Mãe quer reabrir processo contra médico após ver caso hidrolipo: 'Um baque'
O médico Josias Caetano dos Santos, responsável por hidrolipo de mulher que morreu na última terça-feira (26), já foi investigado pela morte de outra paciente. A técnica em enfermagem Elaine Cristina Andrade morreu em maio de 2021, aos 40 anos, 26 dias após realizar uma cirurgia para colocar próteses de silicone. O caso foi arquivado pela Justiça de São Paulo em 2023, mas a família da vítima quer reabrir o processo.
O que aconteceu
Elaine Cristina Andrade pagou cerca de R$ 14 mil para realizar a cirurgia. A mulher se submeteu ao procedimento no dia 7 de abril de 2021, no SP Day Hospital, localizado no bairro da Vila Leopoldina, na zona oeste da capital paulista.
Segundo a família da paciente, ela recebeu a indicação do cirurgião por meio da ONG Social Care. Em seu site, a instituição descreve que visa proporcionar acesso a procedimentos cirúrgicos, especialmente cirurgia plástica, "para indivíduos economicamente desfavorecidos".
Cirurgia era presente de aniversário. A mãe da técnica em enfermagem contou que a filha juntou dinheiro e decidiu se dar de presente de aniversário o procedimento estético. "Deixou de fazer uma festa para pagar a cirurgia, era o sonho dela", afirmou Carmen Lúcia Andrade, 65.
Paciente sentia dores e retornou ao médico três vezes após a cirurgia. Nos dias 9, 16 e 23 de abril, a mulher procurou a clínica onde realizou o procedimento e detalhou que sentia dores do lado esquerdo da mama. "Ela sentia como se tivesse água dentro da mama, também sentia o braço muito dolorido. Ele [o médico Josias Caetano] falou que era o sutiã e que as dores eram normais", disse a mãe de Elaine.
Elaine passou mal 23 dias após a cirurgia e foi socorrida. A mãe e a irmã dela perceberam que ela estava tendo uma parada cardiorrespiratória e a levaram ao Hospital do Campo Limpo. "Ela dizia que estava morrendo, que não conseguia respirar. Minha filha caiu e nunca mais ouvimos a voz dela", lembrou a mãe.
Ela foi encaminhada para a UTI e morreu no dia 3 de maio. A morte foi decorrente de infarto agudo do miocárdio, segundo o laudo do Instituto Médico Legal. A família relata que Elaine estava com secreção e infecção, mas o exame necroscópico não registrou sinais de processo infeccioso generalizado ou localizado (nas mamas e nas
cicatrizes).
A técnica em enfermagem deixou um filho de 13 anos na época. "Ficamos desestruturados, a gente sabia que era o sonho dela realizar essa cirurgia, de repente ela partiu. Foi um baque. O filho dela viu tudo, desde a hora que ela passou mal, ele hoje mora com a gente, tenho a guarda dele", diz a mãe de Elaine.
Caso foi arquivado, mas a família de Elaine quer reabrir a investigação
O caso foi arquivado pela Justiça de São Paulo em 26 de setembro de 2023. A decisão do Tribunal de Justiça seguiu a recomendação do Ministério Público do estado. Segundo o MP, o parecer médico-legal não encontrou nexo causal entre a cirurgia realizada por Josias Caetano dos Santos e a morte de Elaine Cristina Andrade.
"A ocorrência do evento cardiovascular súbito, infarto agudo do miocárdio/parada cardiorrespiratória, que levou a paciente a óbito, foi imprevisível não nos permitindo estabelecer liame, nexo causal direto e inequívoco, com o procedimento cirúrgico mamoplastia, realizado 23 dias antes", diz laudo.
Família de Elaine contratou advogado para reabrir a investigação. Decisão veio após circular na imprensa a notícia da morte de uma paciente de 31 anos após realizar uma hidrolipo em uma clínica no Carrão, em São Paulo, com o mesmo médico. "Eu vou representar o procurador-geral de Justiça pela reabertura do processo criminal por fatos novos", afirmou o advogado da família, José Beraldo.
Paloma Lopes Alves sofreu uma parada cardiorrespiratória minutos após o procedimento. Ela se submeteu a uma cirurgia na clínica Maná Day na terça-feira (26) para remover gordura da região das costas e abdômen.
Carmen lamentou que quando leu a notícia se sentiu mal. "A gente viu que não foi só uma pessoa, não foi só nossa família que está passando por isso, de perder alguém por um médico que ceifa vidas. Estamos muito abalados por tudo isso".
Além do processo criminal, que foi arquivado, a família também entrou com um processo civil contra o médico. O segundo processo ainda está em andamento, segundo a família.
A defesa de Josias Caetano afirmou que ele é inocente e não foi condenado pelo caso. "O doutor Josias, conforme comprovou perícia do IML, ratificado pela polícia, Ministério Público e Justiça, não teve culpa pela morte", explicou o advogado Lairon Joe.
O caso foi investigado pelo 91º Distrito Policial (Ceagesp). Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo esclareceu que, após esgotadas as diligências, o inquérito policial foi relatado e encaminhado à Justiça, com o indiciamento do médico em janeiro de 2023. Na mesma ocasião, foi expedido um ofício ao Cremesp solicitando a apuração dos fatos também junto ao órgão. Posteriormente, o caso foi arquivado pela Justiça.
Cirurgião enfrenta processos por supostos erros médicos
Ao menos 22 mulheres entraram com processo contra Josias Caetano por dano estético. A maioria dos casos ocorreu entre 2018 e 2021. De acordo com o advogado José Beraldo, que representa as vítimas, há casos, inclusive, de mulheres mutiladas. "Essas mulheres foram procurar beleza, pagaram por um sonho, no fim restou um pesadelo. Eles se sentem monstras, muitas têm vergonha de usar biquínis em praias e estão abaladas emocionalmente", afirmou.
Advogado explica que todos os processos estão em andamento na Justiça de São Paulo. As denunciantes estão na fase da perícia judicial. As audiências, agendadas para 2025, serão realizadas no no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo para provar os danos decorrentes dos procedimentos.
Mulher perdeu os mamilos após uma cirurgia de redução de mama. Sônia Maria Costa, 63, procurou o profissional em 2020 e pagou cerca de R$ 8 mil pela cirurgia. "Meus mamilos necrosaram, ele fez duas cirurgias e não falou que isso iria acontecer, a gente sabe que há riscos, mas eu me cuidei com enfermeiras, e ele não deu suporte. Meus seios ficaram um maior do que o outro, é um trauma", contou ela ao UOL. "Ele falava que era culpa minha. Até hoje me dói muito".
Advogado do médico diz que ele não foi condenado por esses casos. "Em relação a processos, vivemos em um estado democrático de direito, onde todos podem buscar a justiça quando se sentirem lesados. Informo que o doutor nunca foi condenado por erro de procedimento médico, que na nossa posição ocorre quando é verificado um erro de procedimento na cirurgia plástica", informou o advogado Lairon Joe.
Além do erro médico, pode haver erro de informação, que é quando não se é informado, de maneira devida, as possíveis intercorrências, sendo que melhoramos todos os dias os nossos termos para não haver impugnação quanto a isso.
Advogado Lairon Joe
Se a Justiça e o Cremesp tivessem atendido aos meus pedidos, para que ele ficasse suspenso de realizar cirurgias, não teria acontecido a morte de Paloma, uma moça que foi buscar beleza e acabou nessa tragédia anunciada.
Advogado José Beraldo