Ucrânia quer organizar encontro com Trump, diz Zelensky em Davos
A Ucrânia trabalha para organizar uma reunião entre seu presidente, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A declaração foi feita pelo chefe de Estado ucraniano nesta terça-feira (21), após um discurso em que pediu aos líderes europeus maior empenho na defesa do continente. "As equipes estão trabalhando para viabilizar o encontro, e o processo está em andamento", afirmou Zelensky em entrevista durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Donald Trump, que reassumiu a presidência dos Estados Unidos na segunda-feira (20), já havia declarado anteriormente que encerraria rapidamente a guerra na Ucrânia, embora não tenha explicado como isso seria feito.
Zelensky também reforçou que a Ucrânia não aceitará as exigências da Rússia para reduzir drasticamente o tamanho de suas forças armadas. Ele prevê que o presidente russo, Vladimir Putin, tentará impor que o exército ucraniano seja reduzido a 1/5 do atual contingente. "É isso que ele quer. Mas não permitiremos que isso aconteça", afirmou o líder ucraniano.
Em seu discurso, Zelensky destacou que a Europa precisa se consolidar como um ator global forte, capaz de garantir a paz e a segurança tanto para si quanto para outras regiões. Ele também sugeriu que a influência da Europa sobre os Estados Unidos tem diminuído, já que Washington considera insuficiente a contribuição europeia para a segurança global.
"Alguém nos Estados Unidos teme que a Europa os abandone ou deixe de ser sua aliada? A resposta é não", concluiu o presidente ucraniano.
"Autonomia europeia" na Defesa
Durante seu discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, Volodymyr Zelensky destacou ainda a necessidade de uma política de segurança e defesa unificada na Europa. Ele enfatizou que o continente deve ser capaz de se proteger sem depender exclusivamente dos Estados Unidos, especialmente diante de ameaças como uma possível aliança entre Irã e Rússia.
"A Europa precisa saber se defender sozinha", declarou Zelensky nesta terça-feira, um dia após a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. A cerimônia de investidura do magnata foi marcada por um discurso que priorizou os interesses norte-americanos na diplomacia e na economia global, além de uma série de decretos de caráter protecionista.
Zelensky também demonstrou preocupação com as intenções do chefe da Casa Branca em relação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "O presidente Trump dará atenção à Europa? Ele considera a Otan necessária? E respeitará as instituições europeias?", questionou o líder ucraniano, embora tenha classificado os Estados Unidos como "um aliado indispensável".
Segundo Zelensky, Washington já indicou que suas prioridades de segurança estão focadas no Oriente Médio e na região do Pacífico Asiático. No início de janeiro, Trump criticou os membros da Otan, exigindo que aumentassem seus investimentos em defesa para 5% de seus PIBs.
"A Europa merece ser mais do que uma mera espectadora, com seus líderes reduzidos a postar mensagens no X após os acordos já terem sido concluídos", criticou Zelensky.
Investimento em drones ucranianos
O presidente ucraniano também aproveitou o fórum para pedir que os países europeus invistam na tecnologia de drones desenvolvida pela Ucrânia, uma área em que o país se especializou desde o início da invasão russa, há quase três anos.
Zelensky voltou a mencionar a "imprevisibilidade" de Donald Trump, que, segundo ele, poderia ser um fator decisivo para encerrar o conflito com a Rússia. Trump já havia declarado, antes de sua posse, que seria capaz de acabar com a guerra entre Ucrânia e Rússia em "24 horas" caso fosse reeleito.
Presente, apesar de sua ausência
O Centro de Congressos de Davos esteve repleto de personalidades do mundo político, empresarial e acadêmico nesta terça-feira, ansiosas para fazer novos contatos. Mas quase todos eles concentravam suas expectativas, de fato, em alguém que não estará lá. Mais do que em 2024, quando seu possível retorno à Casa Branca assombrou muitas conversas em Davos, Donald Trump esteve na mente de todas as lideranças este ano na reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF) na Suíça.
"Todos estão fascinados, alguns estão aterrorizados, outros se divertem com a ideia de que isso será emocionante. Mas a maioria está insegura", declarou Graham Allison, professor da Universidade Kennedy de Harvard, nos Estados Unidos, ao lado da sala de conferências do fórum que ele afirma acompanhar há 40 anos.
Nem a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, nem o vice-premiê chinês, Ding Xuexiang, mencionaram seu nome durante seus discursos de abertura na terça-feira. Mas desde a noite de segunda-feira (20), a posse do 47º chefe de estado norte-americano ofuscou o início da reunião de Davos. Diversos telões foram sintonizados na cerimônia em Washington, com transmissões até mesmo para as recepções que tradicionalmente animam as noites do resort durante a semana de reuniões do WEF.
Uma delas foi organizada bem perto do centro de conferências pelo jornal norte-americano Washington Post, de propriedade do bilionário Jeff Bezos - ele mesmo presente ao lado de Donald Trump em Washington, juntamente com outros bilionários como Elon Musk, Mark Zuckerberg e o francês Bernard Arnault.
"Imprevisível"
Os primeiros anúncios surpreendentes de Trump chegaram até mesmo às vans que circulam entre o centro de conferências e os hotéis em Davos. De todos os sentimentos que pairam sobre esta edição de 2025, a incerteza é o que domina.
"Primeiro temos que ver se ele vai fazer o que diz que vai fazer", disse a diretora de uma empresa de construção suíça perto da sala de conferências nesta terça-feira, que preferiu para não dar seu nome, lembrando o caráter "imprevisível" de Trump.
"Hoje, os Estados Unidos estão prontos para fazer qualquer coisa para ter sucesso", continuou, dizendo que estava esperando a quinta-feira e o discurso do presidente por videoconferência para esse público de líderes empresariais e políticos para ter uma ideia mais clara sobre a questão.
Ela foi rapidamente interrompida por um conhecido que encurtou a conversa: "Estou extremamente otimista, muito feliz e eufórico com o mundo depois da posse de Trump", disse o homem, que escondeu seu crachá por medo de ser identificado e se recusou a dizer mais, enquanto lançava, ao sair: "Temos esperança".
A troca de ideias reflete um certo desconforto no mundo dos negócios, entre a admiração por um presidente bilionário que passou a vida fazendo negócios e que compareceu ao fórum de Davos duas vezes durante seu primeiro mandato, e a preocupação com seus reflexos protecionistas, que vão contra os valores da globalização defendidos pelo evento há décadas.
A imprevisibilidade também domina o mundo acadêmico e os primeiros anúncios feitos por Trump na segunda-feira com sua retirada do acordo climático de Paris e da Organização Mundial da Saúde. "Tudo isso afetará nosso trabalho e a vida das pessoas", afirmou Jemilah Mahmood, diretora-executiva do Sunway Centre for Global Health, na Malásia.
Apesar das notícias do outro lado do Atlântico, Trump "não está dominando todo o cenário" do fórum, ela garante. "Se estou otimista? Na verdade, não. Se estou pessimista? Sim, um pouco", conclui, lembrando que "Trump estará no poder por quatro anos, e os desafios que estamos enfrentando durarão mais de quatro anos".
(Com AFP)