'Tratam a gente pior que animal', diz brasileiro deportado dos EUA
O mineiro Igor Gomes Soares, que chegou ao Brasil nesta sexta-feira (7) na segunda leva de deportados dos Estados Unidos, afirmou que as autoridades norte-americanas trataram os brasileiros "pior que animal" durante o voo de repatriação.
O que aconteceu
Igor disse que ficou três meses preso após se entregar às autoridades norte-americanas. O vendedor denunciou a má qualidade da comida e as péssimas condições de higiene nas quais os brasileiros são submetidos nos centro de custódia estadunidenses. O vendedor pagou US$ 20 mil para entrar ilegalmente no país.
Foi péssima [a vinda dos EUA para o Brasil]. Não dão comida para a gente direito, mal dão água. A gente implora para conseguir uma garrafinha de água, mas não dão. Algemam a gente na barriga, nas mãos e nos pés, como se fôssemos um assassino. Deixam a gente mais de 24 horas algemados. Para ir ao banheiro é difícil até para pedir. Tratam a gente pior que animal.
Igor Gomes, brasileiro deportado
O corretor de imóveis goiano César foi para os EUA em outubro de 2024. Assim que chegou ao país, decidiu se entregar às autoridades norte-americanas. Ele contou que viajou com objetivo de trabalhar para dar melhores condições à família.
Lá [nos EUA] está muito difícil, muito sofrido. [Fiquei] quatro meses detido. Cara, eu jamais aconselho alguém a fazer isso [de ir ilegalmente]. Lá está com muito problema. Estão deportando todos. (...) Infelizmente, com o governo Trump não deu certo.
César
Igor e César contaram que ficaram mais de 24 horas algemados no voo até o Brasil. "Muito sofrimento", disseram à imprensa.
Brasileiro diz que 'mudou tudo' após posse de Trump
Brasileiro declarou que era mais acolhido no governo de Joe Biden. "A partir do dia 21 [de janeiro, um dia após a posse de Trump], a gente não tinha mais direito nenhum de fala", acrescentou João Vitor Batista Alves, explicando que os brasileiros presos perderam os poucos direitos básicos que tinham anteriormente.
"Depois de muito tempo sendo mal tratado, foi estranho ser bem tratado [na recepção em Fortaleza]", diz deportado. Segundo o jovem de 26 anos, o plano atual é dar mais valor para o país onde nasceu. "É um lugar que, por mais que as coisas não estejam muito fáceis, aqui a gente está em casa", disse, em vídeo divulgado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Ele ficou um mês e cinco dias nos Estados Unidos.
Por mais que a gente tenha imigrado ilegalmente, nós não somos criminosos perigosos para poder ficar amarrados e ficar 24 horas comendo pão e água. É uma situação constrangedora. Mas tem um lado bom, que a gente aprende a reconhecer a nossa liberdade e o nosso país também.
Meu sonho é o sonho de todo mundo, né? É um sonho americano, de mudar de vida, juntar muito dinheiro e vir embora para o Brasil para dar uma vida digna para a minha família.
João Vitor Batista Alves
"Pior experiência da minha vida. Fiquei detido como se fosse um vagabundo." O mestre de obras Marcos Rosário da Silva, 47, natural de Linhares (ES), contou ao UOL que chegou nos EUA em 12 de dezembro e se entregou à polícia fronteiriça. Ele falou que ficava algemado na maior parte do dia e a comida fornecida no local onde ficou detido era de péssima qualidade. O brasileiro disse ter ficado 15 dias internado no hospital e perdeu mais de 10 quilos.
Meu plano agora é tentar voltar a trabalhar para recuperar o prejuízo [dos R$ 42 mil gastos para entrar nos EUA]. Infelizmente.
Marcos Rosário da Silva, 47
Fábio Júnior Siqueira, de Londrina (PR), teve o pedido de asilo negado. Ele pagou R$ 90 mil para entrar ilegalmente nos EUA. "[Agora vou] tocar a vida para a frente. Ficar com a família, aprendi a valorizar a família. Dinheiro é bom, mas não preenche alguns espaços", finalizou.
Voos de repatriação
O segundo voo de deportados no governo Donald Trump pousou no Aeroporto Internacional Belo Horizonte/Confins por volta das 19h32 desta sexta-feira (7). A segunda leva de deportados pousou primeiramente no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, nesta tarde.
O voo de hoje trouxe 111 brasileiros, incluindo homens, mulheres, crianças e adolescentes. Do total, 16 pessoas ficaram em Fortaleza e os demais embarcaram no avião da FAB (Força Aérea Brasileira) até o aeroporto de Confins.
Ministra classificou como "avanço" que crianças e mulheres no voo não foram algemadas. Porém, os homens usaram o objeto no trajeto e, após o pouso em solo nacional, a agentes da Polícia Federal entraram no avião para retirar os itens. Por anos, os diferentes governos brasileiros tentaram convencer Trump e Joe Biden a realizar o embarque dos deportados sem algemas. Os pedidos foram rejeitados.
Em Fortaleza, os brasileiros reclamaram de maus-tratos e fome. Socorro França, da Secretária dos Direitos Humanos do Ceará, disse que os brasileiros se alimentaram somente após o desembarque no estado. Mitchelle Benevides Meira, secretária de diversidade do Ceará, contou que alguns ficaram 12 horas sem comer.
O avião com os deportados pousou em Fortaleza por volta das 16h07 desta sexta-feira. Ele partiu da cidade de Alexandria, no estado norte-americano de Louisiana, e teve uma escala técnica em Porto Rico, antes de seguir para a capital cearense.
O primeiro voo de deportados aterrissou em Belo Horizonte no dia 25 de janeiro, após fazer escala em Manaus. Na ocasião, os brasileiros denunciaram agressões de agentes norte-americanos.
A estimativa é de que pelo menos 30 mil brasileiros estejam aguardando deportação. O Brasil quer que essas pessoas sejam tratadas adequadamente e que o processo seja acelerado.