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Lula celebra 'Ainda Estou Aqui' no Oscar, mas foge de debater ditadura

Presidente Lula e a primeira-dama Janja se encontram com a atriz Fernanda Torres na ONU - Ricardo Stuckert / PR
Presidente Lula e a primeira-dama Janja se encontram com a atriz Fernanda Torres na ONU Imagem: Ricardo Stuckert / PR
do UOL

Do UOL, em Brasília

23/01/2025 13h43Atualizada em 23/01/2025 13h43

O presidente Lula (PT) e a cúpula do governo celebraram as indicações do filme "Ainda Estou Aqui" ao Oscar, mas têm fugido do debate sobre a ditadura militar brasileira, tema central do longa.

O que aconteceu

O longa, dirigido por Walter Salles, foi indicado a três prêmios, incluindo melhor filme e melhor atriz, para Fernanda Torres. A obra conta a história da família do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto pelo regime militar, em busca do reconhecimento do seu corpo.

Lula saudou as indicações nas redes sociais e quase todos os ministros prestaram homenagens. "Quanto orgulho", disse o presidente, mandando beijos à atriz, que o visitou em Nova York, durante a Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), enquanto promovia o filme nos Estados Unidos.

Na prática, no entanto, o governo tem feito pouco sobre o tema-chave do longa. Lula não só mandou, pessoalmente, cancelar qualquer evento em memória dos 60 anos do golpe, no ano passado, como a gestão pouco tem avançado com a Comissão de Mortos e Desaparecidos.

Melhor deixar quieto

O Ministério dos Direitos Humanos, ainda sob Silvio Almeida, tinha planos significativos para o fim de março do ano passado. Em 1º de abril (embora o regime tenha implementado a comemoração em 31 de março), se completaram 60 anos do golpe de Estado que depôs João Goulart, em 1964, e o ministro queria marcar a data.

Almeida queria um evento no Planalto e campanha nas redes sociais. Sob o pretexto de "defesa da democracia" —uma das bandeiras do atual governo—, o plano era que ele e Lula discursassem repudiando o Golpe de 64 e as atuais sanhas golpistas, incluindo os atentados de 8 de Janeiro.

Lula não quis. O presidente não só informou o ministro que não haveria evento como pediu que cancelasse qualquer movimentação do ministério ou de qualquer outra pasta, incluindo campanhas e postagens em redes sociais. Assim, para o governo, os 60 anos do golpe passaram batidos.

Isso gerou críticas, em especial dentro da esquerda. Apoiadores do presidente questionavam que seu posicionamento não batia com os discursos pró-democracia que ele havia feito na campanha e depois de eleito. Eles até foram ao Palácio do Planalto para cobrá-lo. Ele, no entanto, respondeu que este era um movimento de "bolha" e não havia por que mexer neste vespeiro.

Lula também não queria se indispor com os militares. Após as tentativas golpistas de 8 de Janeiro, o presidente tem tentado se equilibrar entre marcar posição em defesa da democracia e não envolver as Forças Armadas na polêmica, apesar de militares terem sido indiciados no inquérito do golpe.

Como resposta, ele recriou a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos em julho de 2024. Extinto por Jair Bolsonaro (PL), o grupo revivido, no entanto, não tem avançado.

Aliados dizem que Lula só fez isso para "acalmar parte da esquerda", mas, como em seus primeiros mandatos, não vê nesta uma questão central a ser discutida —o que vai na direção oposta ao que propõe o filme "Ainda Estou Aqui".

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