Homem branco alega ser vítima de 'racismo reverso'; mas isso existe?

A sexta turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça) julga nesta terça-feira (4) o recurso de um suposto caso de "racismo reverso" em Alagoas. Um homem branco acusou um homem negro de injúria racial depois de receber mensagens afirmando que ele tinha uma cabeça "branca, europeia e escravagista".
Racismo reverso existe?
Não. Pesquisadores ligados ao tema explicam que o racismo demarca que uma parte da população sofreu com uma exploração oficial da sociedade, com exploração do trabalho, segregação financeira, de moradia e perseguição cultural sob a justificativa da raça. É estrutural. Segundo a historiadora e professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano Luciana Brito, em entrevista ao UOL em 2020, seria preciso que a população branca tivesse sido submetida ao mesmo período de privações e condições para defender a existência de um suposto "racismo reverso".
Discriminação e racismo são diferentes. Pessoas podem discriminar individualmente umas às outras a partir de estereótipos ou unir-se em grupos comuns, como coletivos que isolam a participação de brancos, homens ou mulheres para discutir ideias entre si. Isso pode ser interpretado como discriminação, mas não como racismo.
O que diz a lei? O crime de racismo existe desde 1989 no Brasil e pune, entre outras coisas, quem impede acesso a locais, recusa atendimento, nega empregos ou oferece salários menores com base na cor, etnia ou raça —sem explicar qual a cor exata da vítima de racismo no Brasil. Isso abre margem para interpretação do juiz, em casos de processo.
Racismo no Brasil
Os efeitos não foram reparados. A ideia de "raça" foi criada para tentar justificar o domínio que já era imposto a outras populações de forma violenta. Os efeitos do racismo no Brasil não foram reparados logo após o fim da escravidão, e são sentidos pela população negra e indígena. Negros são a maioria da população brasileira, mas estão entre os 75% mais pobres, são 75% vítimas de homicídio e os mais mortos por agentes do estado (polícia), são minoria na liderança de empresas, têm crédito negado sem explicação, são vítimas da falta de saneamento, estão entre os mais desempregados atualmente e principais vítimas de intolerância religiosa.
O Brasil foi a última nação independente nas Américas a abolir a escravização de negros, em 1888. Entre os séculos 19 e 20, governadores brasileiros encomendavam abertamente a "importação" de imigrantes europeus com a promessa de trabalho e casa, reparação que jamais aconteceu para centenas de milhares de escravizados após a abolição.