Topo
Notícias

Brasileiros apostam em chá, cevada e chicória para driblar inflação do café

Inflação do café moído beirou 40% em 2024 - Getty Images
Inflação do café moído beirou 40% em 2024 Imagem: Getty Images
do UOL

Alexandre Novais Garcia

Do UOL, em São Paulo (SP)

05/02/2025 05h30

A recente disparada do preço do café nas prateleiras dos supermercados faz com que os consumidores busquem novas alternativas para fugir da inflação. As opções passam pela compra de bens substitutos, a exemplo do chá, da cevada e da chicória.

O que aconteceu

Preço do café moído pesa no bolso dos brasileiros. A matéria-prima tradicionalmente presente na rotina das famílias e dos escritórios apresentou alta de 39,6% em 2024, segundo números do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial coletada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Substitutos ganham espaço com alta dos preços. A busca por produtos mais baratos e de funções semelhantes na dieta é uma das estratégias mais eficazes para enfrentar a inflação sem comprometer os hábitos da rotina, explica Ahmed El Khatib, professor da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado).

Chá aparece como principal alternativa ao café. Única referência presente no IPCA, o chá de mate apresentou variação de 6,63% ao longo do ano passado. "Embora não tenham as mesmas propriedades estimulantes, como cafeína em alta concentração, os chás oferecem variedade e custo menor", diz Khatib.

Cevada também entra na disputa entre substitutos. A tradicional matéria-prima para a fabricação da cerveja também pode ser adotada na tentativa de driblar a inflação. O benefício, além do preço mais em conta, aparece no sabor semelhante ao do café, ainda que também não tenha as mesmas características. Outra opção é a chicória, usada como substituta do café desde o período colonial.

Substitutos menos convencionais, como cevada torrada ou misturas à base de cereais, estão ganhando espaço entre as famílias que buscam economizar sem abrir mão do hábito de consumir bebidas quentes pela manhã ou ao longo do dia.
Ahmed El Khatib, professor da Fecap

Migração pode encarecer valor dos substitutos. A eventual busca por outros produtos mais baratos tende a aumentar a demanda sobre eles, fator determinante para a elevação dos preços, caso a disponibilidade não seja renovada. "Esse efeito é chamado de 'inflação cruzada'", conta Khatib.

Estabelecimentos vendem pó com sabor de café. Também tem atraído a atenção dos consumidores a presença do chamado "café fake" nos supermercados. O produto é descrito como uma "bebida sabor café tradicional" e a presença dele nas prateleiras preocupa a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).

O que motiva a alta do café

Inflação do café é motivada pela restrição de oferta. Os problemas para a colheita afetaram o Brasil, principal produtor do grão, nos últimos anos. "Já estamos há praticamente quatro safras no Brasil sem a renovação do recorde de produção", afirma Renato Garcia Ribeiro, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Tivemos seca, depois surgiram as geadas, de 2021 para 2022, e agora dois anos ruins de chuva, em especial no ano passado. As lavouras vêm sofrendo demais com o clima.
Renato Ribeiro, pesquisador do Cepea

Sacas de 60 kg de café atingiram o maior valor da história. Os relatórios mais recentes do Cepea atingiram o maior patamar da série, iniciada em 1997, e mostram o café arábica, aquele presente na rotina dos brasileiros, cotado a US$ 441,25 (R$ 2.565,86).

Vietnã também enfrentou problemas de produção. Segundo maior produtor de café do mundo, atrás apenas do Brasil, o país asiático também atravessou um cenário semelhante ao nacional, conta Ribeiro. "Com os dois principais produtores com colheita menor por conta de fatores climáticos, é bem provável ver os estoques se reduzindo", diz ele.

Como o consumo global não caiu, a gente teve menor oferta, consumo crescente e, consequentemente, redução de estoques. Se você tem pouca oferta, os preços sobem.
Renato Ribeiro, pesquisador do Cepea

Alta ainda não foi totalmente repassada às famílias. O período com oferta limitada tende a ainda persistir nos próximos meses. A Abic diz ainda absorver a elevação de preços da produção do café. Caso o repasse seja realizado, o peso no bolso dos amantes da bebida deve persistir por um período prolongado. "A matéria-prima está muito mais cara do que foi o repasse até o momento", afirma a entidade.

Notícias