Marca francesa Decathlon usaria couro oriundo de áreas de desmatamento no Brasil, aponta denúncia
Uma investigação publicada na França aponta irregularidades na cadeia de produção da fabricante de produtos esportivos Decathlon. Entre as denúncias, além de uso de mão de obra infantil e pagamentos irrisórios aos empregados, a marca usaria em seus tênis couro oriundo de áreas de desmatamento no Brasil.
O relatório produzido pelo site de investigação Disclose em parceria com Cash Investigation, e reproduzido pelo jornal Libération desta sexta-feira (7), apresenta um quadro de irregularidades nas atividades da Decathlon, segunda marca preferida dos franceses, pertencente à família Mulliez, que detém outras lojas conhecidas como Auchan e Leroy Merlin e é responsável por 10% do comércio no país.
A reportagem, baseada em vídeos filmados com câmera oculta em fábricas na China, denuncia a estratégia de baixo custo da empresa, com reflexos também em Bangladesh e no Brasil. Em um desses estabelecimentos, os investigadores flagraram o trabalho de uma menina de 12 anos. A investigação também mostra a contratação de pessoas da minoria uigur e de norte-coreanos, duas populações submetidas ao trabalho forçado na China.
Em Bangladesh, onde são fabricados produtos das marcas esportivas Quechua e Kalenji, muito consumidas na Europa, os trabalhadores recebem salários inferiores à média nacional, de acordo com a denúncia.
Porém, a Ásia não é o único continente citado. De acordo com um artigo que será publicado neste sábado (8) pelo Disclose, "o couro transformado em produtos no Vietnã vem do Brasil, sobretudo das grandes indústrias da carne bovina acusadas de serem as primeiras responsáveis pela deflorestação ilegal".
Em um comunicado interno ao qual o Libé teve acesso, a Decathlon afirma que seus fornecedores "respeitam normas ambientais" e que "100% de seus curtumes estão engajados a não processar couro de criações situadas em regiões expostas a desmatamento, especialmente na floresta amazônica".
A gigante da indústria esportiva ainda cita ainda que, em 2024, 842 auditorias foram feitas para apurar irregularidades em suas atividades em todo o mundo.