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O que gelo de 1,2 milhão de anos retirado das profundezas pode revelar

Pesquisadores perfuraram gelo de mais de 2 mil metros de profundidade - ©PNRA/IPEV
Pesquisadores perfuraram gelo de mais de 2 mil metros de profundidade Imagem: ©PNRA/IPEV
do UOL

Do UOL, em São Paulo

20/01/2025 05h30

Uma equipe de cientistas de diversas nacionalidades conseguiu perfurar um gelo de 1,2 milhão de anos na Antártida. O fato histórico pode ajudar os pesquisadores a obterem dados sobre o clima e a meteorologia da Terra.

O que aconteceu

Ao todo, foram 200 dias de operações de perfuração. Os pesquisadores trabalharam a uma altitude de 3,2 mil metros acima do nível do mar com uma temperatura média de -35ºC. O feito faz parte do projeto "Beyond EPICA - Oldest Ice", financiado pela União Europeia.

É um momento histórico para a ciência climática e ambiental. Este é o registro contínuo mais longo do nosso clima, que foi obtido a partir de um núcleo de gelo e que pode revelar a interligação entre o ciclo do carbono e a temperatura do nosso planeta.
Carlo Barbante, professor da Universidade Ca' Foscari de Veneza e coordenador do Beyond EPICA

gelo - ©PNRA/IPEV - ©PNRA/IPEV
Amostras de gelo serão levadas para a Europa, onde equipe deve fazer análises
Imagem: ©PNRA/IPEV

Equipe internacional perfurou 2,8 mil metros de profundidade do gelo até atingir a parte rochosa. Localizado na Antártida, o gelo é chamado de Pequeno Domo C e foi perfurado a tal ponto que a equipe conseguiu encontrar o leito de rocha firme que está por baixo dele.

Pesquisadores acreditam que o gelo tem dados sobre a história do clima na Terra. Segundo o projeto, o gelo pode revelar informações sobre as temperaturas atmosféricas, além de trazer amostras intocáveis de como era o ar com gases de efeito estufa em um período de 1,2 milhão de anos.

Gelo mais profundo pode ajudar a testar teorias. A equipe ainda analisou que a parte mais profunda do gelo, aquela que está a 210 metros da parte rochosa, está fortemente deformada, o que indicaria que o gelo pode ter se misturado ou passado por um processo de recongelamento ainda desconhecido. A partir do estudo dessa parte do gelo, os pesquisadores podem compreender melhor a história da glaciação da Antártida.

Pesquisas poderão trazer conhecimento sobre o período em que ciclos glaciais desaceleraram. Conhecido como a transição do Pleistoceno Médio, época do planeta entre 1,25 milhão e 900 mil anos atrás, os ciclos glaciais passaram de intervalos de 41 mil anos para intervalos de 100 mil anos. Em outras palavras, a Terra começou a ficar mais fria em um intervalo de tempo maior. Ainda não existem conclusões científicas sobre o que poderia ter provocado essa mudança. As respostas podem trazer informações importantes sobre as mudanças climáticas.

Amostras serão levadas à Europa para estudo. O processo será um desafio logístico, já que o transporte deverá manter o gelo a uma temperatura de -50ºC.

Para alcançar esse objetivo, foi desenvolvida uma estratégia envolvendo o projeto de contêineres de frigoríficos especializados com a programação precisa dos recursos aéreos e navais do Programa Nacional de Pesquisa Antártida.
Gianluca Bianchi Fasani, chefe de logística do projeto

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