"Só dou beijo na boca quando decido", diz a jogadora Jenni Hermoso em julgamento contra Rubiales
Um beijo na boca de um chefe "é fora de contexto, que seja social ou no ambiente de trabalho", disse jogadora de futebol Jenni Hermoso nesta segunda-feira (3), no início do julgamento do ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales. Ele beijou a craque contra sua vontade no final da Copa do Mundo em 2023.
"Percebi que meu chefe estava me beijando e isso nunca deveria ter acontecido", disse Hermoso na sede da Audiência Nacional, em San Fernando de Henares, perto de Madri. Rubiales é acusado de agressão sexual e ter coagido a jogadora a dizer que o beijo foi consensual.
A Promotoria pede uma pena de prisão de 2 anos e meio para o ex-presidente da Federação Espanhola de Futebol. O beijo forçado aconteceu em 23 de agosto de 2023, quando as jogadoras da seleção feminina espanhola, após terem vencido a Copa do Mundo em Sydney, subiram ao pódio para receber as medalhas.
Ao parabenizar Hermoso, a número 10 do time, Rubiales segurou sua cabeça com as duas mãos e deu um beijo em sua boca, antes de soltá-la e dar dois tapinhas em suas costas.
O gesto viralizou nas redes sociais e gerou indignação no mundo todo, mas Rubiales permaneceu no cargo apesar da suspensão da Fifa e dos pedidos de renúncia, inclusive do governo espanhol. Ele só deixou o cargo em setembro de 2023.
"Eu me senti desrespeitada"
Hermoso explicou que nunca deu motivos para o ex-presidente da Federação imaginar que pudesse beijá-la na boca, independentemente da circunstância. "Só dou beijo na boca quando decido", disse a jogadora à promotora.
"Como mulher, eu me senti desrespeitada. Eles estragaram um dos dias mais felizes da minha vida. Em nenhum momento eu busquei esse ato, muito menos esperava por isso", acrescentou.
O ex-técnico da seleção feminina, Jorge Vilda, e dois ex-dirigentes da Federação, Rubén Rivera e Albert Luque, também estão sendo julgados por coações a Hermoso e podem pegar um ano e meio de prisão.
A jogadora explicou durante a audiência que estava "farta da pressão" e pediu que "a deixassem em paz", dizendo "que não aguentava mais". Disse ainda estar se sentindo "completamente desprotegida" e acrescentou que tinha "medo de andar na rua" quando voltou para a Espanha. Hermoso encontrou refúgio no México, onde jogou pelo Pachuca.
"Estando tão longe, encontrei uma maneira de me proteger mais", afirmou. Ainda assim, "até hoje, minha vida parece ter ficado em stand by", acrescentou.
Consentimento
Rubiales sempre descreveu o gesto após a final de Sydney como "um selinho" entre amigos. Mas, na opinião da Promotoria, o gesto foi imposto "de forma surpreendente e sem o consentimento ou aceitação da jogadora".
A acusação também considerou que houve "atos constantes e repetidos de pressão" sobre a atleta, sua família e amigos, para fazê-la justificar publicamente o beijo.
"Beijo forçado e agressão sexual nunca mais", escreveu a ministra da Igualdade do governo de esquerda, Ana Redondo, nesta segunda-feira no X, agradecendo a Hermoso por sua "coragem".
O julgamento ocorrerá até 19 de fevereiro e incluirá depoimentos de várias jogadoras da seleção que apoiam a atacante, incluindo a vencedora da Bola de Ouro Alexia Putellas, executivos da federação, treinadores masculinos e femininos da Espanha e especialistas.
Rubiales, de 47 anos, testemunhará a partir de 12 de fevereiro. Ele também está sob investigação judicial por suposta corrupção e contratos irregulares durante o período em que esteve à frente da federação desde 2018.
Com informações da AFP