Presidente da Coreia do Sul pode escapar de impeachment na Câmara, sob protestos nas ruas de Seul
A Câmara dos Deputados da Coreia do Sul vota neste sábado (7) o processo de impeachment do presidente Yoon Suk Yeol, protocolado pela oposição após a tentativa de golpe-relâmpago durante a semana. Mais cedo, o presidente pediu "sinceras desculpas" por ter imposto a lei marcial por algumas horas no país e enviado soldados e tropas ao Parlamento, mas não renunciou ao cargo, como esperava o líder do seu partido, Han Dong-hoon.
Han, alvo de um dos mandados de prisão emitidos pelo presidente e depois retirado, havia afirmado que "uma demissão antecipada de Yoon Suk Yeol é inevitável". É necessária uma maioria de 200 deputados, de um total de 300 que compõem a Casa, para destituir o presidente.
A votação começou pouco depois das 17h na hora local, enquanto pelo menos 150 mil manifestantes ocupavam as ruas de Seul para exigir o impeachment. A oposição tem 192 deputados, o que significa que pelo menos oito parlamentares da legenda de Yoon, o Partido Popular do Povo (PPP), precisariam votar a favor do impeachment para a moção ser aprovada.
Entretanto, em meio a divisões internas, no começo da sessão, os deputados da sigla boicotaram o processo e se retiraram em massa da Assembleia. Apenas dois ficaram e um terceiro retornou depois do início da votação. Os três votaram sob aplausos. O resultado é esperado para as próximas horas.
Pedido de desculpas, mas sem renúncia
Nesta manhã, em um breve discurso à nação, pela televisão, o presidente sul-coreano pediu desculpas pela declaração efêmera de uma lei marcial. "A declaração da lei marcial surgiu de minha urgência como presidente", explicou Yoon, na televisão. "Contudo, no processo, provoquei ansiedade e inconveniência à população. Me desculpo sinceramente ante os cidadãos que se sentiram muito angustiados", disse.
O presidente acrescentou que "deixa nas mãos do seu partido estabilizar a situação política no futuro, incluindo o seu mandato". Yoon surpreendeu o país e a comunidade internacional na terça-feira (3) à noite ao decretar, pela primeira vez desde a instauração da democracia em 1987, uma lei marcial e enviar soldados e tropas ao Parlamento.
Os deputados opositores, majoritários na Câmara, conseguiram votar contra o decreto e forçaram Yoon a revogar a ordem na madrugada de quarta-feira (4), em uma noite de drama e manifestações de rua no importante país asiático.
Desde então, Yoon não tinha se pronunciado em público, apesar dos pedidos de renúncia de manifestantes e oposição, que o acusam de "insurreição".
O ex-procurador da Coreia do Sul se tornou presidente em 2022. Na noite de sexta-feira, os deputados do PPP mantinham a posição inicial de se opor à moção de destituição, mas seu líder Han Dong-hoon assegurou neste sábado, após o discurso de Yoon, que "uma renúncia antecipada do presidente é inevitável".
Na sexta, Han assegurou que sua manutenção no cargo "colocaria a República de Coreia e seus cidadãos em grande perigo" e citou "indícios plausíveis" de que o presidente ordenou a prisão de políticos na noite em que decretou a lei marcial.
Em caso de impeachment, Yoon ficaria suspenso de suas funções à espera de uma decisão da Corte Constitucional.
Em seu discurso na noite de terça-feira, Yoon assegurou que a lei marcial serviria para proteger uma Coreia do Sul liberal das "ameaças representadas pelas forças comunistas da Coreia do Norte" e "pelos elementos antiestatais que roubam a liberdade e a felicidade do povo".
Conversa com Blinken
Em minoria no Parlamento desde as eleições de abril deste ano, Yoon mantinha uma dura queda de braço com os deputados opositores, que recentemente fizeram cortes no orçamento do governo para o próximo ano.
Embora a lei marcial proibisse as atividades políticas e as manifestações, deputados e milhares de manifestantes foram até o Parlamento, onde quase 300 soldados tentavam blindar o recinto. Entretanto, os funcionários da Câmara bloquearam a entrada dos soldados com sofás e extintores, enquanto os deputados, alguns dos quais tiveram que escalar as grades para entrar, votavam contra o decreto de Yoon.
O episódio trouxa à tona lembranças do doloroso passado autocrático da Coreia do Sul e surpreendeu seus aliados ocidentais, especialmente os Estados Unidos, que têm quase 30 mil soldados destacados no país diante da ameaça da Coreia do Norte.
Em uma conversa telefônica nesta sexta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse a seu colega sul-coreano Choe Tae-yul que espera que "o processo democrático prevaleça".