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Robusto, cauteloso e com dividendos adicionais, como o Itaú quer ser visto?

do UOL

Colunista do UOL

06/02/2025 20h36

O Itaú voltou a surpreender positivamente investidores e analistas ao anunciar os seus resultados do 4° trimestre de 2024. No período, o Itaú apresentou lucro líquido gerencial de R$ 10,884 bilhões, alta de 15,8% em relação ao mesmo trimestre de 2023. No ano de 2024 como um todo, o lucro foi de R$ 41,403 bilhões, uma expansão de 16,2%.

Pleiteando há alguns trimestres o posto de "queridinho" dos investidores pessoa física com o Banco do Brasil (BBAS3), o Itaú (ITUB4) já cravou um golaço: registrou o maior lucro da história entre os bancos listados na bolsa brasileira. É o que aponta um estudo da Elos Ayta Consultoria.

Em termos nominais, dos dez maiores lucros da história dos bancos da Bolsa, oito pertencem ao Itaú, em anos como 2015, 2017, 2018, 2019, 2021, 2022, 2023 e 2024. Os outros dois lugares da lista são ocupados pelo Banco do Brasil, em 2022 e 2023.

O mercado ficou animado porque finalmente teve o anúncio do badalado dividendo extraordinário. O Itaú destinou R$ 15 bilhões para dividendos de R$ 1,25 por ação e juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 0,33. O montante será pago no dia 7 de março.

O banco parece ter abandonado os tempos das vacas magras. Em 2024, distribuiu R$ 28,7 bilhões em proventos, alta de 33,8% diante 2023. O payout (parcela do lucro destinada a proventos) encostou nos 70%. O mercado está sedento por mais dividendos, mas tem as suas ressalvas por conta da economia brasileira, que pode frear a carteira de crédito e elevar a inadimplência.

Com os fundamentos que possui, o Itaú poderia zelar compromissos ambiciosos com os investidores para 2025, tais como crescimento elevado da carteira de crédito e até mesmo a manutenção do payout para dividendos, mas a gestão do banco optou por uma postura mais cautelosa.

Na carteira de crédito, que alcançou R$ 1.359 trilhão e crescimento de 15,5% em 2024, as expectativas foram extremamente conservadoras. O Itaú projetou um avanço da carteira de crédito entre 4,5% e 8,5% em 2025. Teve analista que achou coerente a postura do banco, mas teve também quem não gostou nada dessa redução do crescimento.

Para Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, a projeção conservadora para 2025, que prevê um lucro líquido de cerca de R$ 45 bilhões é uma estratégia prudente diante das incertezas econômicas. "O Itaú manteve a qualidade dos seus ativos e um bom nível de capital, o que transmite confiança aos investidores", afirma.

Milton Rabelo, analista da VG Research, opina que ser cauteloso é uma postura adequada, porque existe a possibilidade de que as condições macroeconômicas sejam menos adversas do que esperado. "Caso seja essa a situação, o Itaú poderia atingir as faixas mais altas de suas projeções".

É exatamente essa filosofia que Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú, defende. Questionado por jornalistas do motivo de ter optado por ser tão conservador, ele garantiu que o Itaú está consciente e confortável com as projeções que estão sendo colocadas. Mas deu a entender que estas podem ser revistas de acordo com o cenário. "O Itaú nunca esteve tão bem para entrar em um cenário qualquer que seja. Se for um cenário benigno, com mais oportunidades, a nossa capacidade de acelerar e reagir é muito grande", afirmou.

Ainda, segundo Maluhy, não seria necessário esperar dois ou três meses para reajustar a rota, porque a capacidade de reação do banco "seria imediata".

Para ele, o foco da carteira de crédito segue o estilo dos últimos dois anos, clientes mais resilientes. Maluhy não quis cravar segmentos específicos com os quais o Itaú pretende trabalhar.

Ao UOL, ele comentou que a estratégia será atender os clientes onde a demanda estiver, colocando o produto como consequência. "O atendimento dependerá do ciclo e do momento de vida em que o cliente está. Tem clientes que estão no momento de financiar imóvel, outros que procuram financiar consumo ou investir em projetos. Cada vez menos o Itaú vai falar de produtos e sim do cliente como centro", apontou.

Mas reconheceu que as carteiras pessoa física podem ser afetadas pelos juros altos.

Um crescimento menor da carteira de crédito não é totalmente negativo. Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest, acredita que se a carteira não crescer, mas o Itaú permanecer com uma boa liquidez, isso poderia impulsionar os dividendos do banco, por conta que o Itaú ficaria com bastante caixa, resultando em dividendos maiores.

Chinchila concorda e defende que com crescimento contido da carteira de crédito, as provisões para devedores duvidosos também serão menores, favorecendo os dividendos.

Dividendos

Questionado pelo UOL sobre isso, Maluhy também foi cauteloso. O executivo disse que é natural que com um crescimento menor da carteira de crédito e alta rentabilidade do banco em 2025, o Itaú poderia gerar mais capital do que precisa utilizar. Mas não quis se comprometer com distribuições maiores no momento.

Também foi perguntado ao CEO sobre se o payout entre 60% e 70% do lucro poderia ser considerado um novo normal das remunerações do Itaú. Maluhy não quis cravar um payout para este ano, porque considera que isso gera ansiedade e incertezas nos investidores.

Contudo, ele explicou como vai funcionar a dinâmica das remunerações. Segundo o CEO, o Itaú trabalha com o sistema de remunerações mensais de R$ 0,01765, geralmente sob a forma de JCP. Mas a instituição financeira também faz anúncios de proventos maiores ao longo do ano, o que em média dá um retorno contratado de 30% do lucro. Desta forma, pelo menos os 30% de payout estariam garantidos.

Quando termina o ano, o Itaú faz o exercício de observar como está o seu índice de capital, a sua expectativa e capacidade de crescimento para os próximos anos, rentabilidade. Feitas essas análises, o Itaú pode distribuir um dividendo maior, que Maluhy batizou de "dividendo adicional". Sim, é aquele dividendo gordo referente ao último trimestre de cada ano.

A expectativa de Maluhy é repetir a dinâmica para o 4° trimestre de 2025. Fazer um estudo detalhado da situação do Itaú e, se estiver tudo em ordem, fazer o pagamento no começo de 2026.

O CEO explicou que não considera mais essa distribuição como dividendo extraordinário, porque o termo extraordinário se refere a um evento que ocorre apenas uma única vez e a prática, segundo ele, já vem sendo aplicada pelo menos há dois anos.

Mesmo com todas as ressalvas, Maluhy garantiu que "o objetivo do Itaú não é reter excesso de capital, mas sim rentabilizar esses recursos para continuar crescendo com qualidade e olhando para o futuro".

Então, boas-vindas ao novo formato de dividendos adicionais! Maluhy manifestou ainda que está aberto a outros instrumentos de remuneração, como recompras e bonificações, que seriam avaliados de acordo com o cenário econômico e a demanda dos investidores.

O que dizem os analistas?

A maioria gostou dos resultados do Itaú e estão otimistas para 2025.

Chinchila afirma que o Itaú continuará sendo um dos principais destaques do setor bancário em 2025. Ele recomenda a compra das ações ITUB4 e espera que os papéis valorizem até o preço de R$ 43,00. Para os dividendos, a expectativa é que o banco distribua entre 60% e 70% dos lucros, equivalente a um dividend yield de 8%.

Rabelo, da VG, também indica a compra e espera dividendos de 11% (R$ 3,70 por ação). Para valorização, a perspectiva é positiva. "Com cenário adverso, o mercado está priorizando qualidade, o que deve atrair investidores para o Itaú", diz. Ele aconselha comprar ITUB4 até R$ 39.

Saravalle, da MSX, projeta dividend yield de 10% para ITUB4, já considerando extraordinários.

Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research, prefere o investimento nas ações ordinárias ITUB3, por conta do desconto. O dividend yield esperado é de 10%, R$ 3,10 por ação. Para valorização, ele ainda enxerga espaço por conta que os papéis negociam a 7,22 vezes preço sobre lucro (P/L), metade do que a média da bolsa.

Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, também recomenda a compra de ITUB3. Ele espera um dividend yield de 8,5% e dividendos de R$ 2,50 por ação.

Já Renato Reis, analista da Blue3 Research, projeta dividend yield de até 12% para ITUB3 e R$ 3,70 por ação. "Se a economia tiver problemas graves, o investidor vai correr para o seguro e o Itaú pode valorizar", pondera.

Agora só falta a economia colaborar. Enquanto isso Maluhy prega seu mantra "consistência, baixa volatilidade, qualidade e bom retorno".

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