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Lula diz vetar celulares em seu gabinete: 'Não sabemos se estão gravando'

O presidente Lula em reunião com governadores, em Brasília, em 31 de outubro 2024 - Sergio Lima / AFP
O presidente Lula em reunião com governadores, em Brasília, em 31 de outubro 2024 Imagem: Sergio Lima / AFP
do UOL

Do UOL, em São Paulo e Brasília

11/11/2024 00h13Atualizada em 11/11/2024 08h52

O presidente Lula (PT) falou que não usa celular "por precaução" e disse que vetou a entrada dos aparelhos em seu gabinete.

O que aconteceu

Lula explicou que a decisão é por não saber se estão "gravando ou filmando". "Eu quero que tenha o mínimo do comportamento nessa área", disse em entrevista à RedeTV!, veiculada neste domingo (10). O petista relatou tomar muito cuidado, principalmente, por questão de segurança.

Presidente disse que não usa celular. "Eu só gosto de falar por telefone aquilo que eu posso falar para a televisão e que eu posso falar para você em uma entrevista. Eu não gosto de conversa cifrada no celular. Por isso, eu não uso."

Isso aqui [o celular] não é seguro mesmo quando está desligado. A nossa segurança é não deixar celular entrar aonde não deve entrar.
Lula, em entrevista

O mandatário ainda afirmou que ninguém pode ligar para ele às 13h porque é o seu horário de almoço. Ele comentou que também não deseja receber ligações enquanto está no banheiro ou após às 21h.

Não adianta o cara me falar: 'Presidente, o senhor está sabendo que tal jornal vai fazer uma matéria contra você?'. Faça. Eu não vou pedir para não fazer. Faça. Sabe, 23h [e uma pessoa diz]: 'presidente, o senhor sabe quem morreu?'. E daí? Por que eu quero saber que o cara morreu 11 horas da noite? Eu não vou poder fazer nada. Deixa para me ligar às 8h, sabe? Porque aí eu vou poder tratar, ir para o enterro.
Lula, em entrevista

Ele acrescentou que a esposa, a socióloga Rosângela da Silva, vive o dia inteiro no celular, afirmando, pouco tempo depois, sentir "pena das pessoas que passam o dia todo no telefone". Para o presidente, o uso excessivo de celulares é uma dependência, assim como a dependência química ou alcoólica.

Tem pessoas que não conseguem suspirar sem estar com o celular na mão. O cara levanta às seis horas da manhã com o celular na mão e tem gente que carrega três [aparelhos]. Tem gente que às onze horas da noite está com o celular, à meia-noite está com o celular, vai ao banheiro com o celular, sai do banheiro com o celular. Eu quero saber para que isso? Que bobagem e dependência é essa?

O Brasil está prestes a banir o uso de celular nas escolas. Um projeto de lei com alcance nacional, com votação no Congresso prevista para este ano, deve garantir essa proibição, que passaria a valer em 2025.

Lula foi entrevistado no programa PODK Liberados, dos senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF). Foi a segunda edição do programa, que entrevistou anteriormente o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). À colunista do UOL Letícia Casado nesta semana, o parlamentar negou conflito de interesses por manter um programa de entrevistas na rede aberta e ainda declarou ser "desrespeitoso" fazer questionamentos sobre o tema.

Queda no banheiro

O presidente caiu após cortar a unha em um banquinho no banheiro do Palácio em 19 de outubro. "Eu caí de onde eu nunca deveria ter caído", contou na entrevista, que teve trechos divulgados nesta semana.

"Foi uma batida muito forte, saiu muito sangue", relembrou. "Eu achei que eu tinha rachado o cérebro, rachado o casco, sabe? Eu fui direto para o Sírio-Libanês, fui direto. Eu achei que era uma coisa muito mais grave. A batida mexeu com o cérebro."

Neste domingo (10), o Hospital Sírio-Libanês informou a melhora nos exames de Lula. O presidente tinha sido orientado a não pegar voos após a queda, mas foi liberado pelos médicos após novos exames.

Mercado e Congresso também foram abordados

O Executivo vem sofrendo pressão do setor financeiro para que apresente corte no orçamento de 2026. Em julho, também sob pressão do mercado, a equipe econômica já anunciou o congelamento de R$ 15 bilhões em gastos para este ano e mais R$ 25,9 bilhões para 2025.

"Acho que o mercado age com uma certa hipocrisia, sabe, com uma contribuição muito grande da imprensa brasileira, para tentar criar confusão na cabeça da sociedade", afirmou. "Acontece que nós não podemos mais jogar, toda vez que você tem que cortar alguma coisa, em cima do ombro das pessoas mais necessitadas." Lula tem resistido a qualquer corte que impacte em programas básicos e sociais, e repete várias vezes que os programas sociais não são gastos, são investimentos.

Lula também reclamou do Congresso. Desde que passou a ser cobrado para diminuir despesas, a articulação política do governo tem tentado "dividir" o ônus com o Legislativo, que também apresenta resistência em cortar suas verbas. A decisão sobre aonde vai cortar é algo o mandatário não quer fazer.

Se eu fizer um corte de gasto para diminuir a capacidade de investimento do orçamento, a pergunta que eu faço é a seguinte: o Congresso vai aceitar reduzir as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal que eu vou fazer? Porque não é só tirar do orçamento do governo.
Lula, sobre corte de gastos

Ainda falta negociar com o Congresso. A proposta de corte de gastos deverá ser apresentada pelo Executivo em forma de PEC (Proposta de Emenda à Constituição), o que ainda cobra ao governo articulação para aprovação nas duas casas com o mínimo de perda possível. Haddad já começou as conversas, que devem se intensificar na próxima semana.

Petista disse esperar 'relação civilizada' com Trump

Ainda na entrevista, Lula, que é crítico ao norte-americano, afirmou não o conhecer pessoalmente, mas esperar uma relação "que trabalhe pela paz". "Eu não vou pensar o que pode acontecer de pior com a eleição de um presidente de um outro país. Eu conheço o Trump de ouvir dizer, de ler matéria dele, de vê-lo na televisão", disse, em entrevista para a RedeTV!, que foi gravada antes da vitória de Trump. Quando o resultado foi anunciado, Lula parabenizou Trump no X.

"Eu espero que a relação com o Brasil seja uma relação civilizada", afirmou o presidente. "Quando a gente tiver assunto para conversar, se conversa por telefone, se marca. Eu espero que seja essa relação", acrescentou, relembrando que teve boas relações tanto com presidentes democratas quanto com republicanos.

Essa é a relação que eu quero estabelecer, uma relação entre dois chefes de Estado, cada um representa o seu país, cada um tem interesses próprios nacionais. E eu espero que o Trump, veja, primeiro eu respeito muito as pessoas que são eleitas com resultado democrático. Ele foi eleito presidente dos Estados Unidos, ponto. Portanto, eu respeito o fato dele ter sido eleito pelo povo americano.
Lula, sobre relação com Trump

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