'Último ditador da Europa': presidente de Belarus tenta 7° mandato e oposição denuncia 'farsa eleitoral'
Os bielorrussos votam neste domingo (26) em uma eleição presidencial que deve reeleger o autocrata Alexander Lukashenko para um sétimo mandato consecutivo, um pleito considerado uma "farsa" pela oposição que vive principalmente exilada. Em entrevista à RFI, um ex-embaixador membro da oposição denuncia as condições do escrutino, em um país onde milhares de pessoas estão detidas como presos políticos.
Entrevista de Anastasia Becchio, da RFI em Paris
O presidente de 70 anos governa este país aliado da Rússia com mão de ferro desde 1994. A União Europeia, os críticos de Lukashenko e grupos de direitos humanos já afirmaram que as eleições deste domingo são uma fraude. "Temos uma democracia brutal em Belarus. Não pressionamos ninguém e não silenciamos ninguém", rebateu Lukashenko diante da imprensa após votar.
Em 30 anos à frente do Estado bielorrusso, o "último ditador da Europa", como é apelidado Lukashenko, erradicou todas as formas de oposição. O chefe de Estado conseguiu conter várias ondas de protesto contra seu regime, incluindo manifestações em massa contra a fraude eleitoral após as eleições de 2020.
"Isso não é uma eleição. É um simulacro de eleição", denuncia Pavel Latouchka, ex-embaixador e ex-ministro da Belarus, atualmente vice-chefe do Gabinete Unido de Transição no exílio. "É impossível falar sobre uma eleição em um país onde há milhares de presos políticos. Não são 1.300, e sim milhares, porque muitas pessoas não obtêm o status de prisioneiro político por medo de serem torturadas nas prisões onde estão detidas", explica em entrevista à RFI. "Os candidatos da eleição presidencial anterior, como Sergei Tikhanovski e Viktor Babariko, ainda estão na prisão", relembra.
O ex-embaixador ressalta ainda que a mídia independente foi ao poucos eliminada e que 50% das organizações não governamentais desapareceram, assim como os partidos de oposição. "Há um clima de medo e terror. Há prisões todos os dias. Acabei de ler no Telegram que 20 motoristas de caminhão foram presos quando voltavam da Europa, simplesmente porque eram assinantes da mídia independente. Nesse clima, é impossível organizar uma eleição", relata Latouchka.
Apesar disso, o ex-embaixador não deseja que os eleitores boicotem o pleito. "Conclamamos as pessoas a irem às seções eleitorais, não para votar, mas para marcar a opção 'contra todos'. A lei prevê essa opção na cédula de votação", aponta. "Somos contra o obscurantismo, contra esse regime, contra Alexander Lukashenko. Temos que mostrar a ele que nada mudou desde 2020 [quando o país foi tomado por manifestações contra o governo]. Ele vai fraudar as eleições. Eu diria até que ele terá 88% dos votos, o que é um ponto a mais do que Putin. Ele quer mostrar que tem mais apoio do que seu mestre", prevê.
Apoio de Putin
Com o apoio de seu aliado russo Vladimir Putin, Lukashenko conseguiu se manter no poder por meio de detenções, violência e duras penas de prisão contra opositores, jornalistas, trabalhadores ou simplesmente manifestantes. Em fevereiro de 2022, ele também permitiu que Moscou utilizasse seu território para lançar a invasão à Ucrânia.
De acordo com a ONU, mais de 300.000 bielorrussos, de uma população de nove milhões de habitantes, fugiram por motivações políticas, principalmente para a Polônia.
Diante desta repressão, os países ocidentais impuseram uma série de sanções a Belarus, levando Lukashenko a acelerar sua aproximação com o Kremlin e a abandonar sua estratégia de equilibrar Moscou e o Ocidente.
(Com agências)