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Com recuo de energia IPCA tem menor alta para janeiro em mais de 30 anos, mas cenário ainda preocupa

11/02/2025 09h03

Por Camila Moreira

SÃO PAULO (Reuters) - A alta dos preços no Brasil iniciou 2024 com a taxa mais fraca para janeiro em mais de 30 anos, já que a queda dos custos de energia compensou a pressão de transportes e alimentos conforme esperado, mas o cenário geral da inflação ainda preocupa.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,16% em janeiro, de uma alta de 0,52% em dezembro, mostraram dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira.

Essa é a menor taxa para um mês de janeiro desde o início do Plano Real em 1994, e levou a taxa em 12 meses a acumular avanço de 4,56% até janeiro. A inflação encerrou 2024 com alta acumulada de 4,83%, estourado o teto da meta oficial --3,0% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Os resultados de janeiro ficaram em linha com as expectativas de economistas ouvidos em pesquisa da Reuters de uma taxa de 0,16% no mês e de 4,57% em 12 meses.

A maior influência para a queda da inflação no resultado de janeiro foi, segundo o IBGE, a energia elétrica residencial, que recuou 14,21% em janeiro. Isso levou o grupo Habitação a apresentar deflação de 3,08% em janeiro.

“Essa queda foi decorrência da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas em janeiro”, explicou o gerente do IPCA Fernando Gonçalves, em referência à distribuição para os consumidores do saldo positivo da hidrelétrica.

Em novembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a liberação de R$1,3 bilhão do chamado Bônus de Itaipu para aliviar as contas de luz em janeiro de 2025, mudando a previsão inicial de aplicar os recursos já em dezembro.

Sem o desconto do bônus -- composto pelo saldo positivo registrado na conta de comercialização da energia da usina hidrelétrica binacional --, o C6 Bank calcula que a inflação teria subido cerca de 0,7% no primeiro mês do ano.

"Em fevereiro, sem o bônus de Itaipu e com a normalização do preço da energia, o IPCA em 12 meses deve voltar a subir para cerca de 5%, segundo nossa projeção", disse Claudia Moreno, economista do banco.

Helena Varonese, economista-chefe da B.Side Investimentos, também vê aceleração da inflação este mês. "Fevereiro deve ser um mês marcado por forte alta no IPCA em função justamente do reajuste de serviços de educação. Ou seja, tudo leva a crer que a desaceleração observada em janeiro seja pontual, com os próximos números voltando a trazer um pouco mais de cautela", alertou em nota.

ALTAS

O grupo Transportes apresentou avanço de 1,30% em janeiro por influência das altas de 10,42% em passagens aéreas e de 3,84% em ônibus urbano. Os preços dos combustíveis aumentaram 0,75% em janeiro, com altas de etanol (1,82%), óleo diesel (0,97%), gasolina (0,61%) e gás veicular (0,43%).

Também pesou o quinto aumento consecutivo do grupo Alimentação e bebidas, de 0,96% em janeiro. A alimentação no domicílio subiu 1,07%, influenciado pelas altas da cenoura (36,14%), do tomate (20,27%), e do café moído (8,56%). Já o aumento de preços da alimentação fora do domicílio desacelerou a 0,67% em janeiro.

O início do ano foi marcado por preocupações com os preços dos alimentos no governo, que levantou a possibilidade de medidas para reduzir a inflação desse item.

Também fonte de preocupação, a inflação de serviços em janeiro acelerou a 0,78%, de 0,66% em dezembro, acumulando em 12 meses alta de 5,57%.

O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve no primeiro mês do ano queda 0,4 ponto percentual, chegando a 65%.

Na avaliação de Igor Cadilhac, economista do PicPay, apesar da desaceleração o resultado do IPCA de janeiro é "preocupante".

"A média móvel dos últimos três meses, dessazonalizada e anualizada, indica que os serviços subjacentes estão próximos de uma taxa de 8%, enquanto os bens industriais subjacentes deixaram seu melhor momento para trás", disse ele.

Tanto os preços dos alimentos quanto dos serviços estão no radar do Banco Central, além da desvalorização do real, assim como as ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que têm potencial inflacionário.

No final de janeiro, o BC elevou a taxa básica de juros Selic como indicado em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.

"Não se observa piora suficiente para alterar a condução da política monetária para além do que o Copom já sinalizou. Como o comitê deixou em aberto os passos seguintes, a partir de maio, as principais variáveis para se observar nos próximos meses estão ligadas à atividade e mercado de trabalho", destacou André Valério, economista sênior do Inter, citando condições financeiras mais restritivas com os juros elevados.

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