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Operações conjuntas entre Brasil e Itália visam esquema que teria movimentado R$ 2 bi em envio de cocaína para Europa

10/12/2024 12h09

Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) - Duas operações deflagradas nesta terça-feira em conjunto por autoridades brasileiras e italianas têm por objetivo desarticular um esquema de envio de cocaína de países da América do Sul para a Europa que se valeriam do uso de navios cargueiros ou aviões, afirmaram comunicados da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal.

O esquema envolve uma parceria entre alguns integrantes da facção criminosa paulista PCC e a máfia italiana 'Ndrangheta, da região do Piemonte, segundo a PGR e duas fontes com conhecimento do caso.

As investigações apontam que o grupo criminoso se aproveitava da estrutura logística fornecida pelos brasileiros para transportar grandes quantidades da droga para a Europa se valendo do Porto de Paranaguá, no Paraná. A droga era escondida em contêineres que levavam cerâmica, louça sanitária ou madeira e tinham como destino sobretudo o Porto de Valência, na Espanha.

Outra parte da droga era remetida por aeronaves privadas, que tinham como destino aeroportos na Bélgica. O grupo estrangeiro, segundo as investigações, promovia a retirada da mercadoria antes da fiscalização aeroportuária.

As autoridades indicaram que a organização criminosa mantinha uma complexa rede de lavagem de dinheiro que, segundo estimativas, realizaram movimentação financeira superior a 2 bilhões de reais entre 2018 e 2022.

Foram determinados o bloqueio de bens e valores e o sequestro de imóveis dos investigados da ordem de 126 milhões de reais por determinação das Justiças brasileira e italiana, após pedidos do Ministério Público de ambos os países.

No Brasil, as operações cumpriam ainda 46 mandados de busca e apreensão em endereços em sete Estados. Uma fonte envolvida diretamente na operação contou à Reuters que, ao todo, 36 pessoas e 43 empresas foram alvos de bloqueio de bens.

O principal alvo da operação no Brasil, que as investigações apontaram ter laços com o PCC, teve 12 imóveis bloqueados em locais como Mato Grosso, Florianópolis e São Paulo -- uma das unidades foi uma casa de luxo em Alphaville em Barueri (SP).

Esse alvo teve uma ordem de prisão expedida contra ele, mas segue foragido, enquanto os demais 17 alvos de prisão no Brasil foram detidos, conforme a fonte.

Outro dos alvos de ordem de prisão na Espanha não foi encontrado e o nome foi incluído na difusão vermelha da Interpol, disse a fonte.

Na Itália, a polícia informou em um comunicado que cinco pessoas foram presas.

ELOS

Essa fonte disse que os elos da extensão da atuação da 'Ndrangheta no Brasil começaram a ser revelados com a prisão em julho de 2019 do italiano Nicola Assisi e do filho dele em um condomínio de luxo em Praia Grande, no litoral de São Paulo.

Na ocasião, foi revelada a teia de atuação do grupo no país, conforme a fonte, o que levou a uma série de operações nos últimos anos e às duas ações conjuntas desta terça.

Durante o cumprimento dos mandados pelos investigadores, segundo a fonte, houve a apreensão de uma arma, carros de luxo e dinheiro em espécie. Um jato executivo modelo Dassault Falcon 50 que era usado no transporte da droga também foi alvo de apreensão, disse a fonte.

As investigações apontaram que esse jato tinha sido modificado para aumentar a capacidade de carga e de combustível, conforme a fonte. Ao menos quatro viagens foram realizadas entre o Brasil e a Europa para transporte de cocaína, indicam as apurações. O grupo criminoso simulava se tratar de uma viagem habitual, mas escondia a droga em caixas e malas.

A fonte destacou ainda que a máfia italiana firmou parcerias com o PCC e outros grupos para o transporte de drogas porque eles negociavam com quem conseguisse ajudar na logística da remessa da cocaína para a Europa.

A cooperação internacional entre as autoridades dos dois países foi fundamental para a troca de informações e avançar nessas investigações e levar às operações desta terça.

"Não fosse a cooperação, essas operações poderiam demorar anos para acontecer", disse essa fonte.

Desde 2019, com a criação de uma equipe conjunta com autoridades de Brasil e Itália, começou-se a aprofundar as investigações sobre relações entre grupos criminosos dos dois continentes e o esquema internacional de tráfico de drogas.

Houve também apoio de organismos de cooperação jurídica e policial da Europa (Eurojust e Europol), do Departamento Italiano de Segurança Pública, da Direção Nacional Antimáfia e da Diretoria Central Antidrogas italianas, da Coordenação-Geral de Repressão a Drogas da Polícia Federal do Brasil e da Embaixada da Itália em Brasília, segundo a PGR.

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