Entenda passo a passo como foi o atentado na praça dos 3 Poderes
Eram 19h30 de quarta-feira (13) quando um carro em um estacionamento da Câmara dos Deputados pegou fogo depois que o chaveiro Francisco Wanderley Luiz incendiou o próprio veículo antes de lançar explosivos em direção ao prédio do STF, deitar no chão, colocar outra bomba sobre a cabeça e esperar a explosão.
Veja como foi o atentado, das ameaças às explosões:
Os preparativos
Luiz circulou pelo anexo 4 da Câmara durante todo o dia de ontem, segundo informação do chefe de segurança da Casa. A entrada no local, onde fica a maioria dos gabinetes dos deputados, é liberada a qualquer pessoa. Os visitantes chegam a passar por um detector de metal, mas não há revista.
Dias antes das explosões, Luiz usou as redes sociais para dar indícios do que estava prestes a acontecer. Ele escreveu no Facebook que a Polícia Federal tinha "72 horas" para "desarmar a bomba". Em outra publicação, menciona o dia de ontem, 13 de novembro, como data de um "grande acontecimento".
Horas antes do atentado, ele voltou a falar sobre ameaças, agora a líderes políticos. "Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de materiais, etc.", alertou no Facebook.
"Deixaram a raposa entrar no galinheiro", escreveu ele em uma self no plenário do STF. A Corte apura se a imagem que circula no WhatsApp é verdadeira e a data exata em que ela foi registrada.
O atentado
Primeiro, um carro com placa de Santa Catarina pegou fogo no estacionamento do anexo 4 da Câmara. A suspeita é que Luiz provocou o incêndio para desviar a atenção e seguir para a praça dos Três Poderes com o objetivo de detonar os artefatos perto do Tribunal. "Era uma bomba caseira, com pólvora e tijolos. O suspeito tentou causar uma grande explosão e não conseguiu", afirmou o sargento Santos, da Polícia Militar do DF, que desarmou a bomba no porta-malas do carro.
Um segurança do Supremo chamado Natanael Carmelo testemunhou as explosões e o suicídio. "O indivíduo trazia consigo uma mochila, e estava em atitude suspeita em frente à estátua [da Justiça]. [Ele] Colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua", afirmou Carmelo em depoimento registrado em boletim de ocorrência na Polícia Civil. Uma câmera de segurança flagrou o momento (veja acima).
Diante da atitude suspeita, os seguranças foram em direção ao homem, que abriu a camisa e "os advertiu para não se aproximarem", diz o BO. Natanael, então, viu algo "semelhante a um relógio digital" e desconfiou que fosse um explosivo.
Luiz, então, "lançou dois ou três artefatos, que estouraram. Depois disso, o segurança pediu apoio imediato, mas já era tarde.
[Luiz] deitou no chão, acendeu o ultimo artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão.
Natanael Carmelo, segurança, em depoimento à polícia
STF foi evacuado, Lula estava em reunião
O plenário do Supremo foi evacuado depois das explosões. Alguns ministros ainda estavam no prédio depois da última sessão do dia. "Servidores e colaboradores do edifício-sede foram retirados por medida de cautela", informou o STF em nota. "A Segurança do STF colabora com as autoridades policiais."
O presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, conversou por telefone com Lula. Ele também falou com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e com a vice-governadora do DF, Celina Leão, além de trocar mensagens com o governador Ibaneis Rocha, que está na Itália e tem volta prevista para sexta-feira (15).
Ministro da Justiça na invasão do 8 de Janeiro, o hoje ministro do STF Flávio Dino lamentou o episódio nas redes sociais. "A Justiça segue firme e serena. Orgulho de servir ao Brasil na Casa da Constituição: o Supremo Tribunal Federal", escreveu.
A Câmara dos Deputados encerrou a sessão assim que a morte de Luiz foi confirmada. No Senado, os trabalhos seguiram até encerrar as votações, quando também foi evacuado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), pretende avaliar a necessidade de mais segurança nos prédios dos três Poderes. "É momento de se aferir as circunstâncias e ter a cautela devida", afirmou na ocasião.
Lula estava no Alvorada com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no momento das explosões. Em seguida, ele se reuniu com Andrei Rodrigues e com os ministros do STF Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin.
As investigações
Policiais do Distrito Federal e integrantes do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) entraram em ação imediatamente. Eles fizeram varreduras em busca de outras bombas na praça dos Três Poderes e no entorno do Alvorada, residência oficial da Presidência, e fecharam a Esplanada dos Ministérios. Os policiais do Comando de Operações Táticas da PF foram acionados, além de peritos e agentes do grupo antibombas.
A PF abriu um inquérito para apurar o que a Polícia Militar chamou de "autoextermínio com explosivo". A investigação deverá ser encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes caso exista conexão com a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 e com a atuação de milícias digitais, assuntos sob sua alçada no STF.
Hoje, a PM do DF afirma que encontrou mais bombas na casa alugada por Luiz. Ele morava em uma casa alugada em Ceilândia.
Quem é Francisco Wanderley Luiz
Francisco Wanderley Luiz era catarinense de Rio do Sul e foi candidato a vereador em 2020 pelo PL. À época, ele se candidatou com o nome Tiü França, recebeu 98 votos e não foi eleito para o cargo.
Filho afirma que Luiz saiu de Santa Catarina há cerca de quatro meses para trabalhar em Brasília. A família não sabia sobre seu paradeiro.
Ele trabalhou como chaveiro e camelô. Em 2020, o suspeito informou à Justiça Eleitoral ser casado e ter ensino médio incompleto. Não há registro de outras candidaturas dele a cargos públicos desde então. Nas redes sociais, ele se apresentava como empreendedor, investidor e desenvolvedor.
Processos
Homem foi alvo de processo por "infração de medida sanitária preventiva". De acordo o MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina), em 20 de junho de 2021, ele "promoveu entretenimento" em um estabelecimento comercial e ignorou as medidas de enfrentamento da pandemia então em vigor, promovendo aglomeração de cerca de 80 pessoas. A Justiça entendeu que o homem não poderia ser responsabilizado pela conduta de um grupo de pessoas e ele foi absolvido no caso.
Outro processo pelo mesmo motivo ("infração de medida sanitária preventiva") foi iniciado contra homem em 2023. Além desse caso, o MP-SC move desde 2020 um processo por crime ambiental contra o homem. Não há registro de decisões judiciais relacionadas aos dois casos.