Veja reações pelo mundo à queda de Bashar al-Assad na Síria
As reações internacionais se sucedem, após a tomada de Damasco por rebeldes islâmicos e a fuga do presidente sírio, Bashar al-Assad. França e União Europeia celebraram neste domingo (8) um marco "positivo" e pedem unidade do povo sírio. Em Israel, Benjamin Netanyahu fala em desestabilização do "eixo do mal", enquanto o Irã confirma apoio incondicional ao regime de Assad, cujo paradeiro é desconhecido.
O presidente francês, Emmanuel Macron, saudou a queda do presidente Bashar al-Assad, ao mesmo tempo que sublinhou que a França permanecerá "comprometida com a segurança de todos" na região. "O estado de barbárie caiu finalmente", afirmou o chefe de Estado na rede social X, prestando "homenagem ao povo sírio, à sua coragem e à sua paciência". "Neste momento de incerteza, desejo-lhes paz, liberdade e unidade", acrescentou.
Considerando os riscos de instabilidade que podem advir desta mudança de regime, Macron reafirmou que "a França continuará comprometida com a segurança de todos no Oriente Médio". O presidente diz estar atento à presença de jihadistas, especialmente franceses, em solo sírio e com o risco de exportar esta ameaça para a Europa e a região. Devemos "evitar o ressurgimento de movimentos terroristas que poderiam ter a capacidade de desestabilização regional e de preparar ataques planejados", acrescentou.
A França apela aos sírios para que rejeitarem o "extremismo", reagiu, também neste domingo, o porta-voz do Ministério das Relações Estrangeiras francês, Christophe Lemoine. "Embora o regime (de Bashar al-Assad) tenha constantemente colocado os sírios uns contra os outros e a Síria esteja fraturada e fragmentada, chegou o momento da unidade", disse ele em um comunicado de imprensa.
O regime de Bashar al-Assad entrou em colapso no domingo, face a uma ofensiva liderada pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), o antigo braço sírio da Al-Qaeda. A coligação de grupos rebeldes fez um avanço espectacular em cerca de dez dias, capturando grandes cidades como Aleppo e Hama, antes de anunciar, na noite de sábado para domingo, ter tomado controle de Homs, a terceira cidade do país, e entrado na capital Damasco.
A chefe da diplomacia da União Europeia (UE) saudou a queda de Bashar al-Assad na Síria como "positiva". Para Kaja Kallas, isso mostra a fraqueza do apoio russo e iraniano. "O fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado. Também mostra a fraqueza dos apoiadores de Assad, a Rússia e o Irã", disse Kallas, em uma publicação no X.
Ela acrescentou que a prioridade da UE será "garantir a segurança" na região e se comprometeu a trabalhar com "todos os parceiros construtivos" na Síria e, de forma mais ampla, na região. "O processo de reconstrução da Síria será longo e complicado e todas as partes devem estar preparadas para se envolver de forma construtiva", disse.
O primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, insistiu neste domingo na "proteção das vidas de civis" e na realização de eleições "livres" após a queda do regime sírio. "Nos próximos dias, semanas e meses, a proteção das vidas e infraestruturas civis, bem como o respeito pelo direito internacional, devem ser fundamentais", afirmou Harris em um comunicado. "O futuro da Síria deve ser determinado pelos sírios, através de uma transição pacífica e de eleições livres e justas", acrescentou o primeiro-ministro.
O Ministério de Relações Exteriores da China, por sua vez, afirmou neste domingo esperar que a Síria "retorne à estabilidade o mais rapidamente possível", de acordo com um comunicado de Pequim.
O Iraque apela a "respeitar" a vontade de todos os sírios, enquanto o Talibã 'parabenizou' o povo sírio e os rebeldes, após queda de Assad.
"Eixo do mal"
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse neste domingo que a queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, foi "um dia histórico" e a queda de um "elo central" no "eixo do mal" liderado pelo Irã. "Este é um dia importante na história do Oriente Médio" e "uma consequência direta dos golpes que desferimos no Irã e no Hezbollah (libanês), os principais apoiadores do regime de Assad", analisou Netanyahu.
Israel ainda reiterou que não permitirá que "nenhuma força hostil" se estabeleça em suas fronteiras.
A Ucrânia saudou a queda de Bashar al-Assad na Síria dizendo que as ditaduras que apostam no presidente russo Vladimir Putin estão condenadas ao mesmo fim. Kiev declarou apoio "ao povo sírio", de acordo com mensagem do ministro das Relações Exteriores, Andriï Sybiga, na rede X. "Assad caiu. Sempre foi assim e sempre será assim para os ditadores que confiam no (líder russo Vladimir) Putin. Ele sempre trai aqueles que contam com ele", afirmou o chefe da diplomacia ucraniana, acrescentando que Kiev queria "abrir caminho para o restabelecimento das relações (com a Síria, nota do editor) no futuro".
Embaixada iraniana saqueada
A embaixada iraniana na Síria foi saqueada. "Pessoas desconhecidas atacaram a embaixada iraniana, como mostram imagens difundidas por vários canais estrangeiros", afirmou a televisão estatal iraniana, transmitindo imagens filmadas em Damasco pelo canal saudita Al-Arabiya. O Irã tem sido um aliado inabalável do regime de Assad.
Porém, a política do Irã em relação à Síria deverá evoluir, alertou neste domingo a diplomacia iraniana, após a entrada em Damasco da coligação rebelde que reivindica a saída do presidente sírio, Bashar al-Assad, aliado de Teerã. Ao mesmo tempo em que apoia inabalavelmente o presidente sírio, O Irã indicou que deseja a continuação das boas relações com a Síria, após a chegada da coligação rebelde que busca o poder.
"As relações entre o Irã e a Síria têm uma longa história e sempre foram amigáveis", afirmou o Ministério das Relações Exteriores iraniano em um comunicado. O Irã "adotará uma abordagem e posições apropriadas" dependendo "dos desenvolvimentos na Síria e na região", continuou a nota do Ministério.
ONU fala em "esperanças cautelosas"
O enviado das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen, apelou neste domingo à manutenção de "esperanças cautelosas" após a tomada de Damasco por rebeldes islâmicos. Ele descreveu um "momento decisivo" que põe fim a meio século de poder do clã Assad.
Em um comunicado, Pedersen disse que os quase 14 anos de guerra civil na Síria foram "um capítulo negro (que) deixou cicatrizes". "Hoje, olhamos para o futuro com cautelosas esperanças de abertura (...) de paz, de reconciliação, de dignidade e de inclusão para todos os sírios", assegurou o diplomata.
"Este dia marca um ponto de virada na história da Síria, uma nação que suportou quase 14 anos de sofrimento incessante e pesadas perdas", acrescentou ele, expressando "a sua mais profunda solidariedade com todos aqueles que suportaram o peso da morte, a destruição, as detenções e violações dos direitos humanos".
Pedersen reconheceu, contudo, que "os desafios pela frente continuam imensos", sublinhando que "este é um momento para abraçar a possibilidade de renovação". Para o diplomata, a resiliência do povo sírio oferece um caminho para uma Síria unida e pacífica", continuou ele.
O enviado especial da ONU destacou, por fim, "o desejo claro expresso por milhões de sírios de que sejam implementados acordos de transição estáveis e que as instituições sírias continuem funcionando".
Bashar al-Assad governou a Síria com mão de ferro durante vinte e quatro anos, reprimindo de forma sangrenta as manifestações pró-democracia em 2011, que se transformaram numa guerra civil, uma das mais violentas do século XXI.
(Com AFP)