10 tiros, R$ 1 mi em joias, recompensa: o que se sabe da morte de Gritzbach
O empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, foi morto a tiros na sexta-feira (9) enquanto desembarcava no Aeroporto de Guarulhos após voltar de Maceió. Gritzbach era ameaçado de morte pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e pivô de uma guerra interna na facção criminosa.
O que se sabe até agora
Gritzbach desembarcava no aeroporto quando foi alvejado por dez tiros. Ele estava voltando de uma viagem de Maceió com a namorada e teria encontrado dois seguranças. Um deles, estava com o filho do empresário, conforme apurou o colunista do UOL Josmar Jozino. Assim que ele deixou o saguão do aeroporto, o empresário é assassinado por dois homens encapuzados com fuzis. Os atiradores entraram em um Gol preto e fugiram do local.
Ele foi atingido em diversas regiões do corpo. O empresário foi alvejado por quatro disparos no braço direito, dois no rosto, um nas costas, um na perna esquerda, um no tórax e um entre a cintura e a costela, pelo lado direito. Ele morreu no local.
O veículo usado no crime foi abandonado nas imediações do aeroporto. Dentro dele, havia munição de fuzil e um colete à prova de balas.
Homens que mataram empresário tinham treinamento especial e esquema organizado. Segundo o procurador de Justiça, autor do livro "Laços de sangue: a história secreta do PCC", o grupo que participou do assassinato executou a ação de forma sincronizada — mesmo diante de um forte esquema de segurança e com a presença de câmeras. "A execução ocorreu na frente do aeroporto, uma ação ousada, cronometrada, com planejamento militar, indivíduos usando balaclava. É uma circunstância que só uma organização criminosa teria recursos para fazer."
Houve um suposto problema em um dos carros da escolta do empresário. A segurança era feita por quatro policiais militares contratados como segurança pelo empresário. Segundo a Polícia Civil, o Volkswagen Amarok apresentou uma falha e foi deixado em um posto de combustível sem acessar a área de desembarque. A investigação irá apurar se houve mesmo falha mecânica ou se episódio pode estar relacionado com o crime.
Ele tinha R$ 1 milhão em joias na bagagem que trazia de Maceió. Eram pedras preciosas, colares, correntes, anéis, brincos, pulseiras e até um relógio Rolex. Elas estavam em um porta-joias pequeno, de tecido azul-claro com dois certificados Vivara, dois certificados Cartier, um certificado Bulgari, um certificado Cristovam Joalheria e um certificado IBGM Gemologia. A Polícia Civil apreendeu o material.
Joias eram parte de um pagamento. Fontes ligadas ao empresário disseram à coluna que ele havia viajado a Alagoas, acompanhado da namorada, Maria Lúcia Helena Antunes, para cobrar uma dívida. A relação dos bens foi divulgada em documento da própria Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, acessada pelo UOL. Nele, as autoridades também detalham inúmeros aparelhos eletrônicos que estavam com Antônio.
Um motorista de aplicativo também foi morto no atentado. Celso Araújo Sampaio de Novais, 41, foi levado para a UTI após ser atingido por um tiro nas costas, mas não resistiu.
Outras duas pessoas ficaram feridas. Samara Lima de Oliveira, 28, e o funcionário de uma empresa terceirizada do aeroporto, Willian Sousa Santos, 39, também foram levados ao Hospital Geral de Guarulhos. William sofreu ferimentos na mão direita e ombro e está em observação. Samara foi atingida superficialmente no abdômen e acabou liberada. Nenhum deles, nem o motorista de aplicativo, tinham ligação com o empresário, disse a polícia.
Marcado para morrer
Gritzbach estava ameaçado de morte e havia recompensa por sua execução. Ele era acusado de ser o mandante da morte de um narcotraficante ligado ao PCC e também por delatar ao Ministério Público de São Paulo policiais civis envolvidos em casos de corrupção. Em abril, ele entregou ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime Organizado) um áudio de uma conversa entre dois interlocutores negociando a morte dele por R$ 3 milhões.
O empresário enfrentava um processo pelos assassinatos de dois criminosos. Seriam eles o narcotraficante e Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, criminoso influente no PCC, além do motorista de Cara Preta, Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. As vítimas foram mortas a tiros às 12h10 de 27 de dezembro de 2021 em frente ao número 110 da rua Armindo Guaraná, no Tatuapé, zona leste paulistana. Noé Alves Schaum, 42, acusado de ser o executor do crime, foi assassinado em 16 de janeiro de 2022, no mesmo bairro. A cabeça dele foi decepada.
Cara Preta teria entregue R$ 40 milhões a Gritzbach para investimentos em criptomoedas. Segundo investigações, Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, entregou o dinheiro ao empresário, mas o montante não foi devolvido. Ele então passou a exigir a prestação de contas e a devolução do dinheiro. Segundo o MP, Cara Preta era um integrante influente do PCC e envolvido com o tráfico internacional de drogas.
Gritzbach disse para o "Domingo Espetacular" em entrevista anterior que não sabia que estava lidando com criminosos. "Eu intermediei a venda de alguns imóveis para clientes que batiam em minha porta. Se fiz algo errado, que eu pague", disse. Questionado sobre quais crimes ele poderia ter cometido, ele falou sobre "intermediação de forma ilícita, praxe de mercado, venda de um imóvel em um valor e ter outro na escritura".
Ele negou veemente ser mandante do assassinato de Cara Preta e Sem Sangue. "Não mandei matar ninguém e não tive participação nenhuma", disse. Segundo o empresário, Ancelmo nunca o incomodou e eles tinham uma relação amigável, na qual ele intermediava a compra e a venda de imóveis. O homem chegou a gastar R$ 12 milhões em negócios com empresário.
Denunciado pela Justiça, Gritzbach chegou a ficar preso pelos assassinatos, mas respondia ao processo em liberdade. Ele deixou a Penitenciária 1 de Presidente Venceslau (SP) em junho de 2023, usando tornozeleira eletrônica. Na época em que esteve preso, o advogado do empresário dizia que ele poderia ser assassinado na prisão por integrantes do PCC.
Ele já havia escapado de um atentado no Natal de 2023. O ataque ocorreu no prédio onde ele morava no Jardim Anália Franco, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista. Na ocasião, um atirador disparou quando Gritzbach se aproximou da janela para fazer uma filmagem com o celular. Ninguém se feriu. O empresário passava o Natal com o pai, filhos e tios.
Delação premiada
Gritzbach assinou um acordo de delação premiada. A proposta era contribuir com investigações envolvendo o PCC e corrupção na polícia de SP. Ele chegou a pedir proteção em reunião com o Ministério Público de São Paulo por temer pela própria vida.
Cada vez mais, eu preciso de segurança. Então, eu precisava de um amparo de vocês também. Se não, vocês estão falando com um morto-vivo aqui.
Antônio Vinicius Lopes Gritzbach em reunião com o MP
O empresário entregou uma lista de dezenas de imóveis de luxo comprados a preços milionários por narcotraficantes do PCC. Os imóveis eram localizados na zona leste paulistana e em Bertioga (SP). O delator afirmou ao Gaeco que Cara Preta adquiriu uma cobertura no valor de R$ 15 milhões no bairro onde foi morto. O valor foi entregue em espécie na sede da construtora responsável pelo empreendimento, em um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas do PCC. Ele acrescentou que o imóvel foi colocado em nome de Ademir Pereira de Andrade.
Ele também já havia detalhado esquema envolvendo o futebol paulista. Segundo Josmar Jozino, colunista do UOL, o PCC estaria por trás do agenciamento de jogadores de futebol do Corinthians e de outros times de São Paulo.
O promotor do MPSP, Lincoln Gakiya, explicou que a delação do empresário foi aceita pela estreita relação que ele mantinha com o PCC. "Ele era uma pessoa que conviveu com líderes do PCC, ele sabia exatamente onde o crime organizado, sobretudo o PCC, estava lavando dinheiro. Ele era um arquivo vivo, disso não tenho dúvida", declarou em entrevista ao Fantástico (TV Globo) neste domingo (10).
Gakiya ressaltou que Gritzbach enriqueceu por lavar dinheiro para o PCC, ação na qual ele era réu confesso. "Ele ajudou a lavar dinheiro para criminosos do PCC, na área de construção civil, onde ele era corretor e enriqueceu, oferecendo nomes de laranjas para que esses imóveis fossem colocados em nome de terceiros".
Apesar do pedido ao MP, ele recusou entrar programa de proteção. "O Ministério Público ofereceu a todo momento a inserção do Vinicius no programa de proteção de réu colaborador", esclareceu o promotor de Justiça, em entrevista à GloboNews, nesta segunda-feira (11).
Na presença dos seus advogados, ele negou ingressar nesse programa, embora soubesse que corria risco, ele dizia que poderia custear a sua própria segurança.
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça
Gritzbach contratou uma escolta particular formada por policiais militares da ativa. Os quatro PMs foram afastados do serviço.
Ele faria uma segunda delação em que implicaria agentes da Polícia Civil de São Paulo. Os policiais supostamente tinham relação com o PCC, conforme a promotoria. Uma semana antes de ser morto, Gritzbach chegou a fazer uma denúncia na Corregedoria da PCSP em que acusou policiais de terem levado uma caixa com relógios de luxo de sua casa, quando foi preso, dos quais cinco relógios não foram devolvidos. O empresário relatou que ao menos um desses relógios foi visto no braço de um policial em fotos publicadas nas redes sociais pelo agente. As fotos foram deletadas após a denúncia na Corregedoria.
Promotoria esclareceu que o teor desse depoimento de Gritzbach "ainda está em apuração por parte da Corregedoria". "O Ministério Público vai acompanhar e auxiliar no que for possível as investigações para que esse caso seja solucionado o mais rápido possível", completou Gakiya.
O que vai ser investigado
Conduta dos seguranças que faziam a escolta do empresário. Os PMs Leandro Ortiz, 39, Adolfo Oliveira Chagas, 34, Jefferson Silva Marques de Sousa, 29, e Romarks César Ferreira de Lima, 35, estavam na ala de desembarque do terminal 2 do aeroporto, onde Vinícius sofreu a emboscada, mas a polícia suspeita que eles não cuidaram como deveriam da escolta dele.
A Polícia Civil apreendeu os celulares dos agentes. Eles prestaram depoimento e foram liberados. A Corregedoria da PM também deve investigar a conduta deles. A reportagem tenta localizar os PMs. O espaço está aberto para manifestação.
Suposto problema mecânico em um dos veículos da escolta de empresário morto. Após o Volkswagen Amarok, que seria usado na escolta, apresentou falhas, os PMs chegaram ao terminal 2 no veículo Trailblazer. O veículo foi ocupado ainda pelo filho de Vinícius, de 11 anos, e José Luiz Vilela Bittencourt, 23, amigo do empresário. Ambos também tiveram os telefones celulares apreendidos para que a Polícia Civil possa apurar com quem conversaram e o que foi falado.
A polícia investiga se ele foi assassinado a mando do PCC. Mas não descarta outras possibilidades, como queima de arquivo, já que havia assinado acordo de delação premiada e tinha vários inimigos agentes públicos, a quem disse ter pago altos valores em propinas.
A superintendência da PF em São Paulo instaurou inquérito policial para apurar o homicídio. A investigação será realizada de forma integrada com a Polícia Civil do estado, que já apura o caso através do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa).
Veja a relação das joias apreendidas que estavam em posse do empresário:
- Um relógio "aparentemente" Rolex
- Uma corrente na cor prateada com medalha
- Dois anéis de metal prateado com pedraria
- Dois anéis de metal prateado com pedraria em forma de coroa
- Dois anéis de metal prateado com pedras esverdeadas em formato de coração
- Um anel de metal prateado com pedraria e uma pedra esverdeada central em forma de pingo
- Um anel de metal prateado com uma pedra rosada em forma de coração
- Um anel de metal prateado com duas pedras pequenas esverdeadas e uma pedra esverdeada maior ao centro
- Um anel de metal prateado com pedraria e pedra esverdeada central em forma de pingo
- Um anel de metal prateado com seis pedrinhas esverdeadas e uma pedra prateada central
- Duas pulseiras de metal prateado com pingente de minicadeado
- Uma pulseira de metal prateado com pedrarias
- Duas pulseiras de metal prateado com pedras esverdeadas e prateadas
- Uma pulseira de metal dourado
- Um colar de metal prateado com pingente de pedra esverdeada em forma de coração
- Um colar de metal prateado com pingente de pedraria prateada
- Um colar de metal prateado com dois pingentes de pedra rosada em forma de coração
- Um par de brincos de pedra rosa e prateada com tarraxas
- Um par de brincos de pedra verde e branca com tarraxas
- Um par de brincos de pedras verdes com tarraxas
- Um par de brincos de pedras prateadas com tarraxas
- Um par de brincos de pedras
- Um par de brincos de meta dourado escrito Bulgari com tarraxas
- Um par de brincos de pedras esverdeadas com tarraxas
- Um par de brincos com pedras prateadas com tarraxas
- Um par de brincos de pedras azuladas e esverdeadas com tarraxas
- Um par de brincos de metal dourado sem tarraxa
- Um par de argolas pequenas de metal dourado com pedraria