USAID: futuro de agência humanitária americana é incerto após desmantelamento e acusações do governo
Ao mesmo tempo em que os governos dos EUA, Canadá e México fecharam acordos temporários para suspender as tarifas comerciais impostas dias antes pelo governo de Donald Trump, outros países já se preparam para enfrentar as novas normas do presidente norte-americano. O futuro da USAID - agência norte-americana para o Desenvolvimento Internacional - é incerto, após Elon Musk dizer que o órgão, que ajuda cerca de 150 países, é uma organização criminosa.
Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles
Criada em 1961 para levar ajuda humanitária a países carentes de necessidades básicas como nutrição, educação, saúde, a USAID sempre foi uma maneira de os Estados Unidos apoiarem territórios em crises, mas também uma forma de os norte-americanos estarem presentes nesses países, o chamado 'soft power'.
Donald Trump disse que nos próximos dias deve tomar uma decisão sobre o futuro da USAID. Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados Unidos, declarou na segunda-feira (3) que o Departamento de Estado assumiu o papel de administrador interino da USAID e que toda a atividade da agência deve ser revisada para ficarem alinhadas as operações com o interesse nacional, sem deixar ainda claro quais são esses interesses no momento.
O secretário afirmou que alguns programas devem ser mantidos e culpou os funcionários de não cooperarem com essa espécie de pente do governo. Rubio falou que quer fazer uma grande reforma no órgão, mas que será realizada com consultas ao Congresso já que o dia foi de críticas. Os democratas dizem que Trump não tem autoridade para desmantelar a agência. Já Trump fala que não precisa do Congresso para isso. "Não quando se trata de fraude", disse o presidente, acusando a USAID de ser gerida por "lunáticos radicais" e de ter desperdiçado recursos durante o governo de Joe Biden.
Tudo parado
Na segunda-feira, a sede da agência em Washington foi fechada. Houve manifestação em frente ao prédio, os funcionários foram dispensados e contratados em missões internacionais pelo mundo ficaram isolados e sem apoio. Até a página online da USAID saiu do ar. Os funcionários descrevem o cenário como "apocalíptico", e destacam que o desmantelamento da agência ameaça vidas e a imagem global dos EUA, citando projetos essenciais em campos de refugiados e crises humanitárias.
Quem está à frente dessa campanha para extinguir a agência é o bilionário e membro do governo atual, Elon Musk, que lidera a tarefa de cortar gastos do governo. Após a equipe dele ser impedida de acessar sistemas confidenciais da agência, os funcionários que proibiram o acesso foram afastados. Em seguida, Musk acusou a USAID de ser uma organização criminosa.
Ainda na segunda, senadores democratas denunciaram que equipes do Departamento de Eficiência Governamental, que é liderado por Musk, tiveram acesso ao sistema de pagamentos do governo federal que armazena dados privados de milhões de pessoas que recebem benefícios e aposentadoria, e alegaram que isso seria ilegal e perigoso.
Um mês de teste
As tarifas que entrariam em vigor nesta terça, contra México e Canadá, estão temporariamente canceladas. Trump voltou atrás depois de se reunir tanto com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, quanto com o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. O acordo vale por 30 dias, tempo em que os vizinhos prometeram reforçar a segurança nas fronteiras com os Estado Unidos para coibir o narcotráfico e a entrada de fentanil.
Tanto México quanto o Canadá disseram que irão enviar 10 mil militares para as fronteiras, mas esse mesmo comprometimento de reforçar as fronteiras foi negociado pelos governos vizinhos em dezembro, quando o presidente Joe Biden estava no cargo.
Mesmo assim, as tarifas dos dois lados estão suspensas por um mês. De acordo com Trump, trata-se de um teste, ou uma prova de fogo dessa cooperação. As tarifas para a China, permanecem.
Benjamin Netanyahu chegou
Nesta terça-feira, às 16h (horário de Washington D.C., 18h em Brasília) Trump recebe o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no primeiro encontro bilateral do novo mandato de Trump. Está prevista uma reunião de uma hora, depois os dois participarão de uma entrevista coletiva na Casa Branca e seguirão para um jantar oferecido pelo governo dos Estados Unidos.
Essa visita acontece diante de um frágil acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em Gaza. E, claro, que esse será o assunto principal. Na segunda, Trump chegou a dizer que não tem "garantias de que a paz se manterá."
Já o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, que ajudou a finalizar a primeira fase do acordo, declarou: "estamos certamente esperançosos". Os mediadores já começaram negociações para uma segunda fase do acordo, que inclui a libertação de todos os reféns restantes e encerrar a guerra definitivamente.
O líder israelense disse que ele e Trump discutiriam "a vitória sobre o Hamas e o eixo terrorista iraniano em todos os seus componentes", referindo-se aos representantes do Irã na região, incluindo o Hamas. O presidente da Câmara, Mike Johnson, falou que também deve se encontrar com Netanyahu, no Capitólio, na quinta-feira (6).