Premiê francês adotará orçamento sem votação de deputados e se expõe a nova moção de censura
O primeiro-ministro francês, François Bayrou, aciona nesta segunda-feira (3) o artigo 49 alínea 3 da Constituição, que permite ao governo sem maioria na Assembleia dos Deputados adotar o orçamento de 2025 sem votação no plenário. Com esta decisão, Bayrou expõe o governo a uma nova moção de censura, uma vez que a esquerda radical, comunistas e ecologistas já anunciaram que votarão pela queda do governo.
O futuro de Bayrou e dos franceses está nas mãos dos deputados socialistas e da bancada de extrema direita, que ainda não se posicionaram claramente se, desta vez, irão preservar o governo da censura. Até o final da semana, Bayrou pretende recorrer novamente ao mesmo artigo constitucional para aprovar o orçamento da Previdência Social.
Nas páginas dos jornais franceses desta segunda-feira (3), empresários dizem que não aguentam mais a guerra política na Assembleia.
As discordâncias permanentes e a incapacidade dos representantes políticos de chegarem a um consenso pelo bem do país, sempre focados em seus próprios interesses eleitorais, só aumentam o déficit público e a dívida.
As divergências impedem também as empresas francesas de se projetarem no futuro e geram alta do desemprego, em meio a um contexto geopolítico e concorrencial já bastante negativo para os europeus.
Em seu editorial, o jornal Le Parisien alerta que o mundo avança sem a França e hoje o país tem a possibilidade de ter um orçamento para ser aplicado em meados de fevereiro.
O problema, segundo o diário, é que apesar das advertências dos empresários e da população, que anseia por estabilidade, os políticos franceses nunca estiveram tão desconectados da realidade como estão atualmente.
"Entre a postura daqueles que querem requisitar as empresas - uma velha fantasia stalinista - e aqueles que continuam a fazer as pessoas acreditarem que poderiam se aposentar cinco anos mais cedo, o governo dificilmente ousa delinear medidas para economizar dinheiro", critica o Le Parisien.
O jornal progressista Libération destaca que, enquanto o Partido Socialista se mantém dividido sobre manter ou não este governo, a líder de extrema direita Marine Le Pen comemora em silêncio, já que é a única força política que se beneficia eleitoralmente desse espetáculo parlamentar que desola a opinião pública francesa.
O portal de notícias Franceinfo explica que a Assembleia começa a debater nesta segunda o orçamento da Previdência Social, que prevê um aumento de € 1 bilhão de despesas para o setor da saúde.
Várias medidas defendidas pelos socialistas foram integradas aos textos orçamentários. No caso da Previdência, o déficit incialmente previsto era de € 16 bilhões, mas com o abandono de certas medidas e o atraso desde a censura do governo anterior de Michel Barnier, o valor acaba sendo maior.
O Executivo agora conta com um déficit de € 23 bilhões na Previdência, ou mesmo de € 30 bilhões na ausência de um orçamento. O Libération incita os socialistas a se distanciar da esquerda radical, superar as divisões internas e manter François Bayrou no governo, como recomendou na semana passada o ex-premiê socialista Lionel Jospin.