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'Sentei no parapeito de uma sacada, caí e fiquei paraplégica aos 23 anos'

do UOL

Simone Machado

Colaboração para o UOL

03/02/2025 05h30Atualizada em 03/02/2025 08h46

A influenciadora digital Morgana Goulart, 35, ficou paraplégica após sentar e cair de uma sacada de cinco metros de altura. Devido à queda, ele teve uma lesão irreversível na coluna.

Há quatro meses, a moradora de Caxias do Sul (RS) passou a dividir sua rotina na internet e falar sobre as dificuldades de ser uma pessoa com deficiência. Ela conta sua história ao UOL.

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'Caí de costas de uma altura de 5 metros'

"Em junho de 2014, com apenas 23 anos, minha vida mudou totalmente. Tudo aconteceu em Manicoré, uma pequena cidade no interior do Amazonas. Na época, eu trabalhava com meu ex-namorado na produção de festas e festivais de música eletrônica. Eu estava no início dessa trajetória profissional e aprendendo os detalhes do trabalho.

Morávamos em Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros, quando conhecemos um homem que tinha uma fazenda em Manicoré e ele nos convidou para organizar uma festa na propriedade do seu pai. Aceitamos a proposta e seguimos viagem até lá.

Ao chegar na fazenda, conhecemos a casa onde seria realizada a festa. Em meio aos preparativos, sentei-me no parapeito da sacada da sala para ter uma visão melhor de como a decoração estava ficando.

Sem perceber o perigo, sentei em uma tábua de madeira que estava em más condições, que não resistiu e quebrou. Caí de costas de uma altura de cerca de 5 metros e, naquele momento, fraturei a sétima vértebra do tórax. A lesão comprimiu minha medula e, na mesma hora, passei a não sentir mais as minhas pernas.
Morgana Goulart

'Sensação insuportável de não sentir as pernas'

A fazenda era longe da cidade e o resgate foi realizado de forma improvisada. Sem ambulância e nem estrutura adequada, fui socorrida por duas enfermeiras em um caminhão com caçamba aberta. Dez homens ajudaram a segurar a maca para evitar que meu corpo fosse ainda mais prejudicado durante o trajeto pelas estradas esburacadas.

Cheguei ao pequeno posto de saúde da cidade em estado de choque e não tinha ideia da gravidade do meu quadro. Só mais tarde, com o pânico diminuindo, me dei conta da situação.

Sem os equipamentos necessários para exames detalhados, o médico local me explicou que poderia ser uma lesão grave na coluna ou uma perda temporária dos movimentos devido ao impacto. Escolhi acreditar na segunda possibilidade.

Na manhã seguinte, uma aeronave de transporte médico do SUS (Sistema Único de Saúde) veio de Manaus para me buscar.

morgana - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Morgana Goulart usa as redes sociais para falar sobre sua deficiência
Imagem: Arquivo Pessoal

Durante o voo, passei por um dos momentos mais difíceis da minha vida. O calor intenso, as náuseas causadas pelos medicamentos e a sensação insuportável de não sentir as pernas tornaram aquela uma experiência desesperadora. Os médicos tentavam me acalmar a todo momento.
Morgana Goulart

Cheguei a um hospital, em Manaus, onde a situação não era muito melhor. O local estava lotado, com pacientes espalhados pelos corredores. Fiz os exames necessários para confirmar a gravidade da lesão, enquanto aguardava os resultados em uma maca no corredor.

'Foi devastador'

Meu ex-namorado foi quem recebeu a notícia do médico: a fratura na vértebra havia causado danos irreversíveis na medula e eu não voltaria a andar.
Morgana Goulart

Ele me contou tudo com cuidado, mas aquela informação foi devastadora. Ainda assim, naquele momento, compreendi que precisaria ser forte.

Os anos seguintes foram desafiadores, mas, aos poucos, aprendi a lidar com a nova realidade. Fiz reabilitação para ter mais força no tronco e me adaptei a usar a cadeira de rodas.

Hoje, pouco mais de 10 anos depois, sigo me adaptando, sempre buscando superar as limitações e encontrar novas formas de viver.
Voltei a morar em Caxias do Sul (RS), cidade em que minha família reside, mas moro sozinha porque gosto muito da minha liberdade e busco manter minha independência.

'Quero dar visibilidade à causa'

Morgana adaptou-se à cadeira de rodas e hoje faz publicações sobre inclusão nas redes - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Morgana adaptou-se à cadeira de rodas e hoje faz publicações sobre inclusão nas redes
Imagem: Arquivo pessoal

E justamente por buscar essa independência e querer mostrar como é a realidade de uma pessoa cadeirante e a falta de acessibilidade que enfrentamos no dia a dia é que comecei a criar conteúdo para o TikTok, há quatro meses.

Eu tinha muita vergonha de gravar vídeos, mas minha maior motivação foi tentar dar mais visibilidade a essa causa e dar voz a nós, pessoas com deficiência. E tem dado muito certo: estou com mais de 140 mil seguidores e busco ser uma representatividade no assunto."

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