Cúpula sobre educação de meninas começa com constatação de atraso em países muçulmanos e apelos para ajudar afegãs
No primeiro dia de uma conferência sobre a educação de meninas iniciada neste sábado (11), em Islamabad, representantes de cerca de 40 países, ativistas e organizações internacionais pediram às autoridades do Paquistão para melhorar o acesso à educação de meninas em comunidades muçulmanas. A paquistanesa Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2014 por seu ativismo nessa área, falará na conferência no domingo.
Em seu discurso de abertura do encontro, o primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Shari, disse que o mundo muçulmano, incluindo o Paquistão, enfrenta grandes desafios para garantir acesso igualitário à educação de meninas. "Negar educação às meninas equivale a rejeitar suas vozes e escolhas, privando-as do direito a um futuro brilhante", afirmou o dirigente paquistanês.
Dezenas de milhões de meninas estão fora da escola em países de maioria muçulmana, como Afeganistão, Bangladesh e Nigéria, entre outros. O próprio Paquistão enfrenta uma grave crise educacional e tem uma das maiores taxas de evasão escolar do mundo: mais de 26 milhões de crianças são afetadas, principalmente devido à pobreza, de acordo com dados oficiais.
O vizinho Afeganistão foi convidado para o evento na capital paquistanesa, mas nenhum representante do grupo fundamentalista islâmico Talibã, que governa o país impondo restrições obscurantistas às meninas e mulheres afegãs, participa dos debates, de acordo com o ministro da Educação paquistanês, Khalid Maqbool Siddiqui. Apenas alguns afegãos que trabalham para organizações internacionais estão presentes, detalhou o ministro.
Desde que o Talibã voltou ao poder em 2021, o Afeganistão é o único país do mundo onde meninas e mulheres não têm permissão para frequentar o ensino médio ou a universidade. A ONU denunciou um "apartheid de gênero", o que o governo talibã nega, alegando que a lei islâmica "garante" direitos para homens e mulheres no país.
A chefe da missão da ONU no Afeganistão (Manua), Roza Otunbayeva, chamou a atenção para o baixo grau de alfabetização dos afegãos, estimado atualmente em 37% do total da população masculina e apenas 20% das mulheres, entre os piores índices no mundo. A representante das Nações Unidas fez um apelo aos países presentes na cúpula para oferecerem bolsas de estudo às mulheres afegãs.
"Crimes contra meninas"
A ativista paquistanesa Malala Yousafzai chegou a Islamabad no sábado para participar dos debates. Ela expressou sua emoção e alegria por estar de volta ao seu país, de onde teve que fugir após uma tentativa de assassinato de fundamentalistas talibãs em 2012. Desde então, Malala mora no Reino Unido e se tornou uma personalidade importante e porta-voz global da educação feminina.
"Estou realmente honrada, emocionada e feliz por estar de volta ao Paquistão", disse Malala ao desembarcar em Islamabad.
Em 2012, Malala ficou gravemente ferida na cabeça quando seu ônibus escolar foi atacado por fundamentalistas no remoto Vale do Swat, perto da fronteira com o Afeganistão. Ela foi levada ao Reino Unido para receber tratamento médico e, desde então, retornou em raras ocasiões ao seu país natal. Em 2014, aos 17 anos de idade, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz por suas ações em defesa do direito das meninas à educação.
Na sexta-feira, Malala revelou na rede social X parte do que pretende dizer na conferência sobre a situação das afegãs. "Falarei sobre os direitos que devem ser protegidos para que todas as meninas possam ir à escola e por que os líderes devem responsabilizar o Talibã pelos crimes cometidos contra mulheres e meninas", escreveu no X.
O pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, apelou a "todos os líderes muçulmanos (...) para defenderem a educação das meninas, principalmente no Afeganistão". Ele afirmou à AFP não estar vendo "nenhuma medida ou ação importante por parte do mundo muçulmano sobre essa questão".
Além de ministros, embaixadores de cerca de 40 países e dignitários religiosos, estudantes e alunas participaram do evento. "Pelo menos é uma boa iniciativa em favor da educação de meninas muçulmanas", disse Zahra Tariq, uma estudante de psicologia clínica de 23 anos. "Aquelas que vivem em áreas rurais ainda enfrentam problemas", destacou a universitária. "Em alguns casos, as famílias são o primeiro obstáculo (à escolaridade)", explicou.
Já o secretário-geral da Liga Muçulmana Mundial, Mohammed Al-Issa, apontou que é um "engano" pensar que educar meninas não está de acordo com o islamismo. Esta organização é considerada o braço diplomático da Arábia Saudita.
Com AFP