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Queda de avião em SP: 'Tudo indica que houve falha mecânica', diz perito

do UOL

Colaboração para o UOL

07/02/2025 10h39

Uma falha mecânica pode ser a causa mais provável da queda de um avião de pequeno porte em uma avenida de São Paulo, disse o perito aeronáutico e forense Daniel Kalazans em entrevista ao UOL News nesta sexta (7).

Falarei como controlador e piloto. Operei muito no Campo de Marte, que tem uma área muito complicada após a decolagem. Tudo indica que foi uma falha técnica, mecânica. Entendo que ele [o piloto] tenha buscado o retorno. A melhor opção seria voltar para o próprio Campo de Marte e provavelmente isso não foi possível.

O local de pouso ali naquela região é muito difícil. Entendemos que o piloto buscou a melhor opção, que foi tentar um pouso forçado na avenida [Marquês de São Vicente]. Mesmo assim, temos complicações. Em uma avenida, há postes, árvores, fios de alta tensão... Dificilmente ele lograria êxito. Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense

Veja mais fotos do acidente no UOL Flash.

O que aconteceu

Avião de pequeno porte caiu às 7h20 na avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste de São Paulo, depois de sair do Campo de Marte, muito próximo da marginal Tietê, do Allianz Parque e dos CTs do São Paulo e do Palmeiras. Ele arrancou árvores, placas de trânsito e bateu na traseira de um ônibus, que estava parado para embarque e desembarque de passageiros, na Praça José Vieira de Carvalho Mesquita. O veículo da linha 8500 Terminal Pirituba-Barra Funda estava a 5 km do aeroporto.

Mapa queda avião Marquês de São Vicente -  -

Passageiro era o dono da aeronave, o empresário e advogado gaúcho Márcio Louzada Carpena. A morte dele foi confirmada pela OAB-RS (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Sul). A identidade do piloto, Gustavo Medeiros, foi confirmada ao UOL por um amigo e sócio de Márcio. Márcio chegou a postar imagens do avião em seu Instagram minutos antes da queda.

Pelo menos seis pessoas ficaram feridas. O motorista do ônibus passa bem, mas foi socorrido porque está em estado de choque. Um motociclista foi atendido após ter se assustado e atingido uma placa de trânsito. Uma idosa bateu a cabeça dentro do ônibus e fez um corte. Outras três pessoas no ponto ou dentro do ônibus também ficaram feridas, disse Kléber Vitor Santos, médico do corpo de Bombeiros.

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O avião bateu em um ônibus
Imagem: Oslaim Brito/Thenews2/Folhapress

'Prevenção deixou de ser fundamental'

Para Kalazans, a prevenção de acidentes deixou de ser uma questão fundamental na aeronáutica. O especialista cobrou uma mudança urgente e punições para quem for conivente com a irresponsabilidade.

Não tenho a menor dúvida de que estamos vendo hoje as consequências de um gatilho armado lá atrás. Existe uma mentalidade de irresponsabilidade na aviação na formação, manutenção e operação. Isso precisa ser revisto o mais urgente possível.

Está havendo muita irresponsabilidade na comunidade aeronáutica. A prevenção de acidentes saiu dela e passou para a Justiça e para o Ministério Público. Um dos princípios da filosofia da segurança de voo é não haver punição, mas isso já ultrapassou os limites.

Enquanto tivermos essa mentalidade, continuaremos tendo acidente. Não teremos mudança de resultado se não houver mudança de conduta. Daniel Kalazans, perito aeronáutico e forense

Aeronave era um King Air com capacidade para até 8 passageiros, mas duas pessoas estavam a bordo. O avião matrícula PSFEM foi fabricado em 1981 e transferido de dono em dezembro de 2024. Ele pertencia a empresa Máxima Inteligência Operações e Empreendimentos, de Porto Alegre, e não tinha autorização para fazer táxi aéreo, segundo o sistema da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A aeronavegabilidade [estado de segurança da aeronave], porém, estava em situação normal.

Aviao kingairf90 - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Investigadores do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) foram acionados. Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), nesta fase são "utilizadas técnicas específicas, conduzidas por pessoal qualificado e credenciado que realiza a coleta e a confirmação de dados, a preservação dos elementos, a verificação inicial de danos causados à aeronave, ou pela aeronave, e o levantamento de outras informações necessárias à investigação".

Veja o trajeto feito pela aeronave:

Aeronave que caiu em São Paulo partiu do Campo de Marte (identificado no mapa como RTE) e caiu na avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, zona oeste (identificado no mapa com SJDD) - Reprodução/FlightAware - Reprodução/FlightAware
Aeronave que caiu em São Paulo partiu do Campo de Marte (identificado no mapa como RTE) e caiu na avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste (identificado no mapa com SJDD)
Imagem: Reprodução/FlightAware

Este é ao menos o oitavo caso de queda de avião de pequeno porte no Brasil nos últimos quatro meses. Além disso houve quedas de helicópteros, que foram duas no último mês: uma em Caieiras (SP) e outra em Cruzília (MG). A relação inclui casos de grande repercussão nacional, como o do avião que caiu em Gramado, na Serra Gaúcha, em 22 de dezembro, deixando 10 mortos e 17 feridos. E o de Ubatuba, no litoral paulista, em 9 janeiro, que deixou um morto e quatro feridos.

Josias: 'Estado deve explicações'

Diante da série de acidentes aéreos ocorridos recentemente no Brasil, o governo federal está devendo explicações à população do país, afirmou o colunista Josias de Souza.

Há aqui dois aspectos a se considerar. O primeiro deles é a sensibilidade humana. Por razões óbvias, o ministro da área e o próprio Palácio do Planalto deveriam ter soltado uma nota para lamentar as mortes e se solidarizar com as famílias.

Do ponto de vista técnico, a Aeronáutica foi muito ágil ao divulgar uma nota do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] informando sobre as providências que adotou. Houve essa celeridade por parte da FAB [Força Aérea Brasileira], mas o resto está devendo.

Diante dos dados estatísticos, que mostram um aumento no número de acidentes e no de vítimas de acidentes aéreos no Brasil, é preciso que as autoridades que cuidam dessa matéria providenciem informações que sejam capazes de tranquilizar os usuários de avião no Brasil. Não estamos querendo alarmar ninguém, mas o Estado deve essa explicação e essas informações à sociedade. Josias de Souza, colunista do UOL

Assista ao comentário na íntegra:

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