Jovens dão aulas de empreendedorismo e educação financeira no RJ e em SP

A empreendedora Sonia Maria das Dores, 68, vende, diariamente, sanduíches como misto quente e hot dog, e bebidas, na comunidade de Nilópolis, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Apesar de ter o negócio há 2 anos, ela não sabia precificar seus produtos e acabava não tendo o lucro esperado.
"Eu não sabia fazer o planejamento necessário, não mantinha um estoque e não tinha ideia de que o preço dos meus lanches não era o ideal para o negócio. Quando o produto acabava, eu comprava para fazer mais e vendia sem calcular nada, e isso afetava diretamente o faturamento do negócio."
Sonia Maria das Dores
Virada de chave veio com projeto para empreendedores
O que aconteceu
Três jovens, um objetivo. Dona Sonia, como é chamada na comunidade, entendeu melhor como gerir seu negócio ao participar do projeto "Empreendedorismo na Veia", criado pelos jovens Sofia Rymer, 16, Patrick Appel,17, e Julia Srour, 17, em 2024, que dá aulas de empreendedorismo e educação financeira na favela de Paraisópolis, em São Paulo, e em Nilópolis, no Rio.
Empreendedora aprendeu a precificar seu hot dog. "Eu faço o curso técnico de administração, soube das aulas de empreendedorismo na escola e resolvi fazer. Graças às aulas, eu vi que cobrava pouco pelos meus sanduíches e passei o valor do hot dog de R$ 6 para R$ 10. Também aprendi a fazer o planejamento financeiro do negócio e da minha casa", diz Dona Sônia.
Iniciativa atende comunidades do Rio e SP
Projeto tem como público-alvo alunos da rede pública e empreendedores das comunidades. No Rio, na primeira edição, foram oferecidas aulas de introdução e conceitos iniciais de empreendedorismo para cerca de 40 alunos do Colégio Estadual Aydano de Almeida.
Ao todo foram realizadas sete aulas que abordaram noções básicas de empreendedorismo como:
Análise de custos de um negócio;
Lei da oferta e da demanda; e
Conceitos como caixa, dívida e juros.
Parceria entre projetos para atender comunidades. Para promover a iniciativa em São Paulo, Patrick Appel, presidente do Empreendedorismo na Veia, em 2024, firmou parceria com o projeto Unidos de Paraisópolis, que disponibilizou seu centro de ensino para as aulas.
Novos e antigos empreendedores. Na primeira edição, foram atendidos cerca de 20 alunos entre 12 e 56 anos. A maioria já operava um pequeno negócio.
"A maioria dos alunos está cursando o ensino médio. Por isso, a primeira coisa que falo para eles é para focarem nos estudos primeiro, depois empreender. Em São Paulo, onde atendemos também adultos, cinco alunos já tinham negócio e buscava orientação para sua gestão."
Patrick Appel, presidente do Empreendedorismo na Veia em 2024
Curso com linguagem simples e acessível. Ele conta que a primeira edição do projeto foi de muito aprendizado. "O conteúdo das aulas foi sendo moldados aos poucos. Percebi que a primeira aula foi muito técnica, por exemplo, já deixamos a segunda aula mais simples e fomos mexendo no programa ao longo do curso para deixá-lo mais acessível."
Projeto deve virar negócio para muitos alunos. Ao final do curso, os alunos tinham de entregar um trabalho com uma ideia de negócio. A maioria, segundo Appel, focou em propostas que poderiam sair do papel. "No Rio, grande parte queria ter sua própria marca de roupas causais. Em São Paulo, o foco era melhorar o negócio que tinham. Muitas eram empreendedoras que faziam bolo para vender. Ensinamos a precificar o seu produto, planejar estoque e a gerir seu negócio", conta Appel.
Amigos, amigos. Negócios à parte. Segundo ele, um problema comum apontado pelas boleiras era os descontos pedidos por amigos para comprar o produto. "Mostramos a importância de manter os preços e não agir pela emoção para não gerar problemas futuros para o negócio, por exemplo.'
Fluxo de caixa e estoque eram ponto de atenção de empreendedores. Outro ponto levantado durante as aulas em negócios já abertos por alunos foi os gastos com insumos. "Muitos não sabiam como planejar o estoque para não comprar demais ou de menos para garantir fluxo de caixa e manter o negócio rentável, por exemplo."
Bolo caseiro tem grande apelo em comunidades. Appel diz que a produção de bolos para vender é muito comum em comunidades. "É um produto que não precisa de ingrediente caros, a maioria já tem habilidades para produzir e pode fazer na própria cozinha de casa."
Meta é expandir atuação em mais escolas e em outros estados. "Queremos ampliar o nosso leque de atuação, oferecendo cursos simultâneos de forma online em São Paulo e no Rio, além de seguir para outros estados. Em São Paulo, a ideia é promover mais três turmas online ou presencial, e no Rio, mais dois cursos online e dois presenciais", explica Sofia Ryme, 16 anos, atual presidente do projeto.
A ideia de Sofia é usar a tecnologia para apresentar a mesma aula que está sendo dada de forma presencial em uma escola, simultaneamente online em outra.
A expectativa é de que sejam atendidas 90 pessoas em 2025. As próximas turmas em São Paulo e no Rio devem começar ainda em fevereiro. Em Paraisópolis, as aulas são realizadas de manhã, e no Rio à noite. Os próximos estados que devem receber as aulas ainda não foram definidos.
Aulas práticas e teóricas. "Nossa ideia é complementar as aulas com a vivência de um negócio. Vamos levar os empreendedores a feiras de artesanato e de negócios para eles terem noção de como divulgar e vender os seus produtos, na prática", conta Sofia.