'Figurões da Lava Jato' entram na defesa de Bolsonaro e general sobre golpe

Principais criminalistas do Brasil foram chamados para atuar na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do general Braga Netto, agora que a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 entra na reta final. No currículo dos "figurões" de São Paulo está a defesa de grandes empresários e políticos investigados nas maiores operações do país, incluindo a Lava Jato.
O que aconteceu
Entrada após a prisão de general. Os advogados Celso Vilardi e José Luis de Oliveira Lima começaram a trabalhar oficialmente no caso após a prisão de Braga Netto. A família do general da reserva procurou Oliveira Lima em dezembro do ano passado, dias após a prisão do militar por tentativa de obstrução da investigação. Já Vilardi entrou na semana passada na defesa de Bolsonaro, após ter sido procurado por um advogado já na equipe dele.
Os dois advogados são colegas de longa data e estão entre os principais criminalistas do país. Entre os casos em que já atuaram estão a Lava Jato e o mensalão. A chegada deles é vista como uma mudança de patamar para as defesas, já que os dois têm bom trânsito com ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). Também é citado o protagonismo que tiveram na defesa de grandes empresários e políticos nas principais operações policiais do país e em escândalos.
Experientes, eles devem adotar estratégia de embates, mas sem entrar na retórica bolsonarista. A expectativa é que a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e que foi crucial para a prisão de Braga Netto, seja questionada. Outros pontos da investigação devem ser enfrentados de forma técnica. O próprio Vilardi já deu entrevistas recentemente afirmando que a investigação contra Bolsonaro seria "enviesada".
Ainda sem efeito prático. A entrada dos criminalistas ainda não teve um resultado. Nesta quinta, o ministro Alexandre de Moraes negou o pedido para devolver o passaporte de Bolsonaro para que ele pudesse acompanhar a posse de Donald Trump nos EUA. Na decisão, ele inclusive criticou a defesa, dizendo que não havia cumprido a determinação dele de acrescentar documentação comprovando o convite para o evento.
Busca por "reforço" na defesa teria partido de Flávio Bolsonaro. No caso do ex-presidente, segundo apurou o UOL, teria partido do filho mais velho de Bolsonaro, que também é advogado, a iniciativa de reforçar a equipe que defende o pai.
Vilardi foi procurado por um integrante da equipe de defesa do ex-presidente há cerca de 40 dias. Primeiro contato se deu no mês passado pelo advogado Daniel Tesser. Vilardi vinha conversando com Bolsonaro por telefone, até que bateram o martelo para ele entrar oficialmente no caso em uma reunião presencial na semana passada. Além de Tesser, está na equipe com Vilardi o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno.
Caso difícil e 'virada de chave' após prisão de general. Clima no Supremo, que foi um dos principais alvos de ataques do bolsonarismo nos últimos anos e teve seus integrantes monitorados por militares envolvidos na trama golpista, é desfavorável ao ex-presidente. Além disso, a prisão inédita de um general de quatro estrelas mostrou que as chances de prisão de Bolsonaro são reais.
A PF já indiciou ex-presidente e outros 39 por tentativa de golpe, tentativa de abolição do Estado de Direito e organização criminosa. A corporação ainda deve encaminhar nos próximos dias um relatório complementar ao STF com informações levantadas a partir das prisões e buscas realizadas após a apresentação do relatório final da investigação. A partir daí, caberá à Procuradoria-Geral da República analisar o caso e decidir se apresenta ou não denúncia contra os envolvidos.
Da Castelo de Areia a Abdelmassih
Vilardi e Oliveira Lima já atuaram para petistas. O primeiro defendeu o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, enquanto o segundo atuou na defesa do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), ambos durante o julgamento do mensalão.
Vilardi ainda defendeu empreiteiras antes e durante a Lava Jato. Ele representou a Camargo Corrêa na Operação Castelo de Areia, realizada em 2009 e que foi predecessora da Lava Jato. Houve suspeitas de cartel e corrupção envolvendo empreiteiras e os principais políticos do país. Na Lava Jato, ele atuou na defesa de empresas como Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez, além de executivos, chegando a fechar alguns acordos de colaboração premiada.
Oliveira Lima em casos de estupro e assédio. O advogado defendeu Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa acusado de assédio sexual, e o médico Roger Abdelmassih, condenado por estuprar pacientes em sua clínica.
Folha mostrou que criminalistas já assinaram manifestos contra gestão Bolsonaro. Os dois assinaram, em 2020, o manifesto Basta!, documento que contou com cerca de 700 assinaturas de juristas contra os ataques do governo Bolsonaro às instituições e criticando também as omissões na pandemia de Covid-19.
Reação a tentativa de golpe. Eles também assinaram, em 2022, a "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito", lida em um ato na Faculdade de Direito da USP em agosto daquele ano em reação à suposta tentativa de Bolsonaro de manter no poder.