Imprensa francesa tem dúvidas sobre confiabilidade de novo homem forte da Síria
A imprensa francesa repercute nesta segunda-feira (9) o fim de cinco décadas de ditadura da família Assad na Síria. O jornal Le Monde expressa dúvidas sobre a confiabilidade do novo homem forte do país, Abu Mohammed al-Jolani, líder islamista da coalizão rebelde que levou Bashar al-Assad ao exílio e tomou o palácio presidencial em Damasco.
A imprensa francesa repercute nesta segunda-feira (9) o fim de cinco décadas de ditadura da família Assad na Síria. O jornal Le Monde expressa dúvidas sobre a confiabilidade do novo homem forte do país, Abu Mohammed al-Jolani, líder islamista da coalizão rebelde que levou Bashar al-Assad ao exílio e tomou o palácio presidencial em Damasco.
"Depois de combater na Al-Qaeda no Iraque e na Síria, o líder do grupo armado islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) conseguiu disciplinar os rebeldes e tranquilizar as minorias religiosas. Mas as verdadeiras intenções do homem que agora usa o seu nome verdadeiro, Ahmed al-Sharaa, em vez do seu nome de guerra, permanecem um enigma", assinala a edição eletrônica do Le Monde.
O jornal lembra que a ofensiva relâmpago de 12 dias, a partir da província de Idlib até alcançar Damasco, não teve atos de vingança ou violência gratuita contra as diversas minorias religiosas sírias.
No entanto, o endoutrinamento político-religioso de Al-Sharaa, como ele quer ser chamado daqui para a frente, foi feito com o objetivo de combater as tropas americanas que invadiram o Iraque em 2003 e o levaram, mais tarde, a integrar as organizações terroristas Estado Islâmico e Al-Qaeda.
Al-Sharaa nasceu em Riad, capital da Arábia Saudita, em 1982, em uma família de classe média alta. Filho de um economista comprometido com os ideais da esquerda nacionalista árabe, que trabalhava, na época, no ministério do petróleo saudita, ele cresceu em Mezzeh, um bairro nobre e liberal de Damasco, antes de começar a faculdade de Medicina, que nunca terminou, relata o Le Monde.
O nome de guerra Abu Mohammed al-Joulani é uma referência às Colinas de Golã, região onde nasceu o pai do rebelde, atualmente ocupada por Israel, sublinha a reportagem.
O Le Monde acredita que os países ocidentais irão provavelmente apoiar a emergência de uma nova Síria, mas, por enquanto, irão manter o grupo rebelde HTS na lista de organizações terroristas, até que fique mais claro de que maneira Al-Sharaa irá negociar a transição com os demais grupos rebeldes que derrubaram a ditadura síria.
Sírios comemoram vitória contra opressão
O jornal Libération mostra que a queda de Bashar al-Assad provoca uma alegria intensa entre os sírios, após meio século de opressão. Milhares de famílias que se refugiaram em países vizinhos desde o início da guerra civil, em 2011, já estão retornando ao país, principalmente provenientes do Líbano.
Mas a ascensão do grupo STH, de Al-Sharaa, e sua capacidade de se articular com os demais insurgentes do Exército Nacional Sírio (ENS) e das Forças Democráticas Sírias (FDS) e outras facções menores, inclusive o Huraas al-Din, afiliado à Al-Qaeda, e milícias locais tornam o futuro do país e da região ainda muito incerto.
Em entrevista ao portal de notícias France Info, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, disse que "Bashar al-Assad deve ser responsabilizado pelas suas ações".
"Não há paz sem justiça, nem justiça sem verdade", insistiu o chanceler, ao descrever um regime "criminoso". O ministro recordou o assassinato do embaixador francês Louis Delamare, em 1981, no período em que o país ainda era governado por Hafez al- Assad, pai de Bashar.