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Com 'Netanyahu infeliz', só 1ª fase de trégua é provável, dizem analistas

Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, participa de reunião no centro de comando do Ministério da Defesa em Tel Aviv - GPO/AFP
Primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, participa de reunião no centro de comando do Ministério da Defesa em Tel Aviv Imagem: GPO/AFP
do UOL

Do UOL, em São Paulo

18/01/2025 22h36Atualizada em 18/01/2025 22h57

A primeira fase da trégua entre Israel e o Hamas não está em risco e deve realmente começar neste domingo (19), seguindo acordo fechado nesta semana, avaliam analistas ouvidos pelo UOL.

Os especialistas acreditam, no entanto, que a pausa é temporária e que o governo israelense continuará com as operações militares em Gaza para desmantelar a infraestrutura do Hamas. Neste sábado (19), Benjamin Netanyahu fez um pronunciamento em que voltou a ameaçar cancelar o cessar-fogo, exigindo uma lista dos reféns a serem libertados.

O que aconteceu

Acordo mediado por atores internacionais é sólido, mas Netanyahu está infeliz. Para o premiê, negociar com o Hamas é visto como uma derrota. Netanyahu prometeu que aniquilaria o grupo terrorista, mas teve de negociar com ele.

Primeira fase da trégua não está ameaçada, segundo analistas. Acordo prevê a libertação de 33 reféns israelenses, de forma gradual. Neste domingo (19), a expectativa é de que pelo menos três sejam libertados.

Pressão internacional e doméstica. Há muita pressão internacional e doméstica para que o acordo se concretize, com diversas partes interessadas, avalia a professora Karina Stange Calandrin, especialista em relações internacionais do Ibmec-SP e assessora acadêmica do Instituto Brasil-Israel.

Apesar das declarações firmes de Netanyahu, o cessar-fogo parece sólido, pois foi mediado por atores internacionais e há um compromisso mútuo em andamento. No entanto, como em qualquer situação de alto conflito, imprevistos podem ocorrer, especialmente se houver falhas na comunicação ou incidentes no terreno Karina Stange Calandrin, especialista em relações internacionais do Ibmec-SP e assessora acadêmica do Instituto Brasil-Israel

Benjamin Netanyahu deve tensionar o acordo até o limite. A entrega dos três reféns deve acontecer amanhã, mas a postura do primeiro-ministro tentará produzir uma impressão de que não está satisfeito com o cessar-fogo, diz o professor Michel Gherman, coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

A intenção de Netanyahu é tensionar, produzir uma impressão junto ao grupo de extrema direita, do qual ele faz parte, de que ele está infeliz com o acordo. É importante notar que o acordo produz a vitória para o Hamas, afinal de contas é um acordo assinado com o Hamas, ou seja, a grande bandeira e agenda do Netanyahu de destruir o Hamas não faz sentido. O acordo acontecer e as vítimas dos sequestros aparecerem é uma derrota para ele Michel Gherman, coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos da UFRJ

Continuidade da trégua depende da condição dos reféns

15.jan.2025 - Manifestantes erguem cartazes de reféns em Gaza durante ato em frente ao Ministério da Defesa de Israel, em Tel Aviv - Jack Guez/AFP - Jack Guez/AFP
15.jan.2025 - Manifestantes erguem cartazes de reféns em Gaza durante ato em frente ao Ministério da Defesa de Israel, em Tel Aviv
Imagem: Jack Guez/AFP

Condição de saúde dos reféns será determinante para avanço do cessar-fogo. O acordo foi dividido em três fases. A primeira começa amanhã. A segunda, no início de fevereiro, prevê a libertação dos demais reféns. A terceira, e última, ainda depende das negociações. Para Gherman, as condições nas quais os reféns serão entregues podem mudar os rumos da trégua.

Pode ser que a situação das vítimas seja tão ruim que essas condições do retorno delas possam mudar o perfil da segunda fase do acordo. Tenho suspeitas de que as outras fases do acordo possam não sair Michel Gherman

Para o professor, Netanyahu deve boicotar a segunda fase do acordo. "O retorno dessas pessoas impossibilita aquilo que ele sonha: a continuidade da guerra. A primeira fase acho que vai sair, já a segunda fase, ele vai fazer de tudo para melar —por causa do compromisso que ele fez hoje de que a guerra continua. O projeto da extrema direita israelense é de genocídio e Netanyahu precisa manter a guerra para que isso se confirme".

Caso Israel descumpra o cessar-fogo, o país corre o risco de enfrentar uma série de consequências. Entre elas, a condenação por parte de aliados e da comunidade internacional, que têm pressionado pelo cessar-fogo como parte do esforço humanitário. Além disso, há o risco da retomada de hostilidades por parte do Hamas e outros grupos, o que pode intensificar o conflito.

Karina Stange Calandrin destaca que o descumprimento do acordo pode prejudicar esforços diplomáticos futuros, dificultando a resolução do conflito a longo prazo. "Ainda assim, a justificativa de qualquer descumprimento, como uma ação do Hamas que possa ser interpretada como quebra do acordo, será um fator determinante para a resposta internacional".

O acordo foi anunciado na quarta-feira por Catar, Egito e Estados Unidos, mediadores das negociações, mas só foi aprovado pelo governo israelense na sexta-feira. Apesar da aprovação, as famílias dos reféns temem que o acordo fracasse, já que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrenta pressão de membros de extrema direita de seu gabinete.

Guerra deve continuar após a libertação dos reféns

Palestinos inspecionam a destruição ao retornar a Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, após o bombardeio israelense ao campo ter parado em 29 de novembro de 2024 - EYAD BABA/AFP - EYAD BABA/AFP
Palestinos inspecionam a destruição ao retornar a Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza, após o bombardeio israelense ao campo ter parado em 29 de novembro de 2024
Imagem: EYAD BABA/AFP

Karina Stange Calandrin diz que há risco da continuidade de guerra após a libertação dos reféns. Ela explica que, dentro da coalizão de governo, há partidos de extrema direita, como o liderado por Bezalel Smotrich, que são contrários ao cessar-fogo e pressionam para que as operações militares continuem, mesmo durante as negociações.

Esses partidos argumentam que uma pausa fortalece o Hamas e compromete a segurança de Israel. "Com isso, a pressão interna aumenta a probabilidade de Israel retomar os ataques logo após a liberação dos reféns, especialmente se houver qualquer provocação ou ataque vindo de Gaza", avalia a especialista.

Para ela, a continuidade das operações dependerá também da resposta internacional. A professora cita a pressão exercida por aliados como os Estados Unidos, que têm defendido uma abordagem mais equilibrada e humanitária no conflito.

Netanyahu ameaçou cancelar cessar-fogo

Benjamin Netanyahu se reúne com ministros israelenses para votação de cessar-fogo - Divulgação - Divulgação
Benjamin Netanyahu se reúne com ministros israelenses para votação de cessar-fogo
Imagem: Divulgação

Primeiro-ministro israelense ameaçou hoje cancelar o cessar-fogo. Netanyahu disse neste sábado que não haveria trégua até Israel receber lista de reféns a serem libertados pelo Hamas no domingo (19). Segundo ele, só assim será possível prosseguir com a primeira troca de prisioneiros prevista no acordo de trégua com o Hamas. "Não prosseguiremos com a implementação do acordo até que tenhamos recebido, conforme acordado, a lista de reféns que serão libertados", disse Netanyahu.

Netanyahu também disse que Israel mantém "o direito de retomar a guerra". O premiê declarou que terá o apoio dos Estados Unidos nos termos do acordo de trégua.

"Não toleraremos qualquer violação dos termos do acordo", acrescentou a declaração de Netanyahu. Segundo informações fornecidas pelas duas partes, a primeira troca de prisioneiros não deverá ocorrer antes das 15h30 no horário da França (11h30 em Brasília) de domingo, seis horas após a entrada em vigor da trégua.

Estimativa é de que 98 pessoas, sendo 94 delas capturadas no 7 de outubro, ainda estejam em Gaza. Outras 36 tiveram suas mortes confirmadas pelo Exército israelense.

Acordo pretende pôr fim a mais de 15 meses de uma guerra devastadora que deixou dezenas de milhares de mortos no território palestino. Numa primeira fase, que se estenderá por seis semanas, as hostilidades devem cessar e 33 reféns israelenses mantidos em cativeiro na Faixa de Gaza devem ser libertados em troca de 737 prisioneiros palestinos.

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