Carro está há quase um mês preso a fenda de ponte que desabou no MA

Um Fiat Palio ano 2012 está até hoje preso em uma fenda aberta no desabamento da ponte JK, ocorrido há quase um mês. No dia 15, a Justiça Federal deu um prazo de dez dias para a retirada do veículo, a cargo do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes).
O carro foi comprado há pouco mais de um ano pelo vendedor Gabriel Assunção, 30, que atua no setor agropecuário e depende do veículo para trabalhar. No momento do desastre, ele estava acompanhado da cunhada e da esposa, Laís Lucena, 28.
O UOL conversou com casal, que relembrou o dia do acidente e revelou os impactos sofridos pela ausência do automóvel.
O que aconteceu
Desabamento da ponte em dezembro deixou 14 mortos. A ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que fica entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), desabou por volta das 15h em 22 dezembro de 2024. Dez veículos caíram dentro do rio Tocantins. Três pessoas ainda estão desaparecidas.
Juiz responsável pelo caso vê indício de conduta omissiva. "Há fortes indícios da conduta omissiva do DNIT quanto à adoção de medidas preventivas ou reparadoras em face da precária infraestrutura da Ponte Juscelino Kubitschek", diz o juiz Georgiano Rodrigues Magalhães Neto, da 1ª Vara Federal Cível e Criminal de Imperatriz (MA), em um trecho do documento publicado no dia 15.
Magalhães também reconhece a necessidade de uso do veículo para trabalho. "O perigo de dano, por sua vez, surge do fato de que o autor utiliza o veículo como instrumento de trabalho (vendedor/representante comercial de produtos agropecuários), o que agrava os prejuízos advindos da impossibilidade de uso do bem", diz no documento.
Danos morais e materiais
Carro similar pode ser requerido para trabalho. "Caso não seja possível a retirada por questões de segurança, a Justiça exige que o DNIT forneça um carro similar ao proprietário, com valor e características equivalentes", afirma o advogado de Gabriel, Daniel Andrade.
Advogado solicitou uma liminar para garantir reparação de danos materiais e morais. "Pediremos um valor entre R$ 30 mil e R$ 50 mil pelo carro e R$ 100 mil por danos morais", afirma. A ação principal será movida após a avaliação das condições do veículo. "Ainda não sabemos o estado do carro, mas ele é essencial para o trabalho e sustento da família", afirma o advogado.
Gabriel conta que sua renda caiu drasticamente. "Minha vida mudou 100%. O carro era meu único meio de transporte, e sem ele não consigo visitar clientes", lamenta. Dezembro e janeiro são os meses em que mais faturaria com início do plantio, período em que faz vendas de defensivos agrícolas.
A gente estava tão feliz quando comprou o carro. Agora, vê-lo lá é angustiante
Laís Lucena, autônoma
O dia do acidente: rachadura de meio metro e volta para pegar o celular
Gabriel lembra de ter sentido algo estranho ao cruzar a ponte com a esposa e a cunhada. "Vi que ela estava rachada e esfarelada. Na volta, começou a balançar muito. Quando olhei de novo, tudo estava caindo", relata.
Escapando de ré e rachadura de meio metro. O vendedor deu ré e pediu para que todos saíssem do veículo. "Minha esposa e cunhada hesitaram por causa da rachadura. Disseram que não conseguiriam pular, mas acabaram pulando. Era um espaço de cerca de 50 centímetros", lembra. "Ainda voltei para pegar o celular debaixo do freio de mão", revela.
Laís descreve o momento como "surreal". "Vimos o caminhão cair, a ponte tremendo. Achei que não conseguiríamos sair", diz a autônoma.