Juliette Binoche, ícone do cinema francês, presidirá júri do 78° Festival de Cannes
O Festival de Cannes escolheu a atriz Juliette Binoche, um dos rostos mais conhecidos do cinema francês no mundo, além de uma personalidade politicamente engajada, para presidir o júri de sua 78ª edição, prevista para acontecer de 13 a 24 de maio de 2025. A atriz francesa de 60 anos sucede à diretora de "Barbie", Greta Gerwig, que presidiu o júri no ano passado. Na ocasião, ela concedeu a Palma de Ouro ao filme norte-americano "Anora", de Sean Baker.
O Festival de Cannes destacou, em um comunicado, que "pela segunda vez na história do festival, duas artistas mulheres se sucederão" na presidência do júri. O episódio precedente remonta aos anos 1960, quando o ícone do cinema italiano, a atriz Sophia Loren, sucedeu a britânica Olivia de Havilland (de "E o Vento Levou...").
Seis décadas depois, com Juliette Binoche, o maior encontro mundial do cinema escolhe uma das estrelas francesas mais conhecidas internacionalmente, apreciada tanto pelo público quanto pela crítica.
Binoche é uma das raras artistas a conquistar a "tríplice coroa" de atuação na Europa. Em 2010, foi premiada em Cannes por "Cópia Fiel", do iraniano Abbas Kiarostami. Em 1993, venceu o prêmio de Melhor Atriz na Mostra de Veneza por "A Liberdade é Azul", que lhe rendeu no ano seguinte também o César francês de melhor interpretação feminina.
Em 1997, ela ganhou o Urso de Prata de interpretação na Berlinale com "O Paciente Inglês", de Anthony Minghella, filme que também a fez ganhar o Bafta do Reino Unido e a consagrou como o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, que lhe abriu as portas da carreira internacional.
A atriz, que trabalhou com cineastas franceses como Jean-Luc Godard e Leos Carax, além do polonês Krzysztof Kieslowski, do canadense David Cronenberg e do austríaco Michael Haneke, é uma habituée do Festival de Cannes, onde desfilou pelo tapete vermelho pela primeira vez em 1985 com "Encontro", de André Téchiné, que a revelou para o grande público.
Artista engajada
"Estou ansiosa para compartilhar esses momentos de vida com os membros do júri e o público. Em 1985, subi as escadarias pela primeira vez com o entusiasmo e a incerteza de uma jovem atriz. Jamais imaginei voltar 40 anos depois neste papel de honra de presidente do júri. Tenho plena consciência do privilégio, da responsabilidade e da necessidade absoluta de humildade", declarou ela no comunicado.
Com Binoche, o Festival de Cannes aposta em uma artista cidadã e engajada, que não hesita em se posicionar politicamente à esquerda, seja defendendo os direitos humanos, ou causas ambientais e os direitos de pessoas sem documentação legal.
Recentemente, ela assinou um manifesto intitulado em protesto contra os cortes orçamentários previstos pelo governo francês para o setor cultural. Em 2022, ela fez parte do grupo de 50 celebridades francesas que cortaram os cabelos em solidariedade às mulheres iranianas.
No contexto do movimento #MeToo, que tem reconfigurado o cenário do cinema mundial nos últimos anos e que não poupa definitivamente os festivais, a atriz francesa se posiciona ao lado das vítimas de violência sexual. Tendo vivido o cinema das décadas de 1980 e 1990, marcado muitas vezes pela onipotência dos diretores, ela recentemente pediu que os homens também rompam o silêncio sobre o tema.
Faltando 99 dias para a abertura, o festival ainda precisa compor o restante do júri. A lista dos filmes selecionados para a competição oficial deve ser anunciada em meados de abril.
Relação com o Brasil
Embora nunca tenha rodado uma película no Brasil, Juliette Binoche participou de eventos culturais no país, incluindo festivais de cinema como o Festival do Rio e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde apresentou alguns de seus filmes.
Em 2024, ela havia sido cotada como a primeira escolha da diretora brasileira Christiane Jatahy para protagonizar sua versão para "Hamlet", de Shakespeare, que fez temporada no prestigioso Teatro Odéon, em Paris, personagem que acabou sendo encarnado finalmente pela também atriz francesa Clotilde Hesme. Após a estreia, Binoche confiou à RFI Brasil que estava "aliviada", porque "Clotilde é magnífica no papel" do atormentado príncipe dinamarquês.
Em 2016, ela estrelou a peça "Antígona", de Sófocles, dirigida pelo belga Ivo van Hove, que foi apresentada em São Paulo, uma turnê teatral que fortaleceu seu vínculo com o público brasileiro. Ainda dentro de seu engajamento político, Binoche expressou seu apoio a causas ligadas à preservação da Amazônia e à proteção dos povos indígenas do Brasil, assinando petições e participando de campanhas de conscientização.
(RFI com AFP)