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Conselho de Segurança da ONU expressa preocupação com integridade territorial da Síria em reunião de emergência

10/12/2024 07h41

Os membros do Conselho de Segurança da ONU se reuniram nesta segunda-feira (9) em Nova York para discutir a situação instável na Síria após a queda do presidente Bashar al-Assad. A reunião fechada, solicitada pela Rússia, resultou em uma decisão de aguardar novos desdobramentos.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York.

O embaixador russo na ONU, Vassili Nebenzia, afirmou que o conselho foi unânime quanto à necessidade de preservar a integridade territorial da Síria, proteger os civis e garantir a chegada de ajuda humanitária, segundo a AFP.

O vice-embaixador dos Estados Unidos, Robert Wood, descreveu a situação como "muito fluida", ressaltando que ninguém esperava a rápida queda das forças sírias. Segundo ele, a situação é imprevisível e pode mudar a qualquer momento. No entanto, Wood destacou que todos os membros do conselho expressaram preocupações em relação à soberania da Síria, sua integridade territorial e à crise humanitária no país. A expectativa é que o Conselho de Segurança emita uma declaração conjunta sobre o assunto.

A questão sobre o grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que liderou a coalizão rebelde responsável pela derrubada de Assad, também foi levantada, mas ainda não houve discussões sobre a possível remoção do grupo da lista de sanções da ONU. Desde o início da guerra civil síria em 2011, o Conselho de Segurança tem enfrentado dificuldades para agir de forma decisiva, com a Rússia utilizando seu poder de veto para proteger o governo de Assad.

Israel alega "medidas temporárias" para proteger fronteira

Israel se posicionou diante do Conselho de Segurança afirmando que suas ações militares na Síria foram "medidas limitadas e temporárias" com o objetivo de proteger seus cidadãos, especialmente na região das Colinas de Golã, que faz fronteira com o território sírio. "Israel não está intervindo no conflito interno entre os grupos armados da Síria; nossas ações têm foco exclusivo na segurança de nosso país", afirmou o embaixador israelense na ONU, Danny Danon.

A declaração ocorre em meio a críticas do governo sírio, que acusa Israel de tentar se aproveitar do momento de transição. O embaixador sírio na ONU, Koussay Aldahhak, enviou cartas ao Conselho de Segurança e ao secretário-geral da ONU, António Guterres, exigindo o fim dos ataques israelenses.

"Nova era para a Síria", diz embaixador sírio

Do lado de fora da sede da ONU, Aldahhak afirmou a jornalistas que o país está vivendo "uma nova era de mudança" e destacou o desejo de reconstruir a Síria sob os pilares de liberdade, igualdade, estado de direito e democracia. "Estamos com o povo sírio", disse o embaixador. Ele ressaltou que as embaixadas e missões diplomáticas do país foram instruídas a continuar suas atividades normalmente durante o período de transição.

"Uniremos esforços para reconstruir nosso país, reconstruir o que foi destruído e reconstruir o futuro - um futuro melhor para todos os sírios", afirmou Aldahhak, que se disse surpreso com a rapidez das transformações. Questionado sobre se estava feliz com a mudança, ele respondeu: "Quando os sírios estão felizes, nós estamos felizes. Quando os sírios estão sofrendo, nós estamos sofrendo."

Refugiados avaliam retorno ao país

A queda de Assad abriu uma nova perspectiva para os milhões de refugiados sírios que deixaram o país durante a guerra civil que já dura 13 anos. O Alto Comissário da ONU para Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, pediu "paciência e vigilância" enquanto os refugiados avaliam se é seguro retornar.

"Há uma oportunidade notável para a Síria avançar rumo à paz e para seu povo começar a voltar para casa", disse Grandi em comunicado enviado a jornalistas. Segundo ele, a decisão de retorno será condicionada à capacidade dos novos líderes sírios de garantir segurança, respeito aos direitos humanos e igualdade para todos, independentemente de etnia, religião ou posição política.

Alguns países europeus já começaram a suspender a análise de pedidos de asilo de cidadãos sírios. O ACNUR se disse pronto para ajudar os Estados a organizar retornos voluntários, mas destacou a importância de garantir que o processo seja seguro e ordenado.

EUA intensificam busca por jornalista sequestrado na Síria

A queda de Assad também trouxe à tona a situação do jornalista americano Austin Tice, sequestrado na Síria em 2012 enquanto cobria o levante contra o regime. O governo dos Estados Unidos declarou que a volta de Tice é uma "prioridade máxima".

O conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan afirmou à rede ABC News que as autoridades americanas estão comprometidas com a libertação do jornalista. Um negociador de reféns dos EUA está atualmente no Líbano para obter informações sobre o paradeiro de Tice, segundo o Departamento de Estado.

"Estamos trabalhando para localizá-lo e trazê-lo para casa o mais rápido possível", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matt Miller. O presidente Joe Biden afirmou acreditar que Tice está vivo, mas admitiu que não há "evidências diretas" para confirmar isso.

Tice, ex-fuzileiro naval e repórter freelance, foi sequestrado em Damasco enquanto cobria a guerra civil síria. Segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ), ele é o único jornalista americano ainda mantido em cativeiro no país, que registra pelo menos cinco repórteres presos por razões não divulgadas.

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