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Lula a favor do petróleo na Amazônia preocupa indígenas, diz Alessandra Munduruku

Liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, reconhecida com o Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2023 - Goldman Environmental Prize/Divulgação
Liderança indígena Alessandra Korap Munduruku, reconhecida com o Prêmio Goldman de Meio Ambiente de 2023 Imagem: Goldman Environmental Prize/Divulgação

11/11/2024 14h36

Alessandra Korap Munduruku, uma das mais reconhecidas ativistas indígenas do Brasil, disse que seu povo "fica preocupado quando o Lula é a favor do petróleo na Amazônia", em uma entrevista à AFP na qual também enviou mensagens para os líderes mundiais na COP29 e no G20.

"Não adianta querer demarcar algumas terras indígenas se está querendo aprovar petróleo na Amazônia", afirmou Korap por telefone durante uma visita a São Paulo, para onde viajou do Pará, seu estado natal, para conhecer um enorme mural artístico contra o desmatamento que traz uma imagem sua.

O governo do presidente Lula prevê avanços na exploração 'offshore' de parte da chamada Margem Equatorial, uma área marítima a 500 quilômetros da desembocadura oceânica do rio Amazonas, com reservas potenciais de 10 bilhões de barris de petróleo e investimentos previstos de quase 50 bilhões de dólares (288,85 bilhões de reais na cotação atual).

"A hora que começamos a explorar a chamada Margem Equatorial, eu acho que a gente vai dar um salto de qualidade extraordinária", declarou Lula em junho, enquanto o projeto está pendente de uma licença ambiental.

"Queremos fazer tudo legal, respeitando o meio ambiente, respeitando tudo. Mas nós não vamos jogar fora nenhuma oportunidade de fazer esse país crescer", avisou o petista.

Lula prometeu fazer do Brasil um país de referência na luta contra o aquecimento global e, por exemplo, o desmatamento na Amazônia Legal caiu 30,6% entre agosto de 2023 e julho de 2024.

Mas organizações de defesa do meio ambiente criticaram sua defesa do projeto petrolífero pelo possível impacto na biodiversidade da região, assim como para as atividades pesqueiras das quais dependem os povos locais.

Mensagem aos líderes globais

Korap, que recebeu, entre outros, o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos por sua luta contra o desmatamento e as atividades extrativas ilegais na Amazônia, afirmou à AFP que espera que os líderes mundiais que se reunirão na cúpula do G20, em 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, "escutem os povos indígenas".

"Como vão falar de sustentabilidade se não consultam aos povos indígenas, ao pescador que vive no dia a dia do rio?", questionou Korap, que pertence ao povo Munduruku, cuja população é estimada em cerca de 14.000 pessoas.

"Consultar não é reunião com uma ou duas lideranças, é com todo povo que vai ser afetado. O desenvolvimento que eles falam não envolve nossas crianças, nossa floresta", alertou.

A ativista, de 39 anos, disse que não deposita nenhuma expectativa na COP29, a conferência sobre mudanças climáticas das Nações Unidas, que começou nesta segunda-feira (11) no Azerbaijão, nem na COP30 de 2025, que ocorrerá no Pará, porque "vão ser 30 anos de COP e 30 anos que não tem solução".

Em vez disso, deixou um recado para os governos que discutirão, entre outras coisas, como equilibrar a economia extrativa com o cuidado ambiental: "Os povos indígenas não negociaremos nosso território".

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