu cumpre pena em prisão domiciliar

Guaranho teve o pedido habeas corpus deferido em setembro de 2024 e cumpre a pena em prisão domiciliar. O ex-policial penal é monitorado por tornozeleira eletrônica.

Segundo a defesa de Guaranho, a prisão domiciliar foi solicitada para que o réu possa realizar tratamento de saúde. O advogado Samir Mattar Assad ressaltou que a decisão da Corte reconheceu "a urgência no atendimento médico do nosso cliente, que sofreu graves sequelas desde sua prisão".

O advogado afirmou ainda que medida vai preservar a integridade física do cliente. "Jorge Guaranho agora poderá realizar o devido tratamento em sua residência, acompanhado por seus familiares, enquanto segue monitorado eletronicamente. Tal medida visa preservar sua integridade física, assegurando ao mesmo tempo que ele continue à disposição da Justiça", afirmou o defensor.

A assistência de acusação declarou que recebeu decisão da Justiça "com angústia". "A família da vítima já não suporta tamanho sofrimento, seja pela ausência de Marcelo, ou, ainda, por não ver o seu assassino cumprindo pena pelo crime tão brutal que decidiu praticar", diz nota enviada pelo escritório Botelho e Raffaelli Boito Advocacia, representado pelos advogados Rogério Oscar Botelho e Alessandra Raffaelli Boito.

"Sentimento de tristeza" da família. Os advogados Rogério Oscar Botelho e Alessandra Raffaelli Boito acrescentaram ainda que "o que fica, nesta tarde, é o sentimento de muita tristeza por precisar acalmar a família de Marcelo, absolutamente devastada pela notícia. Neste momento, esta assistência de acusação espera que o réu cumpra as condições impostas pelo Tribunal de Justiça e não tente se furtar ao cumprimento de futura pena".

Relembre o caso

Vítima foi morta quando comemorava 50 anos. No dia 9 de julho de 2022, Arruda celebrava o aniversário com amigos em Foz do Iguaçu em uma festa temática do PT —o guarda municipal era eleitor de Lula.

Guaranho invadiu a festa aos gritos de "Bolsonaro" e "mito", segundo relataram testemunhas. O homem ameaçou os presentes e saiu. Depois, ao reencontrar Arruda, atirou no aniversariante, que também estava armado e revidou — mas não sobreviveu.

Arruda era casado e tinha quatro filhos. Ele era diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Foz, tesoureiro do PT municipal e havia sido candidato a vice-prefeito. Era casado e tinha quatro filhos —entre eles uma menina de seis anos e um bebê de apenas um mês.

Defesa descarta motivação política e vai pedir absolvição. Os representantes legais de Guaranho alegam que o policial penal agiu em legítima defesa, já que Arruda estava com a arma em punho quando o atirador invadiu a festa onde ocorreu o crime.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, demitiu o policial penal. Guaranho foi exonerado por três infrações disciplinares. Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública esclareceu que demissão se deu pelo uso de recurso material da repartição em atividade particular, pela prática de ato de improbidade administrativa e pela e incontinência pública. Guaranho usou sua arma profissional para cometer o crime.

Um acordo garantiu o pagamento de indenização à família de Marcelo. Em fevereiro deste ano, a AGU (Advocacia-Geral da União) informou que vai garantir o pagamento de indenização no valor de R$ 1,7 milhão à companheira e aos quatro filhos de Marcelo Arruda.

A indenização será paga pela União. O acordo considerou que, entre outros fatores, o autor do crime se valeu da condição de agente público para acessar o local da festa e efetuar o disparo utilizando uma arma de propriedade da União.

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