Cuba começa a libertar prisioneiros após acordo com Biden de retirada da ilha de lista de terrorismo
Cuba libertou 127 prisioneiros nesta quinta-feira (16), incluindo o líder da oposição José Daniel Ferrer, após acordo histórico com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que resultou em reencontros emocionantes em toda a ilha comunista.
O acordo de Biden de retirar o país da lista de Washington de patrocinadores do terrorismo é parte de uma tentativa de última hora para consolidar seu legado antes de entregar o poder a Donald Trump, na segunda-feira (20).
Em troca de ser retirado da lista de terrorismo dos EUA, que inclui Coreia do Norte, Irã e Síria, a empobrecida Cuba prometeu libertar 553 pessoas ? muitas das quais, segundo a administração Biden, são "prisioneiros políticos".
O líder da oposição José Daniel Ferrer, 54 anos, era o nome de maior relevância da lista. "Graças a Deus ele está em casa", disse Nelva Ortega à AFP, sobre o marido, que esteve preso e em liberdade várias vezes nas últimas duas décadas. Sua última prisão durou três anos e meio.
Logo após sua liberação na quinta-feira (17), Ferrer pediu aos cubanos em um programa de rádio baseado em Miami para "não terem medo" de enfrentar um governo que ele disse estar "cada vez mais assustado" e "cada vez mais fraco".
A maioria foi presa por participar dos grandes protestos de julho de 2021 contra o governo, devido a apagões recorrentes, escassez de alimentos e aumento de preços.
Maricela Sosa, vice-presidente do Supremo Tribunal, disse que "entre quarta e quinta-feira, 127 (detidos) receberam liberação antecipada."
A AFP viu quatro prisioneiros saírem da prisão de San Miguel del Padrón, nos arredores da capital Havana, na quinta-feira.
Marlon Brando Diaz, que cumpria uma pena de 18 anos por sua participação nos protestos de 2021, disse, entre lágrimas, que estava agradecido por "uma nova chance na vida."
"É um novo começo", disse ele, enquanto abraçava membros emocionados de sua família.
"Movimento arriscado"
O acordo com Washington abre caminho para um aumento dos investimentos dos EUA na ilha caribenha, que está sob embargo comercial há mais de seis décadas.
No entanto, como sinal de que o descongelamento pode ser de curta duração, o escolhido por Trump para o cargo de secretário de Estado, o senador da Flórida Marco Rubio, sugeriu que a decisão de Biden poderia ser revertida.
Filho de imigrantes cubanos, Rubio é veementemente crítico do governo de Cuba e afirmou que a administração de Trump não estaria vinculada às políticas de Biden.
"Não há dúvida alguma na minha mente de que eles (o governo cubano) atendem a todas as qualificações para serem considerados patrocinadores do terrorismo", disse ele durante sua audiência de confirmação no Senado dos EUA, na quarta-feira.
O fluxo de libertações de prisioneiros causou angústia nas famílias que ainda aguardam notícias de seus entes queridos. As autoridades não divulgaram uma lista ou um cronograma de quem ainda será libertado.
Analistas disseram que Cuba pode estar adiando a liberação para garantir que Trump cumpra o acordo quando retornar à Casa Branca na próxima semana, com os prisioneiros restantes servindo como barganha.
Se for o caso, "é um movimento bastante arriscado", disse Michael Bustamante, professor de estudos cubanos na Universidade de Miami. "A administração Trump pode não gostar nada desse jogo", acrescentou ele à AFP.
Onda de repressão de 2003
Ferrer, natural da província oriental de Santiago, esteve preso e em liberdade por mais de 20 anos. Pescador e pai de seis filhos, ele foi um dos 75 prisioneiros políticos condenados a 25 anos de prisão em 2003, como parte da onda de repressão conhecida como a "Primavera Negra", desencadeada pelas autoridades.
Ferrer foi libertado em 2011, com outros 130 prisioneiros políticos, após mediação da Igreja Católica, mas resistiu à pressão para se exilar.
Ainda naquele ano, ele fundou a União Patriótica de Cuba (UNPACU), uma das organizações de oposição mais ativas em um Estado de partido único que proíbe a formação de partidos rivais.
Foi preso novamente em 11 de julho de 2021, ao tentar se juntar a um dos maiores protestos desde a revolução que levou Fidel Castro ao poder em 1959.
As autoridades afirmam que cerca de 500 pessoas foram sentenciadas a até 25 anos de prisão por conta da agitação, mas grupos de direitos humanos e a embaixada dos EUA em Havana afirmam que o número se aproxima de 1.000.
Declarado "prisioneiro de consciência" pela Anistia Internacional, a prisão de Ferrer tem sido um ponto de disputa mundial.
Bustamante descreveu sua liberação como uma "grande" notícia. "Ele é alguém que seguiu o curso", afirmou Bustamante, observando sua "longa história de ativismo político."