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Galpão da Reversa: 'Achei que pegaria iPhone, comprei calcinhas por R$ 50'

Alguns dos itens que "comprei" por R$ 50 - Camila Corsini/UOL
Alguns dos itens que 'comprei' por R$ 50 Imagem: Camila Corsini/UOL
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Do UOL, em São Paulo

03/02/2025 05h30

Não tinha muitas expectativas quando cheguei ao Galpão da Reversa, que fica escondido dentro de uma loja na Marginal Tietê, em São Paulo, e funciona desde o dia 20 de dezembro. Eu tinha R$ 50, o valor de um pacote, e um sonho: descobrir o que a sorte me reservava.

A dinâmica funciona copiando um conceito que já existe nos EUA, com a Crazy Hot Buys, e em países da Europa, com a Colis Colis. A diferença é que, aqui, o pacote tem preço fixo de R$ 50. Lá fora, o valor varia de acordo com o peso da embalagem.

Os produtos são descritos pela loja como "incríveis achados como eletrônicos e produtos das maiores plataformas" e são frutos de pacotes que foram devolvidos pelos clientes de lojas como Amazon, Shein e Shoppe, ou que se perderam a caminho do remetente.

A propaganda nas redes sociais, onde somam mais de 300 mil seguidores, é atrativa. Tem gente falando que conseguiu pegar notebook, celular, videogame. Mas também tem muito relato de quem só conseguiu cacarecos. Como eu sou meio São Tomé para essas coisas (só acredito vendo), resolvi arriscar.

Galpão da Reversa, na Lapa, funciona desde o final de dezembro - Camila Corsini/UOL - Camila Corsini/UOL
Galpão da Reversa, na Lapa, funciona desde o final de dezembro
Imagem: Camila Corsini/UOL

Como a loja está bombando nas redes sociais, imaginei que enfrentaria alguma fila e poderia conversar com bastante gente. A minha primeira surpresa foi encontrar a grade -preparada para organizar cerca de cem pessoas— vazia. A porta de ferro? Meio aberta.

Cheguei a questionar se a loja não estava funcionando, mas uma funcionária respondeu que era só eu chegar mais perto que abririam para eu entrar. Uma outra mulher me explicou as regras:

  • Era obrigada a comprar pelo menos um pacote
  • Tinha cinco minutos para escolher quantos eu quisesse
  • Poderia apalpar, pesar, medir ou chacoalhar os itens
  • Não poderia rasgar ou abrir antes do pagamento

A mesma funcionária pegou um microfone e fez a contagem regressiva. Circulei entre as seis fileiras disponíveis pegando o máximo de pacotes que poderia e tentando adivinhar o conteúdo tateando. Não senti nenhuma caixa, nem itens pesados. Enquanto isso, ouvia no alto-falante: já passaram dois minutos, não perca tempo.

Dava para perceber que a maioria dos pacotes guardava peças de roupa ou sapatos. A maior embalagem que encontrei tinha, claramente, um travesseiro. A voz continuava me pressionando, mesmo sendo a única cliente no galpão. Segui meu coração e escolhi um pacote preto de tamanho mediano, sem pensar muito. Fui até o caixa, paguei.

Ainda no estacionamento, abri o pacote. De cara vi que não tirei a sorte grande: só vieram cacarecos. Mas nada me preparou para descobrir os 17 itens que vieram na minha embalagem.

Duas calcinhas, uma cueca, uma parte de cima de biquíni, uma caneta de tablet, um cinto falso da Gucci, uma lente 'olho de peixe' para usar no celular, uma caneta em formato de cauda de sereia, um protetor de dentes para lutas, um relógio de pulso, algumas correntes de colar. E alguns itens que, até agora, não fui capaz de identificar.

Fiquei pela região por cerca de 40 minutos, e não vi outras pessoas sequer passarem perto da loja. Estranhei o movimento e perguntei para uma das atendentes se era sempre assim. "Não, não sei o que aconteceu hoje. De sexta costuma ser cheio", disse.

A reportagem procurou o Galpão da Reversa pelo e-mail disponível no site oficial da empresa para entender como funciona a logística, mas não recebeu retorno. O espaço segue aberto.

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