Estudo francês aponta para divisão desigual de tarefas domésticas entre pais e mães
Uma pesquisa do Departamento de Investigação, Estudos, Avaliação e Estatística francês, publicado nesta quinta-feira (23), mostra que a volta ao trabalho do pai e da mãe marca a persistência das desigualdades na partilha de tarefas, apesar da melhoria da situação durante o período de licença.
Segundo reportagem publicada pela France Info, a prorrogação da licença de pais e mães, que entrou em vigor em 2021, reduziu as desigualdades. Mas apesar de uma melhoria neste período, o regresso ao trabalho do pai e da mãe mostra que a partilha das tarefas domésticas e parentais segue desigual. É o que conclui a pesquisa da Direção de Investigação, Estudos, Avaliação e Estatística (Drees).
Em julho de 2021, a duração da licença paternidade, ou do segundo progenitor, passou de 11 para 25 dias, somando-se aos três dias de licença de nascimento, obrigatória desde 2002. A reforma teve como objetivo reforçar o vínculo entre pais e filhos e promover a igualdade de gênero através do reequilíbrio da partilha das tarefas domésticas e parentais entre os dois progenitores. Muitos pais aproveitaram esta licença prolongada, que lhes permitiu investir mais no trabalho doméstico e parental, reduzindo as desigualdades com as mães, revelou a primeira parte deste estudo do Drees, publicado em julho de 2023.
A pesquisa, realizada com cerca de 60 pais de crianças nascidas em 2021, mostrou, no entanto, que as disparidades entre os cônjuges não desapareceram. O estudo citou especificamente os cuidados domésticos, como lavar as roupas, e a carga mental de organizar a vida doméstica, o que recai principalmente sobre as mães. Além disso, o novo equilíbrio familiar foi rapidamente perturbado pela retomada da atividade profissional dos pais.
"Relação afetiva"
Mas qual é a situação dois anos após o nascimento da criança? Os pais entrevistados "afirmam a importância de desenvolver uma relação afetiva com o filho", nota o Drees, que constata uma evolução face às gerações anteriores. Porém, os valores reivindicados pelos pais nem sempre estão alinhados com as suas ações.
"Embora a maioria dos pais enfatize que o nascimento do filho foi uma oportunidade para rever as prioridades entre a vida profissional e a vida familiar, esse fato teve pouco efeito concreto no seu compromisso com o trabalho doméstico".
No final da licença, "muitas vezes é dada prioridade ao emprego" e apenas "uma minoria de pais opta por reduzir o seu horário de trabalho". O estudo refere, no entanto, que o recurso ao trabalho remoto "facilita o equilíbrio família-emprego" e permite a determinados pais "gerir as suas responsabilidades familiares, por vezes sem o conhecimento do [seu] empregador".
Para estar presente com o filho sem fazer muitas concessões profissionais, os pais "na maioria das vezes selecionam determinadas atividades que possam fortalecer, aos seus olhos, a sua relação com o filho" devido a uma "interação considerada agradável". Melhoram assim a hora de brincar, a leitura de histórias ou as atividades ao ar livre e desportivas, explica Drees.
Para as mães, "tarefas mais invisíveis"
Mas no dia a dia, os homens também investem menos que as suas parceiras nas tarefas domésticas, com o argumento de uma "falta de disponibilidade relacionada a questões profissionais", "apesar dos ideais igualitários exibidos", nota mais uma vez o estudo. Para compensar, alguns pais investem mais no trabalho doméstico nos finais de semana. No entanto, privilegiam "tarefas pelas quais sentem certo prazer", ou para as quais se consideram mais competentes, como cozinhar ou arrumar a casa.
Outros sugerem a terceirização de certas tarefas, contratando empregadas domésticas, pedindo ajuda à família para cuidar do filho ou fazendo compras de mantimentos pela Internet. Nas falas dos pais entrevistados, "o trabalho doméstico feminino é relegado ao lado das tarefas mais invisíveis", observa o Drees.