O que explica o desempenho de Gusttavo Lima na pesquisa Quaest
A pesquisa Genial/Quaest sobre a disputa presidencial de 2026 divulgada hoje (3) mostra Gusttavo Lima no mesmo patamar de voto de políticos conhecidos de direita, como Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro.
Para cientistas políticos, o desempenho do cantor está relacionado à sua popularidade e ao fato de ser um "outsider", ou seja, alguém de fora da política.
O que mostra a pesquisa
Gusttavo Lima tem entre 12% e 13% das intenções de voto no 1º turno, quando disputa contra outros nomes fortes da direita. A Quaest testou vários cenários: com ou sem Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo; com ou sem Eduardo Bolsonaro (PL), deputado federal; com ou sem Pablo Marçal (PRTB), influenciador que perdeu a disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2024; e sem nenhum dos três.
Cantor sobe para 18% em cenário sem nenhum outro rival de peso da direita — nem Tarcísio, Eduardo Bolsonaro ou Marçal. A pesquisa não testou nenhum cenário sem a presença do cantor, então não é possível comparar seu desempenho sem oponentes à direita com o dos demais na mesma situação.
Gusttavo Lima tem desempenho muito melhor que governadores da direita. Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, têm entre 3% e 5% das intenções de voto na maioria dos cenários testados. Sobe para 8% na ausência de Tarcísio, Eduardo Bolsonaro e Marçal. Já Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, tem entre 3% e 5% na maioria dos cenários testados. Vale lembrar que o anúncio de pré-candidatura de Gusttavo Lima foi criticado por apoiadores de Jair Bolsonaro e visto como uma estratégia casada com Caiado.
Diretor da Quaest, Felipe Nunes diz que o resultado está relacionado ao nível de conhecimento da população sobre o cantor. Segundo a pesquisa, apenas 21% dos entrevistados não conhecem Gusttavo Lima. É menos da metade do registrado por Tarcísio — 45%.
Metodologia: a Quaest entrevistou 4500 eleitores em 250 municípios entre os dias 23 e 26 de janeiro. A margem de erro estimada é de um ponto percentual.
O que dizem especialistas
É muito cedo para dizer se a popularidade de Gusttavo Lima vai se reverter em votos, avalia cientista político. "Ninguém sabe o que Gusttavo Lima pensa sobre política. Ele aparece ali porque as pessoas o conhecem. Ainda não dá para dizer se isso é um antecipador de desempenho em eleição presidencial", diz Leonardo Avritzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para o cientista político Leandro Consentino, do Insper, pesquisa reforça a rejeição à classe política e indica que o fenômeno do "outsider" não é passageiro. Ele comparou a situação de Gusttavo Lima à de Pablo Marçal, que teve uma votação significativa na eleição para a Prefeitura de São Paulo e quase chegou ao segundo turno.
Gusttavo Lima tem um nível de conhecimento nacional próximo dos 80%, muito superior a outros nomes como Tarcisio, Zema e Caiado. Isso dá a ele uma vantagem competitiva. Para ser votado, é preciso ser conhecido. A essa altura da disputa, o conhecimento muito maior do cantor sertanejo acaba lhe ajudando
Felipe Nunes, diretor da Quaest
O brasileiro está apostando nesse perfil de outsider, de alguém de fora da política. Marçal ficou bem perto de chegar ao segundo turno sendo um outsider de fato. Essa pesquisa mostra que essa tendência não foi um raio em céu azul. Essa tendência talvez possa ser observada em 2026 também.
Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper
Nós vivemos uma era que eu chamo de 'política pop', que é quando o debate político é tomado pelo interesse puro e simples pelo entretenimento. O surgimento de nomes da música, das artes e da cultura digital na política retratam bem esse novo momento. Embora a 'política pop' já tenha se provado vitoriosa para cargos legislativos, ela ainda não foi capaz de vencer uma grande disputa majoritária no Brasil.
Felipe Nunes, diretor da Quaest
Rejeição
Apesar da popularidade, Gusttavo Lima tem alta rejeição. Segundo a pesquisa, 50% dos entrevistados dizem que conhecem e não votariam no cantor.
O índice é parecido com o de Lula e Michelle Bolsonaro (ambos atingiram 49% para essa resposta, num empate técnico). Têm rejeição maior Fernando Haddad (56%), Eduardo Bolsonaro (55%) e Jair Bolsonaro (53%), e há empate no limite da margem de erro com Ciro Gomes (PDT), que atingiu 52%.