Topo
Notícias

Veteranos no Congresso dizem que emendas pioraram relação com governo

Hugo Motta, novo presidente da Câmara, em dia de votação  - Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025
Hugo Motta, novo presidente da Câmara, em dia de votação Imagem: Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025
do UOL

Do UOL, em Brasília

05/02/2025 05h30

Parlamentares que já foram líderes durante outros governos veem emendas como mudança de chave na relação entre Executivo e Legislativo.

O que aconteceu

Ex-líderes veem novo jogo de forças. O crescimento das emendas parlamentares, o aumento do poder das bancadas no Congresso e a polarização partidária mudaram a relação entre o Executivo e o Legislativo, avaliam parlamentares ouvidos pelo UOL.

"Piorou", diz Hauly. De acordo com o deputado Luiz Carlos Hauly (Pode-PR), 74, ex-líder durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2001), a relação entre Executivo e Congresso "piorou muito".

Governistas apontam Congresso muito mais forte. Para aliados do governo Lula (PT), o problema é o excesso de força do Congresso, devido ao aumento exponencial do volume de emendas que o governo é obrigado a pagar, independentemente de qualquer negociação.

Opositores e independentes criticam cenário anterior. Planalto tentava obter o apoio do Legislativo com base na negociação sobre a liberação de emendas, o chamado "presidencialismo de coalizão".

Havia margem de negociação de apoio em troca da liberação de emendas. No final do governo FHC e no início do primeiro mandato de Lula (2003-2006), o valor das emendas girava em torno de R$ 2 milhões para cada congressista, e o pagamento não era obrigatório.

Hoje montante dificulta barganha. Cada parlamentar possui atualmente ao menos R$ 40 milhões em emendas, cujo pagamento pelo governo é obrigatório. Isso dificulta que o Executivo possa batalhar por apoio.

Relação com Executivo "piorou muito", diz Hauly - Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025 - Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025
Relação com Executivo "piorou muito", diz Hauly
Imagem: Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025

Parlamentares trataram de pressão de forma corriqueira no cafezinho. Um senador e um deputado, da base aliada vindos do Nordeste e do Centro-Oeste, conversavam no cafezinho do Senado no sábado (1º), depois do discurso em que o recém-eleito Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) exigia respeito às decisões do Congresso. Eles pediram salada de frutas e café ao garçom. Enquanto o pedido não chegava, articulavam os planos para as eleições de 2026. Mas, então, o deputado mudou de assunto. Ele pediu que o senador conversasse com Alcolumbre sobre as emendas deles. E continuou: "Nós não vamos votar nada se [o governo Lula] não pagar nossas emendas". O senador lembrou o discurso de Alcolumbre, que foi elogiado pelo deputado. O senador então destacou: "Ele disse: 'Ou libera as emendas ou o pau quebra'".

Amizade com ministros resolvia, diz ex-deputado. Enivaldo Ribeiro (PP-PB), 89, foi deputado entre 1995 e 2006 pelo PP. Ele conta que, nos anos 1990, o que contava para conseguir liberação de emendas era sua amizade com ministros. Ribeiro calcula que àquela época as emendas não chegavam a R$ 40 mil por ano por parlamentar.

Emenda era "prêmio". O senador Marcelo Castro (MDB-PI), 74, diz que, nos anos 1990, o governo liberava a maior parte das emendas apenas ao final do ano, mediante "bom comportamento" dos parlamentares. "Havia uma relação de submissão do Legislativo ao Executivo."

Bastava amizade, afirma Enivaldo - Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025 - Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025
Bastava amizade, afirma Enivaldo
Imagem: Eduardo Militão/UOL/01.fev.2025

Bolsonaro turbinou "emendas de relator". Durante seu governo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aumentou as "emendas de relator", criando a primeira versão do orçamento secreto, que ampliou o poder do Congresso, pois cabia aos presidentes das Casas direcionar as emendas entre aliados. Para o senador Renan Calheiros (MDB-AL), líder do governo na era Fernando Collor (1990-1992), "isso mudou a relação entre os Poderes".

O problema continuou no terceiro governo Lula. Há menos poder e margem de manobra sobre as emendas — cuja execução está, grande parte das vezes, atrelada aos ministérios. Ou seja, o Executivo precisa negociar com mais gente antes de conseguir ver um projeto aprovado.

A maior dificuldade da governabilidade é a polarização, porque o eleitor está patrulhando o seu deputado ideologicamente. Não está olhando para o que é bom ou não é bom para o Brasil. Está olhando do lado 'esquerda e direita'.
Ricardo Barros, deputado federal (PP-PR), líder de governo nas gestões de FHC, Lula, Dilma, Michel Temer (MDB) e Bolsonaro

Notícias