Indicado a primeiro-ministro estende a mão ao Hezbollah e quer reconstruir o Líbano
Por Laila Bassam
BEIRUTE (Reuters) - O indicado a primeiro-ministro do Líbano, Nawaf Salam, disse nesta terça-feira que suas mãos estão "estendidas a todos", em um gesto para o grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irã, que acusou seus adversários de terem tentado excluí-lo ao indicar Salam para o cargo.
O presidente Joseph Aoun designou formalmente o juiz presidente da Corte Internacional de Justiça para formar o próximo governo nesta terça-feira, após obter o apoio da maioria dos parlamentares no dia anterior.
A indicação de Salam refletiu uma mudança dramática no equilíbrio de poder no Líbano, um resultado dos fortes golpes desferidos contra o Hezbollah durante a guerra do ano passado com Israel, além da destituição de seu aliado sírio Bashar al-Assad, em dezembro.
Isso ocorre após a eleição, na semana passada, de Aoun, ex-chefe do Exército libanês, que tem o apoio dos EUA e da Arábia Saudita.
Falando após a reunião, Salam afirmou que está comprometido com a reconstrução necessária devido à guerra do ano passado entre Israel e o Hezbollah, e que é a hora de "um novo capítulo" no Líbano "enraizado na justiça, segurança, progresso e oportunidades".
A reconstrução "exige a implementação total da Resolução 1701 (da ONU) e de todas as disposições do acordo de cessar-fogo e a imposição da retirada completa do inimigo do último centímetro ocupado de nossas terras", disse, referindo-se a Israel.
O Hezbollah queria que o primeiro-ministro Najib Mikati mantivesse o cargo e acreditava que isso havia sido garantido nos termos de um acordo político pelo qual seus parlamentares endossaram Aoun como presidente na semana passada, segundo fontes do Hezbollah.
Mas Salam obteve o apoio de 84 dos 128 parlamentares, entre eles deputados cristãos, drusos e muçulmanos sunitas, incluindo tanto aliados quanto opositores do Hezbollah.
OUTRA DIVISÃO SECTÁRIA?
O Hezbollah e seu aliado xiita Movimento Amal, que juntos detêm todos os assentos no Parlamento reservados aos muçulmanos xiitas, não apoiaram ninguém e indicaram que não pretendem se juntar ao governo de Salam. Isso aumenta a perspectiva de uma nova ruptura sectária -- a menos que ele consiga convencê-los do contrário.
Salam disse que apoia a unidade e é contra a exclusão.
"Este é meu apelo sincero e minhas mãos estão estendidas a todos", afirmou.
Aoun, em comentários publicados na conta da Presidência no X, disse que a nomeação de Salam foi "um processo democrático" e também pareceu reconhecer a preocupação do Hezbollah, dizendo que "se um grupo for desfeito, todo o Líbano estará quebrado".
Durante muito tempo o Hezbollah exercia influência decisiva sobre indicações como essa, com seu papel sustentado por um poderoso arsenal que, segundo os críticos, prejudicou o Estado e arrastou unilateralmente o Líbano para guerras regionais.
De acordo com o sistema sectário de compartilhamento de poder do Líbano, a Presidência vai para um cristão maronita, o primeiro-ministro deve ser um muçulmano sunita e o presidente do Parlamento deve ser um xiita.
(Reportagem de Laila Bassam, Clauda Tanios e Tala Ramadan em Dubai)