Inquérito do golpe: Valdemar responde a todas as perguntas da PF sobre urna
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, visitou nesta quinta-feira (12) o ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), em seu gabinete e depois depôs por uma hora e 20 minutos à Polícia Federal em um dos desdobramentos da investigação sobre tentativa de golpe de Estado. Segundo o UOL apurou, ele respondeu a todas as perguntas dos investigadores.
O que aconteceu
Presidente do PL depôs em investigação sobre juiz federal. Ele foi questionado pelos delegados sobre a atuação do juiz federal Sandro Nunes Vieira, apontado pela PF como sendo responsável por auxiliar ilegalmente o PL a elaborar um relatório questionando as urnas eletrônicas em 2022. Na época em que teria auxiliado a sigla, o juiz estava lotado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Em entrevista ao UOL, Valdemar admitiu que o levantamento não tinha nenhuma prova de irregularidade nas urnas.
Além de Valdemar, a PF ouviu mais cedo o ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara. O depoimento dele durou cerca de 20 minutos. Segundo o advogado de Câmara, Eduardo Kuntz, ele também respondeu a todas as perguntas e ressaltou que o depoimento o coloca mais como testemunha do que como investigado. "A defesa sai com a sensação de que o coronel Câmara na verdade é uma testemunha importante dessa nova investigação."
Juiz também foi interrogado. A PF também ouviu por videoconferência o juiz Sandro Nunes no inquérito.
Ação contra urnas do PL gerou multa de R$ 22 milhões. Moraes negou os argumentos do partido e condenou a coligação de Bolsonaro, formada por PL, PP e Republicanos, ao pagamento de multa no valor de R$ 22.991.544,60 por litigância de má-fé. Determinou ainda o bloqueio dos fundos partidários das três legendas até o pagamento da penalidade imposta.
Agenda com Zanin
Encontro consta na agenda oficial de Zanin. A anotação dizia apenas "visita de cortesia", às 13h. Reunião ocorreu nesta tarde, após Valdemar e Jair Bolsonaro se encontrarem, com autorização de Alexandre de Moraes, na missa de sétimo dia da morte da mãe do presidente do PL, em Mogi das Cruzes (SP), na segunda (9). O presidente do PL não quis falar com a imprensa na chegada e nem na saída do encontro.
Zanin é o presidente da Primeira Turma do tribunal, a mesma de Moraes. Colegiado deve ser o responsável por analisar eventual denúncia contra Valdemar e o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Além disso, como presidente, cabe a Zanin definir quando os processos serão julgados no colegiado. Isso inclui eventuais recursos apresentados por Valdemar ou outros indiciados no inquérito sobre tentativa de golpe, que foi concluído nesta semana. Ao todo, a PF indiciou 40 pessoas por tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. Valdemar e Bolsonaro estão entre eles.
Questionado, o STF não explicou o motivo da visita. O presidente do PL também não respondeu ao UOL sobre o encontro. Assessoria da sigla disse apenas que se tratava de uma visita de cortesia, sem dar mais detalhes.
No início de 2023, quando estava em campanha para a vaga que hoje ocupa no STF, Zanin recebeu o apoio de Valdemar. O presidente do PL costumava dizer, nos bastidores, que Zanin era o mais preparado para ocupar o posto. O então advogado, por sua vez, compareceu inclusive a um almoço com integrantes do PL durante a campanha para o Supremo.
Depoimento à PF
Após o segundo turno, a sigla entrou com representação no TSE solicitando "verificação extraordinária" das urnas. Pedido contou com apoio do Instituto Voto Legal, que produziu um relatório com ilações sobre supostas falhas nas urnas eletrônicas que nunca foram comprovadas. Ação foi julgada improcedente no TSE e, segundo investigações da PF, trocas de mensagens entre os envolvidos indicam que o juiz federal auxiliou o partido a elaborar o relatório que embasou a ação.
Na época em que foi divulgada a ação do PL, em novembro de 2022, o próprio Valdemar Costa Neto chegou a citar o magistrado. O presidente do PL disse à imprensa ter conversado com o juiz. Na ocasião, o magistrado negou o fato, mas mensagens recuperadas pela PF mostram que o próprio juiz tinha pedido a Valdemar que não citasse o nome dele. Para a PF, os fatos indicam que houve a ajuda ilegal do juiz ao partido.
Juiz foi afastado do cargo pelo CNJ. Afastamento ocorreu após Alexandre de Moraes enviar ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) detalhes da investigação da PF e cobrar providências.