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Aluguéis para COP30 chegam a R$ 2 mi: 'Dá para comprar dois apartamentos'

Vista aérea dos trabalhos no canal na avenida Visconde de Souza Franco, em Belém - Pablo Porciuncula - 3.dez.2024/AFP
Vista aérea dos trabalhos no canal na avenida Visconde de Souza Franco, em Belém Imagem: Pablo Porciuncula - 3.dez.2024/AFP
do UOL

De Ecoa, em São Paulo

09/02/2025 05h30Atualizada em 13/02/2025 12h40

Delegações e organizações que desejam participar da COP30 este ano em Belém estão tendo que enfrentar preços exorbitantes na busca de hospedagem. Em um site de reserva de acomodação, os valores chegam a até R$ 2 milhões para os 15 dias de evento. Mas o legado que os preços podem deixar para o mercado imobiliário tem sido uma das grandes preocupações dos corretores de imóveis da cidade.

O que aconteceu

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Plataforma mostra diárias de mais de R$ 7 mil para a COP30 em Belém
Imagem: Reprodução

Belém enfrenta déficit de hotéis para o evento. A expectativa é de que a cidade receba cerca de 50 mil pessoas para a COP30, mas atualmente há cerca de 18 mil leitos na capital. O governo do Pará já garantiu que terá leitos suficientes para o evento e trabalha com o governo federal para ampliar as acomodações.

Os cruzeiros vão comportar cerca de 4.500 leitos. E os novos hotéis vão trazer um acréscimo de mais de 1.000 acomodações. A previsão de aluguel de casas e apartamentos por temporada é de gerar quase 11,5 mil leitos. Teremos ainda o suporte das Forças Armadas com aproximadamente 2.300 leitos. Além de escolas adaptadas que poderão abrigar mais de 5.000 pessoas. Valter Correia, secretário extraordinário da COP30

Quem quiser alugar casas ou apartamentos enfrenta valores de até R$ 2 milhões. Em sites como Booking ou Airbnb é possível encontrar hospedagens com preços exorbitantes —apartamentos com uma ou duas camas em diárias que custam de R$ 7.000 a R$ 40 mil e pacotes para as duas semanas da conferência com o valor de até R$ 2 milhões.

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Pacotes para a temporada podem chegar a R$ 2 milhões
Imagem: Reprodução

Preços não condizem com o mercado. Ainda não há um consenso sobre a precificação da hospedagem para a COP30, explica Luisa Carneiro, presidente do Creci-PA (Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Pará), que tenta negociar medidas com o governo estadual. "É a questão que mais preocupa os corretores e ninguém sabe precisar. São anúncios variados, às vezes encontramos leitos por US$ 1.000 a diária, por exemplo, e há outros mais absurdos, vendendo pacotes de 15 dias em imóveis de 200 m² por R$ 2 milhões. Com esse valor, dá para comprar quase dois apartamentos do mesmo tamanho."

Airbnb afirma que está oferecendo cursos de capacitação para proprietários, que inclui módulo sobre precificação. "Os valores correspondentes às acomodações anunciadas no Airbnb são definidos pelos próprios anfitriões, que possuem total autonomia para gerenciar e personalizar seus anúncios", disse a empresa em nota. O Airbnb ainda afirmou que, em situações específicas, como Olimpíadas, "pode oferecer orientações que atendam às necessidades dos anfitriões locais quanto aos preços que estabelecem para suas acomodações".

Corretores já sentem os impactos de um mercado sem regulação. Carneiro explica que a preparação para a COP30 pode trazer muitos benefícios para a cidade, mas que no momento já é possível sentir efeitos danosos no mercado imobiliário devido às altas dos preços.

Alguns proprietários querem desocupar os imóveis [já alugados] para o evento, mas isso é juridicamente impossível. Além disso, as vendas já sentem o impacto. Aqueles proprietários que queriam vender os imóveis, que já estavam com os contratos prontos e em andamento, decidiram voltar atrás e suspender o negócio para esperar e alugar o imóvel para a COP30. Luisa Carneiro, presidente do Creci-PA

Preços podem ser altos quando há grande demanda, mas há limites. Segundo Igor Marchetti, advogado do Idec, é comum que exista um aumento significativo de preços em momentos de grandes eventos, dada a alta procura. No entanto, os valores não podem chegar a um patamar excessivo, já que pode configurar como prática abusiva conforme o Código de Defesa do Consumidor. O consumidor pode registrar a reclamação no Procon. "Caso o Procon avalie a situação e conclua que há, de fato, uma cobrança excessiva, a multa é uma das punições possíveis, mas em certos casos outras medidas podem ser adotadas, como a suspensão da atividade econômica até regularização à legislação", diz.

A alta dos preços preocupa o legado que a COP30 pode deixar para os residentes. Segundo Carneiro, sem uma regulação sobre os preços, o receio é de que os valores continuem altos, mesmo após a conferência. "Com esses valores praticados, o proprietário pode achar que qualquer outro valor que oferecemos para alugar o imóvel seja pouco. Portanto, readequar-se ao mercado pode ser um processo difícil."

Plataforma de hospedagem

Governo federal mira modelo adotado em outras COP e que promete centralizar reservas. Tratativas estão sendo realizadas com delegações internacionais por meio do Itamaraty e da Secop (Secretaria Extraordinária da COP30 da Presidência da República). Além da rede hoteleira tradicional, o objetivo é ofertar novos hotéis e navios de cruzeiro, além de acomodações no modelo hostel, com escolas adaptadas.

Preços praticados para hospedagem devem ser observados. O governo federal diz que, assim como ocorreu com os Jogos Olímpicos, acompanhará a variação de preços "para mitigar práticas abusivas contra o consumidor". "É importante destacar que, em edições passadas da COP, as reservas em plataformas oficiais e o credenciamento geralmente são abertos a partir de junho. A busca antecipada por acomodações fora desses canais pode contribuir para a elevação dos preços no mercado", diz nota.

UOL tentou contato com o governo do Pará. O contato foi para saber se há intenção de tomar ações para a regulamentação do mercado, mas não obteve retorno. O espaço será atualizado assim que houver manifestação.

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