Como um cavalo minou a popularidade da primeira-dama | podcast Janja #3
A atuação de Janja no socorro às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul fez piorar a imagem dela entre os brasileiros e também dentro do governo.
A avaliação de aliados no Congresso foi de que a atenção dispensada ao cavalo Caramelo —resgatado pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo após ficar ilhado em um telhado— foi desproporcional àquela dada a pessoas em situação de risco.
O desconforto que o comportamento da primeira-dama provocou entre petistas é um dos temas do terceiro episódio de Janja, podcast original UOL Prime (ouça acima).
O UOL teve acesso a uma troca de mensagens do grupo de WhatsApp da bancada do PT na Câmara dos Deputados na época das enchentes.
Um deputado gaúcho compartilhou com os colegas a imagem de Janja em um avião da FAB, com cestas básicas nas poltronas como se fossem passageiros, com cintos de segurança.
A foto provocou revolta entre os integrantes do grupo. A principal queixa era de que os kits deveriam ser transportados em avião de carga, e os assentos deveriam ser ocupados por parlamentares gaúchos que precisavam se deslocar até o Rio Grande do Sul.
O podcast é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.
Outros pontos importantes do episódio:
- Como Janja lida com a memória de Marisa Letícia. A entrevista de Janja ao Fantástico, em que disse que os brasileiros não estavam acostumados, antes dela, a ver Lula com "uma mulher ao lado dele que soma", provocou desconforto entre petistas históricos --e filhos do presidente com Marisa Letícia. A percepção é de que Janja rivaliza com a antiga primeira-dama, que morreu em 2017, e busca se firmar como a mulher mais importante na vida de Lula. Para poupar Janja de aborrecimentos, assessores evitam que ela veja fotos de Marisa Letícia nos ambientes por onde circula.
- A tentativa de trabalhar na OEI. Durante uma viagem pela Europa com Lula, Janja foi anunciada como coordenadora da Rede de Inclusão e Igualdade da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos). No entanto, uma consulta à CGU (Controladoria-Geral da União) revelou riscos de conflito de interesses, considerando sua posição de influência como primeira-dama.
- A dinâmica de poder no Alvorada. O episódio destaca como Janja reorganizou a rotina de Lula na presidência, promovendo almoços mais íntimos e momentos de descanso no final de semana, em contraste com as reuniões políticas e eventos sociais em mandatos anteriores.
JANJA
Episódio 03: Boas intenções
Fabíola Cidral
No segundo mês de governo, o Lula e a Janja foram passar o feriado do carnaval descansando na Base Naval de Aratu, em Salvador, na Bahia.
Mas a calmaria do casal durou pouco.
Patrícia Costa
Agora a gente fala das fortes chuvas que atingem o litoral norte de São Paulo que já deixaram mortes e destruição. Em menos de 24 horas, algumas cidades registraram mais de 600 milímetros de chuva.
Fabíola Cidral
Logo nos primeiros dias de folia, uma tragédia ambiental assolou o litoral norte de São Paulo.
Lula deixou a Bahia e viajou para a região com oito ministros para entender o tamanho da tragédia.
Janja não acompanhou o marido. Ao invés disso marcou presença no camarote Expresso 2222 da Flora e do Gilberto Gil.
Janja
Eu estou muito feliz de estar aqui na Bahia, a gente veio descansar mas eu não podia deixar de passar aqui no camarote de Gil e Flora 2222, que era um sonho de vida, e hoje eu estou aqui com a minha superamiga. Obrigada, Bahia!
Fabíola Cidral
Acompanhada do Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do presidente, Janja apareceu em vídeos postados nas redes dançando na sacada do camarote.
Adriana, você lembra? A oposição não perdoou.
Adriana Negreiros
Eu lembro bem, Fabíola. O deputado Carlos Jordy, do PL, escreveu no Twitter que enquanto acontecia a tragédia a Janja estava no Carnaval como se nada tivesse acontecendo.
O deputado Nikolas Ferreira também criticou a permanência da primeira-dama no Carnaval. Segundo ele, o interesse de Janja em representar o governo dependia exclusivamente das agendas. Se fossem viagens internacionais, ela se envolvia. Tragédias nacionais, nem tanto.
Quem também criticou a primeira-dama foi a deputada Carla Zambelli. Ela destacou que o presidente Lula e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, decretaram luto oficial pelas mortes, enquanto Janja continuou curtindo o Carnaval.
Como já contamos aqui, primeira-dama não é um cargo no governo. Porém Janja é uma primeira-dama que, desde a transição, é ativa na gestão do marido.
Não é difícil vê-la em eventos oficiais, como reuniões de ministros e encontros de Lula no exterior. Desta vez, ela não o acompanhou.
Se limitou a fazer uma postagem no seu perfil no X, o antigo Twitter, ainda de Salvador. Ela manifestou "toda a solidariedade às famílias atingidas por esse desastre".
Fabíola Cidral
O comportamento distante de Janja diante de uma tragédia ambiental não pegou nada bem e rendeu à primeira-dama uma fama de deslumbrada.
Um ano depois, em uma outra tragédia, ela até se comportaria de outro jeito, se mostraria presente, ativa. Ainda assim, ficaria bem longe de agradar todo mundo.
Neste episódio, a gente vai voltar para alguns dos tropeços que Janja cometeu quando tentou agir por conta própria depois de ter virado primeira-dama.
Vamos contar que ela não foi a primeira mulher de Lula a quebrar protocolos e entender por que alimentam essa rivalidade entre Janja e Marisa Letícia —mulheres que, apesar do temperamento diferente, têm muito em comum.
Fabíola Cidral
Eu sou Fabíola Cidral.
Adriana Negreiros
Eu sou Adriana Negreiros.
Fabíola Cidral
E este é "Janja", um podcast original UOL Prime.
Adriana Negreiros
Episódio 03: Boas Intenções
Fabíola Cidral
Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul foi atingido por fortes chuvas.
Julia Braun
Em pouco mais de uma semana mais 400 municípios gaúchos tiveram bairros inteiros engolidos por uma chuva que não parava de cair. (...) A maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul já deixou mais de 100 mortos e afetou mais de um milhão e meio de pessoas.
Fabíola Cidral
A cobertura jornalística da tragédia foi intensa, com muitos repórteres in loco fazendo mais do que jornalismo. A imprensa ajudou no resgate de moradores, acompanhou os bombeiros em missões e sobrevoou as cidades atingidas, localizando pessoas e animais ilhados.
Camila Bomfim
Olha só gente, tem um cavalo. O cavalo que tá ilhado, completamente.
Fabíola Cidral
Em um desses voos, o helicóptero da equipe RBS TV identificou um cavalo se equilibrando em cima de um telhado cercado de água.
Eu aposto que você lembra dessa cena. A imagem gerou comoção nacional e o animal se tornou um símbolo de resistência e esperança do povo gaúcho. Ganhou até nome: Caramelo.
A pressão das redes sociais também foi ferrenha. Whindersson Nunes e Felipe Neto fizeram publicações cobrando o resgate do bicho —e até mesmo se oferecendo para adotá-lo.
A fragilidade de Caramelo mobilizou o poder público a fazer o resgate do animal. O Corpo de Bombeiros de São Paulo se deslocou até a cidade de Canoas e organizou a ação. O cavalo foi sedado e depois transferido para um bote.
A operação de resgate foi transmitida ao vivo na TV.
Camila Bomfim
Deitavam o cavalo que tá extremamente exausto. Conseguiram, gente! Deitaram o cavalo e ele deitado ali, contido, com todo o cuidado e o primor de um trabalho nobre, irreparável do Corpo de Bombeiros.
Fabíola Cidral
Janja ficou muito comovida com a situação do Caramelo.
Desde o momento em que soube que o animal estava ilhado, mobilizou voluntários e instituições para que ele estivesse em segurança o mais rápido possível.
Luiz Marinho
Ano passado também liberamos o saque calamidade do Fundo de Garantia, e também liberamos parcelas adicionais do Seguro Desemprego; no caso do Fundo de garantia foi liberado 250 milhões para 206 municípios que foram atingidos.
Fabíola Cidral
Enquanto Luiz Marinho, Ministro do Trabalho, compartilhava as ações que seriam tomadas pelo governo, Janja quebrou o protocolo e caminhou até Lula para sussurrar algo em seu ouvido. Meses depois, durante uma entrevista no programa "Sem Censura", Janja contou os bastidores daquele dia.
Janja
"E aí tinha esse evento que era o anúncio do recurso para reconstruir o Rio Grande do Sul. E eu sentei do lado porque tinha muito homem, sabe? E aí quando tem isso eu realmente não sento na mesa porque eu não sou cota, então eu sento do lado. Aí eu tava ali no celular, acompanhando o resgate, e meu marido assim, de olho em mim né? E aí quando resgataram eu fui lá no ouvido dele "conseguimos resgatar o cavalo e tal".
Fabíola Cidral
Algumas horas depois do resgate de Caramelo, Janja fez um post nas redes:
Janja
O cavalo Caramelo tá salvo, graças a Deus. Aos voluntários, que a gente tá desde manhã cedo, às 6 horas da manhã, mobilizando todo mundo, para retirar aquele cavalo de cima do telhado. A gente conseguiu salvar mais uma vida. É isso aí, gente. Força Rio Grande do Sul!
Fabíola Cidral
A Adriana conta mais para gente sobre esse período em que Janja esteve no Rio Grande do Sul.
Adriana Negreiros
Janja foi ao Rio Grande do Sul quatro vezes. Visitou abrigos, conversou com os moradores e postou fotos das doações que levou.
Janja
A gente trouxe agora no avião presidencial donativos de cobertores, absorventes, fraldas, lenços higiênicos para os desabrigados aqui. Quero novamente agradecer ao prefeito Edinho da cidade de Araraquara, que tem me ajudado enormemente nesse trabalho.
Adriana Negreiros
A cada novo post, divulgava uma ação do governo federal. Uma dessas publicações, aliás, recebeu críticas da oposição e de parte da base do PT.
Em um avião da FAB, Janja posou sorrindo enquanto contemplava uma centena de cestas básicas, que apareciam nos assentos da aeronave. Os kits estavam presos com cintos de segurança.
Nessa época, eu estava em Brasília fazendo apuração para o podcast e encontrei com um parlamentar do PT num café da cidade.
Ele me deixou ver o grupo de WhatsApp da bancada do partido na Câmara. Tava todo mundo revoltado, inclusive ele. A foto de Janja na aeronave foi compartilhada no aplicativo por um parlamentar do Sul com o comentário de que aquilo era um "desrespeito". A queixa foi recebida com solidariedade por vários colegas.
Havia um contexto para o clima de revolta. Na época da tragédia, parlamentares que queriam e precisavam visitar o Rio Grande do Sul não receberam convites para embarcar no voo. E as lideranças locais no Sul também não gostaram do registro, afinal, o avião não era de carga e parecia vazio.
Apesar do esforço da primeira-dama, as missões e o comportamento solidário dela nas redes não foram bem recebidos pelos brasileiros. No fim daquele mês de maio, o PoderData fez uma pesquisa para medir o que os eleitores acharam do trabalho da primeira-dama. 51% deles não aprovaram as ações da Janja enquanto 28% aprovaram. Os outros 21% não souberam responder.
Adriana Negreiros
Em Canoas, Janja visitou abrigos para animais. Em um desses lugares encontrou uma cachorrinha vira-lata marrom-escura que tinha sido resgatada na cidade.
Se apaixonou imediatamente pela cadela. No mesmo dia, embarcou com ela para Brasília.
Janja
Eu vou levar a Esperança.
Adriana Negreiros
Esperança iria se juntar aos outros dois cachorros da primeira-dama: Paris, uma vira-lata que vive com ela desde o Rio de Janeiro, quando ela morou na cidade a trabalho; e Resistência, que ela conheceu e adotou na vigília Lula Livre.
As histórias de Resistência e de Lula se entrelaçam. Enquanto ele tava preso em Curitiba, os metalúrgicos levaram a cachorrinha para viver no acampamento.
A cadela era realmente uma simpatia e a Janja se encantou por ela. Não era raro ver a namorada de Lula brincando com a cachorra e querendo saber se ela tava com frio, se precisava de algum remédio ou comida.
Quando os metalúrgicos tiveram que voltar para São Bernardo, Janja pediu que a Resistência ficasse com ela em Curitiba.
Muita gente não aprovou a mudança de endereço da mascote pro apartamento de Janja. Mas serviu de consolo saber que a Resistência tinha sido adotada pela namorada de Lula.
Resistência foi uma figura de destaque na cerimônia de posse em 2023.
Oradora
O senhor presidente da República é acompanhado por cidadãos que simbolizam a riqueza e a diversidade do povo brasileiro.
Fabíola Cidral
Ela subiu a rampa presidencial junto de oito representantes de grupos sociais como o cacique Raoni e Francisco, um menino negro de 10 anos.
Adriana Negreiros
A cadela, de coleira e peitoral pretos, foi entregue ao pé da rampa para Janja, que a carregou no colo. Na metade do percurso, Resistência passou a ser conduzida brevemente por Lula.
Emídio de Souza, deputado pelo PT, falou comigo sobre esse momento.
Emídio de Souza
A Resistência acompanhou o renascimento do Lula, sabe? A prisão, ela acompanhou tudo e depois adotaram, foi morar com eles. Então tinha tudo a ver ela estar naquele momento, entendeu?
Adriana Negreiros
No dia da cerimônia, Janja fez dois pedidos especiais ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco: cancelar os tradicionais 21 tiros de canhão em saudação ao novo mandatário e suspender os fogos de artifício durante a festa.
Os pedidos que nunca tinham sido feitos antes vieram de autistas e entidades protetoras dos animais. Eu quis saber mais do Emídio sobre o nível de envolvimento de Janja na organização da cerimônia de posse.
Emídio de Souza
Ela cuidou muito dessa coisa de como se daria a cerimônia, na definição de quem ajudaria, trabalhou com o cerimonial da presidência já para isso, né? (...) Posse no Congresso, desfile em carro aberto, essas coisas, já é parte do ritual, mas a subida da rampa, quem ia subir, quem ia colocar faixa e tal, aquilo teve muito ela.
Adriana Negreiros
A Fabíola vai relembrar para gente como foi a posse do primeiro governo Lula.
Lula
Se havia alguém no Brasil que duvidasse que um torneiro mecânico pudesse sair de uma fábrica e chegar à presidência da República, 2002 provou exatamente o contrário.
Fabíola Cidral
Se em 2023, Janja desfilou ao lado de Lula no Rolls-Royce, acenando para a multidão, foi porque, vinte anos antes, Marisa Letícia questionou o espaço vazio no carro, ao lado do presidente.
Na época, Marisa foi informada que o convencional era que a primeira-dama fosse conduzida ao Palácio do Planalto e aguardasse a chegada do presidente lá dentro.
Mas Marisa não concordou. Disse que iria desfilar dentro do carro aberto com Lula porque queria sentir a energia do povo.
Preocupado com a quebra de protocolo, o cerimonial até tentou convencer a primeira-dama do contrário, mas sem sucesso. Marisa não só desfilou ao lado do presidente como também posou na foto junto aos ministros e ministras. Dizia se sentir uma representante de todas as mulheres que lutaram e lutam ao lado dos maridos.
E as mudanças foram além.
O estilo pomposo e formal dos presidentes anteriores e das respectivas primeiras-damas não foi repetido nos primeiros mandatos do petista. Quando Lula assumiu, era comum ver reportagens maliciosas que criticavam os hábitos "populares" do casal.
Pipocavam notas debochadas sobre mais um churrasco no jardim da Alvorada; matérias sobre o frango com polenta que o casal gostava de comer. Colunas de opinião dissecavam o novo menu do Palácio que depois da chegada de Marisa incluía buchada, feijão, bife e couve com bacon.
Em entrevista à Rede TVT, o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, relembrou uma das tradições que foram instituídas pela primeira-dama no governo Lula.
Gilberto Carvalho
Ela era devota dos santos juninos, Santo Antônio, São Pedro e São João. Então ela organizava lá no Torto a festa junina e ela fazia questão de me chamar, eu tinha muita honra, me lembro com muita emoção disso por causa da minha ligação com a Igreja.
Fabíola Cidral
Todo e cada movimento de Lula e Marisa estava sob escrutínio público. Nem o São João passou batido.
Na coluna que mantinha na Folha, a jornalista Danuza Leão fez duras críticas ao evento. Primeiro, falou mal do tema da festa. Achou inconcebível o presidente e a primeira-dama escolherem uma / abre aspas "caipirada dessas" fecha aspas.
Classificou como autoritária a obrigatoriedade do traje típico e definiu que um evento que pede para os convidados levarem seus próprios quitutes era um "desastre".
Danuza afirmou ainda: "um país que quer tanto ser moderno poderia ter se inspirado em qualquer outro folclore que não o do atraso."
Adriana Negreiros
Em 2024, o Alvorada é bem mais silencioso. Não tem mais São João e nem churrasco nos finais de semana. Os almoços, que antes eram profissionais, dedicados à articulação política, agora são um compromisso familiar entre Lula e Janja.
A menos que algo muito inesperado bagunce a agenda, o presidente deixa o Planalto na hora do almoço e volta no começo da tarde, cerca de 1h30 a 2h depois. A refeição seguida de um momento de descanso é uma conquista de Janja.
No final de semana, a rotina também é íntima e sossegada. Em outros governos, Lula convidava ministros para pescar, hoje em dia ele prefere ficar sozinho com a esposa.
Aqui, cabe lembrar que, quando tomou posse pela primeira vez, Lula tinha 57 anos. Hoje tem 79. É natural que a sua agenda tenha desacelerado.
Como Janja é a pessoa que mais convive com o presidente, é óbvio que a influência dela sobre ele é imensa. Lula sempre diz que Janja conta para ele o que outros não contam.
A gente já falou aqui que Lula é um homem analógico, que não tem celular e nem vê redes sociais. É Janja quem o atualiza dos assuntos que estão bombando. E o Lula confia muito no filtro dela. A opinião da esposa, muitas vezes, tem mais peso do que a de aliados antigos do petista.
Claro, isso deixa muita gente incomodada. Existe uma percepção de que o comportamento de Janja atrapalha o governo e influencia negativamente na popularidade de Lula.
Fabíola Cidral
Prova disso foi o que aconteceu no encontro do G20 em novembro de 2024.
Janja
A gente tem países da Europa, a União Europeia já regulamentando as redes sociais, a Austrália, vários países fazendo isso, então essa discussão é global..
Fabíola Cidral
Janja participava de um painel sobre desinformação digital e defendia a regulamentação das redes, quando interrompeu a fala por causa de um barulho. Um navio buzinou ao fundo, atrapalhando o discurso dela.
Ao ouvir o som, Janja se abaixou e disse:
Janja
Alô, acho que é o Elon Musk. Eu não tenho medo de você, inclusive, fuck you Elon Musk.
Fabíola Cidral
O "Fuck you, Elon Musk" repercutiu internacionalmente. Não demorou muito para que o próprio alvo da ofensa respondesse à primeira-dama.
No perfil de Musk na rede social X —que, a propósito, é uma empresa dele—, o bilionário escreveu: "eles vão perder as próximas eleições".
Além da falta de decoro, a fala pegou muito mal por um detalhe específico. Tinha só uma semana que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha anunciado Elon Musk para o cargo de chefe do novo Departamento de Eficiência Governamental. A frase dita por Janja criou um desconforto, acima de tudo, diplomático.
E isso ficou evidente num discurso oficial de Lula no G20 horas depois.
Lula
Eu queria dizer para vocês que essa é uma campanha em que a gente não tem que ofender ninguém, nós não temos que xingar ninguém. Nós devemos apenas indignar a sociedade.
Fabíola Cidral
A gente vai contar todos os bastidores do G-20 no último episódio.
Adriana Negreiros
Sobre as críticas de que Janja influencia negativamente Lula e o governo, tem quem ache isso tudo um exagero. Dizem que, no fundo, quem reclama de Janja tá é com ciúmes dela. Foi o que me disse o Marco Aurélio de Carvalho, presidente do grupo de advogados Prerrogativas que é amigo e advogado da primeira-dama.
Marco Aurélio de Carvalho
Honestamente, acho que é fruto do ciúmes que, de alguma forma, permeia as relações do presidente. E ele sempre foi uma pessoa muito disposta, disponível a dialogar e ouvir todo mundo, então sempre teve essa característica e acho que talvez um pouco de ciúmes, de preconceito, de machismo explica o que você tá perguntando. Uma soma disso tudo.
Adriana Negreiros
O fato é que o tempo a dois do casal se tornou um ativo importante no governo. Como Janja controla o acesso ao marido, a aprovação dela pode facilitar ou dificultar a entrada de pessoas no Palácio, o que influencia o ambiente em torno de Lula.
Portanto, em Lula 3, manter uma boa relação com Janja é estratégico. A postura firme no zelo com o marido é muitas vezes entendida como controle, mas para a contrariedade de muitos, foi a maneira que Janja encontrou para proteger o marido do ritmo frenético da vida política.
Janja
Gente, eu vou pedir para vocês colaborarem. A gente tem horário, ele nem almoçou ainda, ele acordou às 6 da manhã.
Lula
A minha Janja me ajuda que eu fique bem cuidado. Às vezes eu até me acho mais bonito, de tanto que ela cuida de mim.
Adriana Negreiros
A influência de Janja sobre o presidente também se dá em atividades corriqueiras. Ela opina a respeito das roupas que ele usa, das entrevistas que ele dá e como contamos no último episódio, corrige o que julga serem falas equivocadas do presidente.
Isso faz com que Janja venha ganhando poder para definir o que quer dentro do governo ou, pelo menos, indicar os caminhos que, na opinião dela, devem ser seguidos.
Entrevistadora
O argumento é "ah, você não tem cargo então você não pode participar de formulação de políticas, você não pode ligar para ministro, você não pode vender ideias"... Como você vê isso em 2024?
Janja
Eu acho que quando eu ligo para um ministro eu acho que não seja só a Janja falando, talvez eu esteja sendo a voz de milhares de mulheres, é isso que as pessoas precisam entender.
Adriana Negreiros
Marisa Letícia também fazia isso. A diferença no papel das duas tá no estilo.
Enquanto Janja se expõe e chama para si os holofotes das questões que são caras para ela —muitas vezes ignorando orientações oficiais—, Marisa preferia atuar de maneira privada, em conversas reservadas com Lula e amigos mais próximos.
Colocar uma mulher contra a outra, comparar as duas, é um clássico do machismo. Mas tem quem diga que é a própria Janja que estimula essa rivalidade entre ela e a antiga esposa de seu atual marido.
A gente já volta com mais dessa história.
Fabíola Cidral
Em 10 de Fevereiro de 2024 o perfil de Lula no antigo Twitter repostou um texto que foi publicado pela Fundação Perseu Abramo, no aniversário de 44 anos do PT.
O texto original, que estava no portal da fundação, dizia assim: "No começo era só um retalho de pano vermelho que Marisa pegou e costurou uma estrela branca por cima".
Na publicação de Lula, no entanto, a referência à Marisa foi retirada. Agora, o texto dizia: "No começo, era só um retalho de pano vermelho com uma estrela branca por cima".
Luís Cláudio, filho de Lula e Marisa, foi às redes criticar a ausência da mãe. Ele escreveu: "Infelizmente, tem acontecido umas coisas estranhas! A história da minha mãe ninguém apaga não".
A repercussão da publicação de Luís Cláudio foi tamanha que o perfil de Lula apagou o texto modificado e repostou a homenagem original, que incluía o nome de Marisa.
Adriana Negreiros
Além desse exemplo público de rivalidade sobre o protagonismo das primeiras-damas do presidente, uma fonte me trouxe uma história de bastidor.
Para evitar que Janja se aborreça com referências à Marisa Letícia, assessores do governo e do PT acabam tomando medidas, por assim dizer, precipitadas. No diretório nacional do PT em Brasília, por exemplo, assessores já tomaram o cuidado de esconder as fotos de Marisa da vista de Janja, durante as visitas que a primeira-dama fez ao local.
Isso nunca foi um pedido de Janja. Foi o pessoal mesmo que acabou se antecipando a um possível aborrecimento da parte dela. No Diretório de Brasília também tem um estúdio batizado com o nome de Marisa Letícia. Quando Janja foi lá participar de uma gravação, deram um jeito de tirar o nome da antiga esposa de Lula do ambiente.
Junéia Batista
Eu acho que houve um apagamento desde a posse, que foi linda. Eu tava lá, eu vi, e não teve nenhuma menção à companheira Marisa.
Adriana Negreiros
Essa é a Junéia Batista, ex-secretária nacional de mulheres da CUT. Junéia conheceu Lula e Marisa durante as greves de 1980.
Ela me recebeu para uma entrevista na sala da casa dela em um apartamento de classe média na zona sul de São Paulo.
A Junéia é petista raiz. Das unhas à cor da parede, tudo é vermelho.
Na nossa conversa, ela disse que existe um apagamento da figura de Marisa Letícia no PT.
Junéia Batista
Eu acho que ele tem uma assessoria em volta dele que devia dizer assim, "Lula, você só é quem é porque você teve uma companheira todo tempo te apoiando, inclusive segurando todos os pepinos, os B.O.s, enquanto você tava lá na luta na greve, entendeu? E essa mulher chama-se Marisa Letícia.
Adriana Negreiros
Ouvi muita gente dizer que Janja deveria abraçar a memória de Marisa, lembrar sempre o quanto ela foi importante para que a esquerda chegasse ao poder. A crítica que fazem à Janja é de que ela entra no jogo machista de rivalizar com outra mulher, de se colocar como melhor do que a ex-parceira de Lula. E uma entrevista que Janja deu ao Fantástico contribuiu para essa impressão:
Janja
E agora tem uma mulher do lado dele (...) que soma com ele. (...) Isso não acontecia antes, só olhava para ele. Hoje ele tem um complemento, uma soma, que sou eu. E não é porque eu estou do lado dele, é porque eu sou essa pessoa. Essa pessoa que é propositiva, que não fica sentada, que vai e faz.
Adriana Negreiros
Quem conviveu com a Marisa não gostou quando a Janja disse que as pessoas não tavam acostumadas a ver o Lula com uma mulher.
Perguntei a Junéia o que ela achava disso.
Junéia Batista
Não. Ninguém vai apagar a dona Marisa Letícia. Eu acho que o Lula tem direito sim de ter outra companheira. Que o apoia em tudo, mas assim, ninguém apaga a imagem, a história que tem a ver com a construção da classe trabalhadora brasileira.
Adriana Negreiros
Segundo aliados, a declaração de Janja evidencia como ela se esforça para concorrer em importância, em uma competição que não existe, de mulher mais importante na vida de Lula. Não de hoje, mas da história dele.
Marisa não fazia questão de ocupar espaços públicos, não ligava para jantares, encontros com autoridades e não se impressionava com o glamour da posição. Mas isso não significa que ela não dizia a Lula o que pensava.
Junéia Batista
Ela era uma mulher politizada, sim, ela sabia o que ela tava fazendo, ela sabia qual era o lugar dela naquele latifúndio, mas ela fez uma opção assim, não, deixa ele aparecer.
Adriana Negreiros
E quem conheceu bem a Marisa afirma que ela não agia de maneira mais contida porque era uma mulher frágil. Pelo contrário.
Juca Kfouri
A galega. Ela era uma figuraça. Brava para cacete.
Adriana Negreiros
Esse é jornalista e colunista do UOL Juca Kfouri. Ele conviveu anos com Marisa Letícia enquanto ela foi casada com Lula.
Juca Kfouri
Eu gostava muito dela, porque ela era, nesse aspecto, ela era o inverso de qualquer coisa que você possa chamar de diplomática. Ela não disfarçava de quem ela gostava e de quem ela não gostava, mas isso antes do Lula ser presidente.
Adriana Negreiros
Eu quis conversar com Juca porque ele foi o juiz do jogo de futebol em que, segundo versão oficial, o flerte de Lula e Janja começou. Nós vamos falar mais deste evento no próximo episódio.
Juca fez uma análise política da primeira-dama no governo.
Juca Kfouri
Sei que ela teve influência positiva na escolha de certas mulheres para o escalão principal do governo. Mas temo que, de uns tempos para cá, ela tenha perdido um pouco, talvez por excesso de proteção ao Lula e tal, a noção de limites. Não vejo exatamente o que ela vai fazer nas entrevistas coletivas do Lula, ali ao lado dele.
Adriana Negreiros
Apesar da intimidade, Juca não se furtou em criticar o novo relacionamento de Lula.
Juca Kfouri
A Janja já se aproxima do Lula como tiete, né? Como tiete.
Adriana Negreiros
Essa visão de que Janja seria uma "tiete" não é exclusiva de Juca. Eu ouvi essa definição de outras pessoas. Não pude deixar de pensar no seguinte: o jeito expansivo da primeira-dama não agrada quem tá acostumado com mulheres menos imponentes ocupando esses espaços.
Mas também ouvi outros argumentos em minhas entrevistas. Eu conversei com uma feminista do PT que conhece o Lula há mais de quarenta anos.
Essa fonte me disse o seguinte: No comando do PT, por mais deslizes que tenha cometido, Lula nunca foi um líder que freasse as mulheres. Ela não entende, portanto, o porquê das correções de Janja a ele em público; nem o fato de trazer as pautas do feminismo como se fosse algo inédito na carreira dele.
Ela lembra que o partido elegeu a primeira mulher prefeita de capital em 85, a Maria Luiza Fontenele, em Fortaleza. Também elegeu duas mulheres prefeitas de São Paulo - Luiza Erundina, em 88, e Marta Suplicy, em 2000. Além, claro, da única presidente do Brasil, Dilma Rousseff. A presidente do PT também é uma mulher - Gleisi Hoffmann.
Na avaliação dessa e de outras pessoas próximas ao presidente, Janja esconde o pioneirismo do Lula.
Uma outra diferença entre Janja e Marisa que fica explícita é a vontade da atual primeira-dama em ter um cargo oficial no governo. No episódio passado, a gente contou da vez em que ela teve uma tentativa barrada pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa. Mas eu descobri uma outra e os bastidores você ouve em primeira mão aqui.
Fabíola Cidral
Em abril de 2023, a OEI, Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e Cultura, anunciou que Janja passaria a atuar como coordenadora da Rede de Inclusão e Igualdade.
O anúncio foi publicado no site da organização durante o que eles chamaram de "turnê da primeira-dama pela Europa com o presidente brasileiro".
A OEI é um organismo internacional que apoia projetos no Brasil junto ao Ministério da Educação.
Durante o anúncio, feito na sede da entidade, na Espanha, Janja posou para fotos ao lado do secretário-geral Mariano Jabonero e disse estar "muito honrada em fazer parte desta equipe".
Mas o trabalho não foi muito além disso. Em janeiro de 2024, a assessoria de Janja resolveu tirar algumas dúvidas sobre o novo trabalho da primeira-dama fazendo uma consulta na CGU, Controladoria Geral da União.
Adriana Negreiros
Eu tive acesso ao teor deste documento.
O texto dizia que a primeira-dama não tinha equipe própria, mas era assessorada por quatro profissionais lotados no gabinete pessoal do presidente da República, e um ajudante de ordens. Essas cinco pessoas seriam designadas informalmente por Lula para trabalhar diretamente com Janja.
Uma das dúvidas da assessoria era se a primeira-dama poderia levar esta equipe em suas viagens nacionais e internacionais pela OEI. E claro, quem deveria arcar com esses custos.
A assessoria enviou também o contrato de trabalho que ela pretendia assinar com a OEI. Em vez de dizer a Janja que ela não deveria assinar o contrato, a CGU levou o caso a Lula. Afinal, me disse uma fonte, ninguém quer dizer não para a primeira-dama.
Eu apurei que a CGU encontrou problemas na maneira como Janja queria exercer a função. Me disseram que, apesar de não ter nada que impeça a primeira-dama de trabalhar no órgão, existia um risco de conflito de interesses, uma vez que ela tem poder de influenciar decisões em qualquer ministério.
Outras três fontes do governo me contaram que Lula não sabia da consulta feita pela assessoria de Janja à CGU. Pego de surpresa, o presidente se irritou e determinou que o assunto fosse esquecido. Depois disso, Janja nunca mais mencionou seu trabalho na OEI.
Para mim, a OEI disse por meio da assessoria de imprensa que Janja recebeu o título de coordenadora da Rede, mas "acabou não atuando" na função.
Confirmou que ela nunca foi remunerada, mas não respondeu porque não seguiu no cargo.
Larissa Peixoto Gomes
Ela poderia pleitear um cargo internacional?
Ela vai conseguir porque ela é esposa do Lula, ela vai conseguir porque ela é esposa do presidente. (...) É uma questão muito complexa, porque nesse caso a mulher tem que se apagar um pouco para que o homem tenha o cargo.
Adriana Negreiros
Essa é a cientista política Larissa Peixoto Gomes, que pesquisa eleições e gênero na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido.
Eu perguntei para a Larissa se é legítimo que Janja participe de reuniões ministeriais e procure interferir em decisões do governo.
Larissa Peixoto Gomes
Não. Infelizmente, não. Eu digo infelizmente porque vejo a Janja como uma pessoa capacitada, uma pessoa que poderia ocupar algum cargo se ela não fosse casada com o Lula. Então vejo nela uma certa frustração, de uma pessoa que poderia contribuir (....) como nós estabelecemos a democracia, não é legítimo. A legitimidade da democracia no Brasil é formulada na base da eleição. Lula foi eleito, ele decide o gabinete e o gabinete deve ser feito na base da coalizão e da meritocracia. (...) a primeira-dama não entra nisso. É um precedente perigoso de se abrir. (...) A legitimidade da democracia fica em ataque. Independente da capacidade dela, ela não tem legitimidade para ocupar nenhum desses cargos. Ela pode ir como esposa do Lula, ela pode aconselhar o Lula, porque ela é casada com ele.
Adriana Negreiros
Janja não tem filhos. Seus pais já faleceram e ela não tem uma relação próxima com o irmão. Também é uma mulher de poucos amigos. Não é exagero dizer que sua vida gira em torno de Lula.
Janja
Eu conheço muito bem ele, eu sei os tempos dele, eu sei os tempos em que é para não falar de trabalho, sei o tempo que também é para conversar um pouco sobre trabalho.
Adriana Negreiros
Eu tive muita dificuldade para que as pessoas me contassem histórias de Janja. Desde os amigos da juventude até os que já a conheceram como namorada de Lula, ninguém me contou causos, algo como "certo dia, a Janja fez isso e aquilo outro".
Isso não quer dizer que Janja não tenha feito nada de importante. Mas me intriga como ninguém é capaz de contar histórias com detalhes sobre o passado profissional ou militante da primeira-dama.
Fabíola Cidral
A trajetória dela parece construída mais por ecos coletivos do que por feitos individuais. E o que isso revela?
Nesse podcast, até agora, falamos de Janja. Mas, para responder a essas perguntas, vamos para a Curitiba dos anos 80. A gente quer saber quem foi Rosângela.
No próximo episódio de "Janja".
Janja
Eu conheci, quer dizer, eu já conhecia o meu marido de outros momentos.
Nelson Rosário de Souza
O que eu me lembro é que ela era muito nova tanto fisicamente quanto assim no comportamento, né?
Ciça Guedes
Ela não se casou com ele, ela foi morar com um cara mais velho, então naturalmente que o que se construía de imagem dela em volta certamente não era lisonjeiro.
Siro Darlan
Naquela ocasião a ascendência dela, já mostrava que tinha alguma coisa diferente, né?
Lula
Portanto, meus queridos companheiros e companheiras, eu queria agradecer à Dona Rosângela, que propôs o meu nome aqui para ser convidado.
Sirio Darlan
Uma pessoa da importância do Lula aceitar um convite onde ele não sabe que não é aceito, mas assim mesmo foi, demonstra uma certa ascendência.
Créditos:
Apresentação: Fabíola Cidral e Adriana Negreiros.
Reportagem: Adriana Negreiros, Lucas Borges Teixeira e Carla Araújo.
Roteiro: Clara Rellstab e Helena Dias.
Pesquisa: Adriana Negreiros, Clara Rellstab, Helena Dias, Bárbara Falcão e Lucas Borges Teixeira.
Coordenação: Ligia Carriel, Bárbara Falcão e Carla Araújo.
Montagem: Danilo Corrêa.
Desenho de som e finalização: João Pedro Pinheiro.
Trilha sonora original: João Pedro Pinheiro.
Trilhas adicionais: Epidemic Sound.
Direção de voz: João Pedro Pinheiro.
Design: Kiki Thomé.
Motion design: Santhiago Lopes.
Direção de arte: Gisele Pungan e René Cardilho.
Redes sociais: Arthur Belotto, Luca Machado e Laís Montagnana.
Gerente geral de reportagens especiais: Diego Assis.
Gerente de UOL Notícias: Alexandre Gimenez
Supervisão: Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL.