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Furto digital: como ricos das gerações Z e Y enganam comerciantes nos EUA

Cerca de metade dos jovens com ganho anual acima de US$ 100 mil admite ter cometido o crime - Getty Images
Cerca de metade dos jovens com ganho anual acima de US$ 100 mil admite ter cometido o crime Imagem: Getty Images
do UOL

Colaboração para o UOL

08/02/2025 05h30

O crime de furto digital tem se popularizado nos Estados Unidos entre consumidores ricos das gerações Y e Z, segundo levantamento da revista Fortune. A prática consiste em enganar os comerciantes ao pedir reembolso de um produto, alegando falsamente que o pacote não foi entregue ou que o pedido não foi feito, causando prejuízo financeiro ao varejista.

O que aconteceu

Cerca de metade dos integrantes destas gerações com rendimento anual acima de US$ 100 mil (cerca de R$ 577 mil na cotação atual) admite ter cometido o crime ao longo de 2024. A geração Y, ou millennials, é composta pelos nascidos entre aproximadamente 1981 e 1996. Já a Geração Z, também conhecida como "Gen Z" ou "Zoomers", é formada pelos nascidos aproximadamente entre 1997 e 2012. Segundo a Fortune, os compradores mais ricos podem tirar proveito do conhecimento sobre transações bancárias e comerciais para cometer o crime.

O crime de furto digital pode ser consumado de diferentes formas. A pessoa pode alegar, por exemplo, que um pacote nunca foi entregue em seu endereço, declarando que a encomenda foi roubada ou extraviada. Outra forma de furto digital é a contestação de cobranças no cartão de crédito junto à instituição bancária, em que o cliente afirma não reconhecer determinada transação mas, na realidade, realmente efetuou aquela compra. Segundo a Fortune, algumas pessoas, ainda, alegam que o produto não foi comprado intencionalmente, solicitam reembolso, mas não devolvem a mercadoria.

Os "truques" para reaver quantias de forma indevida são compartilhados nas redes sociais. Segundo a Fortune, os compradores justificam suas ações como parte da "luta contra a inflação", que foi de 2,9% em 2024. A disseminação de conteúdo em plataformas como o TikTok também é responsável pelo crescimento do crime. "[Os compradores ficam] vendo vídeos de influenciadores de mídia social sobre como obter o dinheiro de volta das compras e sobre a percepção de leniência dos comerciantes para emitir reembolsos", diz trecho da reportagem da revista.

Em uma das publicações no TikTok, um jovem estimula seus seguidores a cometer o crime, dizendo para que eles "tirem vantagem" de lojas online como Amazon. Segundo o rapaz, em casos nos quais o status do pacote fique como "atrasado", o consumidor pode solicitar o cancelamento da compra. Como o envio do pedido já teve início, o produto será entregue, mesmo com atraso. "99% das vezes, eles [Amazon] nem pedem o produto de volta". Dessa forma, o comprador ficaria com a mercadoria e receberia o dinheiro de volta.

Embora os americanos jovens e ricos tenham sido os autores mais prováveis, pessoas de todas as gerações admitiram a "fraude primária", ou seja, quando os consumidores contestam as cobranças junto à empresa de cartão de crédito e ao comerciante para obter o dinheiro de volta por um produto que realmente compraram e receberam. Trecho de reportagem publicada pela Fortune

Para especialista, as consequências para quem comete o crime ainda são "leves" nos EUA. "O furto digital é desenfreado provavelmente porque não há consequências graves para aqueles que o cometem", disse à Fortune Ori Snir, chefe de gerenciamento de produtos da empresa de tecnologia antifraude Socure, parceira da publicação na elaboração da pesquisa.

Apesar de correr o risco de ter sua contestação negada e ter que pagar pela compra, na maioria das vezes o cliente não enfrenta complicações. "O melhor cenário é a pessoa ficar impune e se safar completamente, o que geralmente a leva a fazer isso novamente", disse Snir à Fortune. "O pior cenário é um cliente ter sua conta bloqueada, impedindo-o de fazer compras com aquele comerciante novamente", explica.

O impacto do furto digital na economia

Segundo a Fortune, comerciantes explicam que solicitações indevidas de estorno podem prejudicar a saúde financeira da empresa. Os debates entre os varejistas também acontecem via internet, como nos fóruns do Reddit. Neles, os vendedores descrevem situações em que o próprio cliente admitiu ter pedido uma devolução inadequada, mas seguiu com o processo de estorno. Muitas vezes sem o respaldo de plataformas de pagamento e das operadoras de cartão, o vendedor acaba assumindo o prejuízo.

Os casos de furto digital custam caro aos comerciantes. De acordo com a Fortune, os estornos custam aos varejistas 3,75 vezes o valor real da transação. Este valor engloba, por exemplo, a perda de receita e de mercadorias, as taxas de estorno e demais custos indiretos, além de provocar "relacionamentos prejudicados com as redes de cartões de crédito" envolvidas nas transações.

Para mitigar eventuais riscos relacionados ao furto digital, os comerciantes devem ter processos internos seguros. Segundo Ori Snir, os varejistas devem intensificar a verificação de transações arriscadas e solicitar mais informações sobre os clientes que compram em sua loja. "Lute contra isso. Obtenha evidências de que os próprios consumidores estão fazendo a compra, coletando mais informações, e use-as para negar reclamações ou estornos. Fazer isso ajudará a provar que essas compras são legítimas", explicou o especialista à Fortune.

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