Chanceler não minimizou tratamento a deportados dos EUA; fala foi editada

Um vídeo compartilhado nas redes sociais engana ao insinuar que Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, concordou com o tratamento dado aos brasileiros que foram deportados dos Estados Unidos, justificando o uso de algemas durante o voo.
A fala do chanceler foi editada para dar a entender que o governo brasileiro não deu a devida atenção às violações de direitos ocorridas durante o transporte dos brasileiros vindos dos EUA.
O que diz o post
A publicação traz o trecho de uma entrevista coletiva concedida por Mauro Vieira. No vídeo, um jornalista pergunta: "Por que só agora o Brasil está dando atenção a esse fato? O que teve de diferença nesse voo?"
Na suposta sequência, o ministro responde: "...porque o avião poderia ter sofrido acidentes e problemas mais graves'". Logo após, Mauro Viera se afasta do microfone e deixa o local.
Por que é falso
Fala do ministro Mauro Vieira foi editada. Uma busca reversa (veja abaixo) leva até uma entrevista coletiva do ministro realizada no último dia 28 sobre a deportação de brasileiros em situação ilegal nos Estados Unidos. As peças desinformativas cortaram um trecho de 27 segundos da resposta do chanceler, no qual ele disse que o governo federal condenava o tratamento dado aos passageiros (aqui, aqui e abaixo). Veja o trecho completo abaixo (em destaque, o trecho utilizado nas postagens desinformativas)
Bom, primeiro que houve o acidente com o avião, quer dizer, o mau funcionamento, as condições péssimas, que nos levou a buscar as autoridades americanas para encontrar justamente condições adequadas, porque nós não podemos admitir que as pessoas venham com aquele tipo de tratamento. Inclusive correndo risco maiores, porque o avião poderia ter sofrido acidentes e problemas mais graves. Trecho completo da fala do ministro Mauro Viera
Ministro classificou deportação como "trágica". Na mesma entrevista, dada após uma reunião de Mauro Vieira com o presidente Lula, o chanceler se queixou da deportação de brasileiros dos Estados Unidos. "Essa operação foi trágica justamente pela questão de um problema mecânico no avião", disse. Vieira ainda afirmou que o governo federal estava trabalhando com autoridades norte-americanas para que a transferência "seja feita de acordo com a legislação brasileira e com as normas de segurança e de acolhimento dentro de uma aeronave" (aqui).
Itamaraty condenou abusos. Em nota oficial (aqui), o Ministério das Relações Exteriores repudiou as condições oferecidas aos deportados. "O governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O Brasil concordou com a realização de voos de repatriação, a partir de 2018, para abreviar o tempo de permanência desses nacionais em centros de detenção norte-americanos, por imigração irregular e já sem possibilidade de recurso. O Ministério das Relações Exteriores vai encaminhar pedido de esclarecimento ao governo norte-americano e segue atento às mudanças nas políticas migratórias naquele país, de modo a garantir a proteção, segurança e dignidade dos brasileiros ali residentes".
Deportados chegaram ao Brasil algemados. O voo que trouxe 88 brasileiros precisou parar em Manaus na noite do dia 24 após o avião passar por problemas técnicos (aqui). No desembarque, era possível ver que as pessoas do grupo estavam algemadas e acorrentadas pelos pés (aqui). O governo Lula reclamou de "desrespeito aos direitos fundamentais" (aqui). Policiais federais determinaram a retirada imediata das algemas e correntes. Lula solicitou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para transportar os passageiros até Belo Horizonte, que era o destino final (aqui).
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