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António Costa, um hábil negociador para buscar acordos na UE

29/11/2024 07h23

O ex-primeiro-ministro português António Costa tem pela frente um grande teste para sua reconhecida capacidade de negociação, ao assumir o cargo de presidente do Conselho Europeu, onde deverá obter acordos entre os líderes do bloco.

Discreto e sorridente, o socialista de 63 anos recebeeu nesta sexta-feira (29) o símbolo da presidência do Conselho, um pequeno sino utilizado para conduzir as reuniões. Seu mandato começa no domingo, data que marca a renovação das autoridades da União Europeia.

"Somente estando unidos faremos com que a voz da Europa seja ouvida no cenário internacional", declarou Costa ao receber o símbolo do presidente em fim de mandato, o belga Charles Michel. 

"Não devemos ignorar nossas diferenças de opinião", acrescentou o dirigente português. 

Como presidente do Conselho Europeu, Costa presidirá os encontros de cúpula de chefes de Estado e de Governo, conhecidos pelas reuniões intermináveis e acordos súbitos alcançados por meio de consultas diretas entre líderes.

O papel de Costa será identificar as áreas em que o interesse coletivo se sobrepõe às preocupações nacionais, além de conduzir os dirigentes a consensos, que, à primeira vista, são muito difíceis.

O seu antecessor, o belga Charles Michel, provocou situações desconfortáveis ao se apresentar como uma figura central da política da UE, mas pessoas próximas a Costa concordam que o português tem um estilo mais discreto.

Antes de assumir o cargo, Costa visitou as capitais do bloco e se reuniu com presidentes e primeiros-ministros para conhecer suas expectativas sobre questões prioritárias e métodos de trabalho.

Uma fonte do Conselho Europeu mencionou que as prioridades de gestão de Costa serão o apoio à Ucrânia em sua guerra com a Rússia, a defesa, a competitividade, a migração e o orçamento de longo prazo da UE.

Além disso, o português está interessado em manter uma relação melhor com a poderosa presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, que iniciará o segundo mandato à frente do poder Executivo do bloco.

Nos últimos cinco anos, as tensões permanentes e visíveis entre Michel e Von der Leyen afetaram o nível de cooperação nas instituições da UE.

Ex-parlamentar em seu país, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Costa tornou-se primeiro-ministro de Portugal em 2015, depois de estabelecer uma aliança de esquerda.

Com a aliança, Costa mostrou toda sua capacidade para negociar acordos e construir consensos.

- Cidadão estrangeiro da Índia -

Em 2020, as habilidades de negociação de Costa desempenharam um papel central para convencer o primeiro-ministro da Hungria, o ultranacionalista Viktor Orbán, a suspender seu bloqueio ao enorme plano de recuperação econômica pós-pandemia desenvolvido pela UE.

A trajetória de Costa sofreu uma reviravolta em 2023, quando ele foi forçado a renunciar devido a uma investigação de corrupção contra seu governo. A investigação concluiu que não havia indícios de crimes por parte do então primeiro-ministro.

A conclusão reforçou a campanha de vários países, em particular do francês Emmanuel Macron e do espanhol Pedro Sánchez, que têm uma relação pessoal próxima com o português, para que ele assumisse o comando do Conselho Europeu.

Costa será a primeira pessoa de origem não europeia a assumir a presidência de uma das principais instituições do bloco. Seu pai, o escritor comunista Orlando da Costa, nasceu em Moçambique em uma família originária de Goa, uma ex-colônia de Portugal na Índia. Sua mãe, Maria Palla, é uma famosa ativista feminista em Portugal. 

Costa, que nasceu em Lisboa, recebeu em 2017 do primeiro-ministro indiano Narendra Modi um documento honorário de cidadão estrangeiro da Índia, um gesto para consolidar os laços entre os dois países.

A equipe de Costa afirma que sua experiência pode ajudá-lo a construir pontes com regiões do mundo que a UE busca alcançar.

"Precisamos ter relações mais estreitas com diferentes regiões e países que sejam relevantes em um mundo que é muito mais do que o G7 ou o G20", disse Costa em uma entrevista recente.

bur-ahg/es/fp/dd/jb 

© Agence France-Presse

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