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Governador de MT sugere monitorar juízes e políticos com câmeras corporais

Fala de Mauro Mendes desagradou o Judiciário - Mauro Mendes/Facebook/Divulgação
Fala de Mauro Mendes desagradou o Judiciário Imagem: Mauro Mendes/Facebook/Divulgação
do UOL

Do UOL, em São Paulo

16/01/2025 15h41Atualizada em 20/01/2025 22h10

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), sugeriu que, além dos policiais, os desembargadores, juízes e políticos também sejam monitorados por câmeras corporais. A declaração causou polêmica entre membros do Judiciário do estado.

O que aconteceu

A fala ocorreu durante uma entrevista à Rádio CBN Cuiabá, quando ele opinava sobre o uso de câmeras nas fardas da polícia. O governador disse que os agentes que cometem irregularidades são minoria e citou magistrados "que vendem sentença" para sugerir que, por causa desses, todos sejam monitorados.

Um ou dois policiais, 1% ou 2% cometem alguma coisa errada. Vamos colocar em todo mundo, vigiar todo mundo. Então tá bom. Vamos colocar câmera em todos os políticos, em todos os governadores, prefeitos, deputados estaduais. Ei, mas tem juiz que também vende sentença, foi flagrado vendendo sentença, desembargador vendendo sentença. Então vamos colocar câmeras em todos os juízes e desembargadores. E Ministério Público também.
Mauro Mendes (União), governador de Mato Grosso

O presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT), desembargador José Zuquim Nogueira, reagiu às declarações do governador. Em nota, ele afirmou que Mendes colocou em dúvida a honra e honestidade de todos os membros do Judiciário. "A partir de uma falsa simetria e de forma irresponsável, o governador atacou gratuitamente as instituições do sistema de Justiça, o que não é compatível com a posição a qual ocupa", declarou.

A Associação Mato-Grossense de Magistrados (Amam) também se manifestou. A entidade disse que as afirmações do governador "são inaceitáveis" e informou que tomará as decisões judiciais cabíveis "a fim de não tolerar tentativas de deslegitimar as instituições que são pilares da nossa democracia".

O agente político, seja de que esfera for, deverá sempre se pronunciar com esmero e equilíbrio, diferentemente do lamentável episódio protagonizado pelo governador.
Desembargador José Zuquim Nogueira, presidente do TJ-MT

Comparar a atuação dos policiais com a de juízes e desembargadores ao mencionar casos de venda de sentença, a declaração foi não apenas infundada, como também lamentavelmente ofensiva a toda a classe jurídica e distorceu o propósito da Justiça. Amam-MT

Após a repercussão, o governo estadual divulgou uma nota em que afirmou que Mauro Mendes não atacou a magistratura estadual ou qualquer outra categoria, e que a fala foi interpretada de forma equivocada. "Ele falou de forma genérica que casos de erros cometidos por profissionais da segurança podem ocorrer, mas também em diversas profissões e na classe política - a qual o próprio governador pertence", diz o comunicado.

Mato Grosso foi palco de um suposto esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça do estado. A Polícia Federal investigou o caso envolvendo advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados. Servidores e dois desembargadores —Sebastião Moraes e João Ferreira Filho— foram afastados no fim do ano passado.

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