GE Vernova fecha fábrica de pás eólicas em PE por queda da demanda
Por Leticia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) -A GE Vernova fechará a fábrica de pás eólicas da LM Wind Power em Suape (PE) devido à queda da demanda no mercado latino-americano, em medida que impactará 1.000 funcionários, disse a empresa nesta terça-feira, em novo desdobramento da crise da indústria eólica.
"Esta foi uma decisão difícil, e estamos totalmente comprometidos em apoiar nossos funcionários impactados e faremos tudo o que pudermos para fornecer a eles benefícios abrangentes de rescisão e transição", disse um porta-voz da LM Wind Power, em nota.
Entre as medidas de apoio aos afetados, a empresa citou pagamento de indenização, continuação dos benefícios por um período definido, serviços de transição de carreira e apoio à recolocação.
O fechamento expõe a situação difícil enfrentada pela cadeia de energia eólica nos últimos anos, com desaceleração do crescimento da fonte renovável no Brasil em função do cenário de sobreoferta de energia e maior concorrência com projetos de energia solar fotovoltaica.
A instalação de novas usinas eólicas no país caiu mais de 30% em 2024, para 3,3 gigawatts (GW) de potência. A expectativa é de que a conjuntura desfavorável perdure até 2026, com retomada a partir de 2027, na avaliação da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
A demanda baixa para novos empreendimentos eólicos nos últimos dois anos vêm afetando a cadeia de fornecedores, que passaram a ter dificuldades para manter suas operações sem ter um fluxo constante de encomendas.
Além da conjuntura no mercado brasileiro, outros fatores, como apostas empresariais erradas e custos de produção mais altos em todo o mundo, levaram grandes multinacionais de equipamentos eólicos a enfrentar dificuldades financeiras e reposicionar suas estratégias globais e países de atuação.
A GE anunciou em 2022 que suspenderia a produção de novas turbinas eólicas no Brasil. No ano seguinte, a Siemens Gamesa também paralisou sua fábrica de aerogeradores na Bahia.
A situação estimulou um movimento de importação de turbinas eólicas para atender a encomendas locais, o que gerou insatisfação de empresas que permaneceram em atividade no Brasil, como a dinamarquesa Vestas.
O fechamento das fábricas nacionais de turbinas também levou a uma crise na brasileira Aeris Energy, empresa fundada pela família Negrão que é concorrente da LM Wind Power na fabricação de pás eólicas.
Com apenas um cliente na carteira atualmente, a Aeris acertou acordo de suspensão de cobranças ("standstill") com credores e busca maneiras de reestruturar suas dívidas.
RECONFIGURAÇÃO DA CADEIA GLOBAL
Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, afirma que o fechamento da fábrica da LM Wind Power já era esperado depois do fim da produção nacional de aerogeradores da GE, já que a companhia norte-americana era praticamente sua única cliente de pás na região.
Segundo a executiva, a medida reflete ainda uma "reconfiguração" da cadeia eólica global, com algumas empresas concentrando sua produção nos EUA e Europa, enquanto países da Ásia, como China e Índia, também ganham força.
Ela avaliou que o fim das operações da LM Wind Power é fruto de um cenário "preocupante", mas ressaltou que o Brasil ainda conta com grandes fornecedoras, como a Vestas, que anunciou ampliação de capacidade no ano passado, a Nordex Acciona e a WEG, que tem atuação mais tímida no setor.
Há também um movimento de entrada de fabricantes chinesas, a exemplo da Goldwind, que começou a produzir turbinas eólicas no Brasil no ano passado em Camaçari (BA), na primeira unidade da empresa fora da China.
Entre as chinesas interessadas no mercado brasileiro e que vêm buscando contratos com geradores, Gannoum cita a Mingyang e a Sany.
"O que toda fabricante faz é assinar primeiro um contrato com cliente, traz máquina importada, e quando percebe que o mercado é promissor, robusto, ele traz a fábrica", explicou.
A Mingyang anunciou em agosto do ano passado um acordo com a Copel para instalação de uma turbina MySE 6.25-172, com previsão de entrega no início de 2025.
(Edição Alberto Alerigi Jr. e Roberto Samora)